Briga com o pai

O grito de Alberto Maciel ainda ecoava pelos corredores da casa, rompendo o silêncio elegante que sempre reinava ali.

— Você é uma ingrata, Ana! — a voz dele era firme, carregada de fúria e frustração. — Eu te arrumei um marido que vai bancar todos os seus luxos, e mesmo assim você consegue se sentir ofendida?

Ana estava parada diante dele. Os olhos marejados brilhavam — mas não era fraqueza. Era raiva. Uma raiva quente, pulsante, de quem finalmente decidiu não engolir mais nada.

— Perguntar se eu queria casar nem passou pela sua cabeça, né? — ela rebateu, a voz trêmula de nervoso. — Porque, claro, o que eu quero nunca teve importância!

Alberto Maciel, impecável em seu terno e em sua arrogância, girou o copo de uísque nas mãos, tentando recuperar o controle.

— Eu só estou tentando garantir o seu futuro! Você é uma menina mimada, foi criada para casar, sem rumo. E aquele homem é um bom partido!

Ana deu uma risada curta, amarga.

— Um bom partido? Criada para casar? Eu nem sei o nome completo dele, pai. O senhor quer que eu case com um estranho só porque ele tem dinheiro?

— Exatamente! — ele gritou, apontando o dedo para ela. — Dinheiro garante estabilidade. Amor, escolha, liberdade… tudo isso passa. O que fica é o conforto e a segurança de um bom casamento.

O estômago dela revirou. Quantas vezes ouvira isso sendo dito como verdade absoluta? Quantas vezes vira a mãe se calar para não enfrentar o temperamento explosivo dele?

Mas Ana não era a mãe e estava cansada de ser usada como moeda de troca.

— O senhor pode viver de aparências, mas eu não. — Ela levantou o queixo, firme. — Eu não vou casar com alguém só porque o senhor decidiu.

O copo bateu na mesa com um estalo seco.

— Então o que vai fazer? Vai sair por aí achando que é independente? Vai viver de quê, Ana? De ar e teimosia?

Ela respirou fundo, o coração martelando.

— Eu vou trabalhar.

A risada dele veio alta, cruel, como um tapa.

— Trabalhar? Você não sabe lavar uma calcinha, menina! Até o copo d’água que você bebe é outra pessoa que te dá na mão!

As palavras cortaram fundo, mas Ana não recuou.

— Pois eu vou provar para o senhor que não sou inútil. — A voz dela saiu firme, mesmo com o peito doendo.

— Ah, vai? Então vá! — ele abriu os braços, zombeteiro. — Vai... quero ver quanto tempo aguenta. Vai voltar pedindo perdão, eu aposto.

Ana olhou ao redor: os móveis caros, os quadros alinhados, o cheiro de cera e o perfume caro. Aquilo nunca foi lar — era uma prisão dourada.

Pegou a bolsa sobre o sofá, as mãos trêmulas, mas decididas.

— Eu não volto. — disse, quase num sussurro.

Quando subia as escadas passou por Helena, sua mãe, chorando.

— Ana, por favor... — ela tentou, mas a filha só a abraçou rápido, sem tempo para promessas vazias.

A voz do pai veio do andar de baixo, fria como gelo:

— Onde pensa que vai? Se quer ir embora, vá. Mas daqui não leva nada.

Ana parou.

— Quer que eu tire até a roupa que estou vestindo?

— Não… essa você pode levar. — ele respondeu com desprezo. — Mas a chave do seu precioso carro, deixa aí.

Ela olhou para o pai. Por um segundo, o medo bateu. E se ele tivesse razão?

Mas o orgulho venceu.

Abriu a bolsa, tirou a chave e jogou na direção dele.

O som metálico ecoou no chão.

Alberto não disse nada. Apenas pegou a chave, virou o rosto e entrou no escritório — como quem tenta controlar o orgulho atrás de um colo de uísque.

Ana passou pela porta principal, e o ar frio da noite bateu em seu rosto como um empurrão para o mundo real.

Por um instante, o medo quase a fez voltar.

Mas o som da porta se fechando atrás dela soou como liberdade.

Andou pela calçada de salto e coragem, o coração acelerado. Cada passo era uma lembrança do quanto vivia sob controle.

Mas, pela primeira vez, ela não olhou para trás.

Parou na esquina, pegou o celular e ligou.

— Oi, Maria Alice… — a voz dela saiu embargada. — Eu… eu preciso de um lugar para ficar.

Do outro lado, a amiga respondeu sem hesitar:

— Vem para cá, Ana. Cama eu arrumo, drama a gente resolve depois.

Ana riu, entre lágrimas.

Talvez fosse o primeiro passo de uma longa caminhada — e provavelmente tropeçaria muito. Mas pelo menos agora, cada tombo seria seu.

Enquanto esperava o táxi, observou as luzes da cidade e pensou no homem com quem o pai queria que ela se casasse — um estranho, símbolo de tudo que ela odiava naquele mundo de aparências.

— Nunca — sussurrou, firme. — Eu nunca vou ser mais uma boneca na estante, não vou viver como minha mãe.

O vento frio levou as palavras, mas dentro dela algo se firmava.

Raiva. Medo e um estranho e delicioso alívio.

A vida que ela conhecia acabou de libertou da gaiola dourada.

Mas a nova — a que realmente seria dela — estava só começando.

Agora era conseguir sobreviver e não voltar para o pai e para seu noivo, seja lá quem ele for.

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Comments

Dulce Gama

Dulce Gama

está muito boa a história estou adorando 👍👍👍👍👍❤️❤️❤️❤️❤️🎁🎁🎁🎁🎁🌹🌹🌹🌹🌹

2025-10-29

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