Ele tentou colocar as pernas fora da cama, mas não conseguiu. Olhou-me, procurando algum estímulo.
— Não fique aí, deitado, se preocupando. A fisioterapeuta virá logo. Quando ela começar a cuidar de você, ficará espantado com a rapidez da sua recuperação. Estará andando dentro de pouco tempo.
— Não está me enganando?
Os olhos dele encontraram os meus. Paramos de falar. Depois de um momento eu me afastei, vendo que a Irmã se aproximava do leito dele e o olhava preocupada.
— Bem, senhor Larkham — ela disse depressa —, que tal estar deitado confortavelmente outra vez?
— Esquisito. Mas muito bom, Irmã. Posso me sentar?
— Vá com calma. A sua dor não vai desaparecer milagrosamente, você sabe. Deve começar os exercícios e o tratamento completo amanhã.
Virando-se para mim, ela disse sorrindo:
— Bem, enfermeira, há outros pacientes na enfermaria, sabia?
Entretanto, alguma coisa tinha acontecido comigo, enquanto Robert e eu nos olhamos. Como se, durante um breve momento, nós fôssemos as únicas pessoas do mundo. Saber que isso não era verdade perturbou-me. Tive de respirar fundo, enquanto caminhava apressada pela enfermaria, procurando voltar meus pensamentos para o próximo paciente da minha lista.
Dali em diante foi uma corrida contra o tempo. As visitas já estavam esperando no corredor, quando saí de meu plantão. De repente, uma moça aproximou-se de mim e colocou a mão em meu braço:
— Ei, enfermeira! Robert Larkham é paciente desta enfermaria?
Eu a olhei inteira antes de responder, porque qualquer pessoa que falasse comigo num tom tão autoritário era capaz de despertar minha fúria. A voz dela, na verdade, tivera um tom de pouco caso. Seu cabelo, cuidado por cabeleireiros caros, era louro, liso, e caía até os ombros. Estava com a cabeça bem erguida, enquanto falava comigo. Usava um conjunto de calça comprida bege, combinando com a bolsa marrom. Amarrara um lenço turquesa no pescoço e parecia muito confiante.
— Sim. Você o encontrará no quarto leito, à direita.
— Obrigada.
Ela virou as costas aos outros visitantes, muito segura de si. Eu diminuí o passo, ao vê-la entrar no corredor. Quem seria ela? Certamente não era a irmã dele, pois esta já fizera visita antes e hoje estaria lecionando. Bem, ele certamente teria garotas atraentes como esta. Por isso, eu não devia me preocupar sobre quem cuidaria dele, quando obtivesse alta.
É isso que ocorre quando você se deixa envolver em demasia, eu disse a mim mesma, firmemente. Era perigoso começar a indagar sobre sua vida particular. O melhor era eu pensar no meu encontro com Richard Gray, naquela noite. Na verdade, não tinha pensado…
Procurei afastar meus pensamentos do paciente e imaginar como seriam minhas horas fora do hospital. Queria conhecer Richard como pessoa, longe da enfermaria, pois em nenhum outro lugar do mundo existem tantos olhos nos observando. Além disso, há muito tempo eu não saía. Talvez aquela noite fosse exatamente o que eu estivesse precisando.
Pela janela, vi o carro vermelho dele, parado no portão. Eu ainda estava no quarto, terminando de pentear o cabelo. Meu coração bateu mais rápido. Passei um pouco de perfume e me olhei no espelho. Usava um vestido novo, de cor creme, suave e feminino, e um casaco comprado na liquidação de primavera. Era uma delícia não estar de uniforme. Senti-me completamente nova, quando passei pela porta, momentos mais tarde, feliz com a noite que teria pela frente.
Richard recebeu-me com um sorriso e abriu a porta do carro. Eu sabia que ele tinha notado meu vestido, pelo seu olhar de aprovação. Assim como eu também aprovei seu terno, muito elegante. Comecei sentir mais confiança em mim mesma. Agora eu ia partir para uma noite agradável com o médico mais bonito do hospital. Que também era extremamente gentil e atencioso.
Dentro de quarenta minutos estávamos na rodovia da Nova Floresta, descendo a montanha, indo em direção ao centro da cidade. Depois de deixar o carro no estacionamento, entramos no Jardim de Inverno. Havia muita gente, todos esperando o show começar. A peça foi ótima, uma comédia musical com atores que apreciávamos muito. Rimos juntos, saboreando cada momento.
Ao voltarmos para o carro, ele estava assoviando o tema musical da peça, enquanto segurava firmemente minha mão. No caminho de volta, conversamos sem parar, como fazem em geral as pessoas que têm o mesmo tipo de trabalho. Estávamos nos sentindo muito bem juntos.
Ele esperou até parar o carro, diante de minha casa, para então me beijar. Nos viramos um para o outro e nos aproximamos mais. Seus lábios encontraram os meus, gentilmente a princípio, depois com mais força e, de repente, o beijo tornou-se uma coisa séria, violenta, um prenúncio de posse total.
Fui eu que me afastei, assustada.
— Tenho de entrar, agora. Não posso chegar atrasada amanhã. Meus pais me esperam acordados… — disse, sentindo as mãos dele segurando o meu rosto, segurando-me, enquanto os seus olhos procuravam os meus.
— Foi uma noite adorável, Nicole. Gostei de todos os minutos. Vamos repeti-la?
— Eu também gostei. Sim, vamos repeti-la. Nossas mãos ainda se tocavam.
— Nicole…. É francês, não? Diferente… um nome bonito.
— Minha mãe é francesa. Meus avós ainda moram lá… Oh, não devo começar a falar outra vez. Boa-noite, obrigada por uma noite tão linda, Richard.
Ele se inclinou e abriu a porta. Saí e olhei-o, vendo seu amplo sorriso de boa-noite, muito suave, como se aquela fosse uma noite especial.
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Comments
Joelma Rocha
Fiquei meio desconfiada desse médico dr Richard🧐🧐🧐
2024-01-12
4
Rayssa
………………..
2023-09-15
0
Rayssa
…..
2023-09-15
0