Capítulo 2

Tenho que servir?

 

Aquelas palavras caíram sobre ela como novo peso. Um tremor percorreu seu corpo. A cada passo no caminho até a mansão, uma ansiedade feroz apertava o peito, um ataque de pânico contorcia seus pensamentos, lembranças desconexas, o cheiro da lama, o sangue, a voz da mãe que não existia mais.

Respirou como se fosse tentar puxar ar com a última força que lhe restava.

Quando os portões da propriedade se abriram e a fachada da mansão surgiu, iluminada à distância, parecia um farol de riqueza e distanciamento. O interior era uma precisão calculada: móveis que não conheciam a mão do rústico, corredores amplos, que com olhares frios.

Stefano apareceu então, emergindo das sombras da sala como um colosso discreto. Seus olhos cruzaram os dela com a mesma frieza que cortara tantas vidas, uma avaliação imediata e sem remorso.

_ Vejo que sobreviveu àquela noite. __ Disse ele. A voz era baixa, cortante, e não havia nela qualquer traço de surpresa. Havia, porém, uma espécie de prazer contido — não na dor alheia, mas na constatação de que ele mantera o controle.

_ Bom pra você __ Stefano disse com certa satisfação, como quem acabou de ganha um certo trunfo.

Seline encolheu-se. Cada palavra sua parecia pesar um novo quilo. Stefano continuou, como quem dita uma sentença com elegância.

_ Qual o seu nome?

_ Seline __ Ela respondeu ofegante, como quem estava em uma corrida.

_ Agora você me deve.

_ Não ajudo pessoas fracassadas, a menos que tenham algo a me oferecer depois.

_ E você tem.

Houve um instante de silêncio, onde o relógio da mansão marcava segundos que se arrastavam. A podre garota tentou entender o significado daquelas palavras, mas nada se encaixava. Ela era sem-teto, uma jovem de seus 25 anos, sem instrução, uma figura desmembrada pela tragédia — o que poderia um homem como Stefano querer com ela?

_ Você me servirá

_ No que eu bem desejar.

A declaração não foi ameaça vazia nem promessa generosa. Era uma troca clara: vida por serviço, salvo-conduto por submissão. Ela, que tive a casa levada pela água e a família arrancada de sua vida, encarou o vazio interno que aquelas palavras abriram.

Sobrevivência custava. Sobrevivência exigia débitos. E ali, sob o brilho frio da mansão e o bater ininterrupto da chuva, ela percebeu que sua existência acabara de mudar de dono.

Enquanto Stefano recuava à sombra de seu império particular, a moça permaneceu estática, sentindo o eco da última frase como uma sentença. Ao redor, a chuva continuou a cair, implacável, contínua — e o vento soprava entre as colunas, como se a própria noite quisesse, também, demandar algo em troca.

_ O Servir?

_ Como assim?

_ Eu sou escrava dele agora!? __ murmurou Seline em pensamentos, enquanto o observava andar em passos não muito apressados a sua frente, saindo da sala enorme de sua mansão.

Não demora muito e ela ouve a voz de um dos seus funcionários a direcionando.

_ Vamos, irei levá-la ao quarto onde irá ficar. __ Sem saber o que dizer ou como reagir diante de tudo o que ouviu desde então, ela apenas o segue.

O corredor parecia não ter fim. O som dos passos dela, frágeis e inseguros, se misturava ao compasso firme do funcionário que a guiava.

Cada luminária embutida no teto projetava um clarão frio, revelando paredes cobertas por obras de arte que não lhe diziam nada, mas que carregavam a imponência de alguém que vivia rodeado de poder. Ela não ousava falar; ainda estava engasgada com as palavras de Stefano, e o coração batia acelerado como se tentasse escapar do peito.

O homem parou diante de uma grande porta dupla de madeira escura. As maçanetas douradas refletiam o brilho da luz, dando ao espaço uma aura quase sagrada. Ele empurrou uma das portas com um movimento calculado, abrindo espaço para que ela entrasse.

O quarto era amplo, imenso, quase maior do que toda a casa em que vivera antes. O chão era revestido por um tapete espesso, em tons de vinho profundo, que abafava qualquer ruído dos passos.

À frente, uma cama de dossel imponente dominava o espaço, coberta por lençóis de cetim em tonalidades marfim e travesseiros tão numerosos que pareciam inúteis. Sobre o criado-mudo, uma luminária de cristal lançava uma luz suave, amarelada, que contrastava com o clima gélido da mansão.

As cortinas, pesadas e longas, de veludo azul-escuro, cobriam janelas altas que quase alcançavam o teto.

No canto direito, havia uma penteadeira de madeira entalhada, com um espelho oval cercado por arabescos dourados. Sobre a superfície, perfumes, escovas e pequenos objetos estavam organizados de forma meticulosa, como se alguém tivesse preparado o espaço para a chegada dela — embora fosse impossível acreditar que Stefano se importaria com tal detalhe.

Mais ao fundo, um armário embutido se estendia de ponta a ponta da parede, com portas espelhadas que refletiam sua imagem trêmula. Ao lado, uma poltrona estofada em tecido claro, próxima a uma pequena mesa onde repousava uma bandeja de prata com uma jarra de água e duas taças de cristal.

Era um quarto luxuoso, digno de um palácio, mas o ar que pairava nele não era de acolhimento. Era como uma prisão dourada, um espaço belo e frio ao mesmo tempo, que parecia engolir sua fragilidade.

O funcionário se voltou para ela, a voz neutra, quase automática:

_ Este será o seu quarto. O senhor Stefano deseja que você descanse por hoje.

Ela apenas assentiu com um sorriso de leve, sem encontrar palavras.

O coração ainda martelava, e o eco da frase de Stefano — “Irá me servir, no que eu bem desejar” — queimava em sua mente como ferro em brasa. Ao atravessar a soleira, sentiu o peso invisível da porta fechando atrás de si.

Ali estava: sozinha, cercada de luxo, mas com a sensação sufocante de estar enjaulada em seda.

Logo cedo de manhã, tomou um banho no banheiro que tinha ali no quarto.

Na manhã seguinte, ainda sonolenta e com a mente pesada, ela empurrou a porta ao lado do quarto e se deparou com o banheiro. Era tão diferente de tudo o que já conhecera que, por um instante, ficou parada só observando. O espaço era amplo, revestido por mármore branco com veios dourados que brilhavam sob a luz suave de luminárias embutidas no teto.

Uma banheira de porcelana oval, com pés metálicos em forma de garras douradas, ocupava o centro, e ao lado havia um box de vidro transparente, de onde jorrava água quente como se viesse de uma pequena cachoeira. O vapor envolvia o ambiente em uma névoa leve, misturado ao perfume delicado dos sabonetes que repousavam em suportes prateados.

O chão era frio e polido, mas macio sob um tapete felpudo creme. Toalhas dobradas com perfeição estavam empilhadas em uma prateleira, cada uma parecendo mais macia que a outra. Ela retirou devagar as roupas simples que havia recebido no hospital — roupas que ainda carregavam memórias de dor e fraqueza — e entrou debaixo da água quente. Pela primeira vez desde a tragédia, sentiu o corpo relaxar.

Após o banho, envolveu-se em uma toalha grande e espessa, tão suave que quase parecia abraçá-la. Saiu do banheiro com passos cautelosos, olhando em volta, incerta do que deveria fazer. Precisava de roupas, mas não havia nada à vista, apenas a cama impecável e os móveis que mais pareciam peças de exposição.

Foi então que, explorando o quarto em silêncio, notou uma porta discreta, quase escondida ao lado do armário, Empurrou-a com curiosidade e encontrou um espaço que a deixou sem fôlego: um closet.

Era pequeno para os padrões da mansão, mas para ela parecia um universo. Cabides alinhados exibiam vestidos, camisas, calças, sapatos cuidadosamente organizados em prateleiras iluminadas. Perfumes e caixas decoradas ocupavam nichos nas paredes. Tudo ali parecia pertencer a alguém que vivera em outro mundo, muito distante da realidade simples que ela conhecia.

Os olhos dela se arregalaram. Nunca tinha visto algo assim, nem sabia que havia um nome para aquele lugar. Passou os dedos pelas roupas, maravilhada e assustada ao mesmo tempo, sentindo-se como uma intrusa em meio a um tesouro desconhecido.

Ela vestiu o que achou mais simples, um vestido preto simples de alças finas.

Logo alguém bateu na porta e um terror eminente tomou conta de Seline, o que ficou bem visível em seus olhos assustados que agora lacrimejam, olhando em direção a porta.

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Comments

Mariasilva1990 Silva

Mariasilva1990 Silva

e vamos para mas uma aventuraaa chamaaa bb

2025-10-07

0

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