Renascida Para Vingar Meu Destino: Promessa Selada no Tempo
A chuva caía pesada sobre as ruas estreitas e mal iluminadas, transformando o asfalto em espelhos quebrados que refletiam os postes antigos. Entre os becos encharcados, uma jovem de cabelos longos e desgrenhados caminhava descalça, com o vestido rasgado colando-se ao corpo pela umidade. Seus olhos, outrora cheios de esperança, agora eram apenas poços vazios de dor. Aquela era Serena Valente, a verdadeira herdeira da família mais poderosa da cidade — mas, para todos, não passava de uma mendiga esquecida.
Ela lembrava-se de cada detalhe de sua queda. Um ano antes, vivia no luxo da mansão dos Valente, sendo chamada de “senhorita” com todo o respeito que lhe cabia. Crescera acreditando ser amada por seus pais, respeitada por seu noivo e invejada por aqueles que a rodeavam. Mas a verdade fora cruel: nunca havia sido amada. Desde o momento em que fora “resgatada” e devolvida à família, sua vida não passara de um teatro. Seu noivo — o mesmo homem a quem entregou cada pedaço de sua alma — jamais a desejara. Ele pertencia à outra, à usurpadora que crescera em seu lugar.
Recordava-se das risadas abafadas que ouvira por trás de portas fechadas, dos olhares trocados que fingira não ver. Sua fé cega a tornara vulnerável. Amara com tanta intensidade que aceitara migalhas, acreditando que o futuro traria a recompensa. Em vez disso, trouxe a ruína. O noivo e a filha da babá — sua falsa substituta — tramaram juntos, derrubando seus pais dos negócios, arrancando-lhes a dignidade, expulsando-os da própria casa. Os Valente, outrora respeitados, foram humilhados em público, e Serena impotente, viu sua família se despedaçar como vidro no chão.
Agora, sem lar, sem pai nem mãe — mortos pela vergonha e pela falência —, ela vagava sozinha. Nenhum amigo se lembrara dela, nenhum aliado estendeu a mão. O homem a quem entregara sua vida desaparecera, vivendo feliz ao lado da falsa herdeira. Restava-lhe apenas a dor e a fome. Restava-lhe o vazio.
Os trovões ribombavam acima de sua cabeça quando suas pernas fraquejaram. Ela caiu de joelhos na calçada fria, os ossos batendo contra o chão duro. Sentiu o gosto metálico de sangue subir à boca. Suas mãos, trêmulas, procuraram apoio, mas não havia nada além da sujeira e da escuridão. A respiração saía em arfadas curtas, dolorosas. Cada suspiro era uma luta contra a morte.
Enquanto a vida se esvaía, lembranças a assaltaram com brutalidade. Viu-se ainda criança, correndo pelos corredores do orfanato, rindo ao lado de um menino de olhar sombrio e sorriso tímido. Ele era diferente dos outros: calado, reservado, mas com um coração ardente. Foi com ele que fez uma promessa inocente — a de que, quando crescessem, ficariam juntos, cuidariam um do outro. Mas o destino roubara essa promessa. Ele caíra doente, sumira por anos em um leito de hospital, e quando voltou a abrir os olhos, Serena já estava prometida a outro.
Seus lábios se moveram em um sussurro quase inaudível.
— Desculpe… eu quebrei nossa promessa…
As lágrimas se misturaram à chuva, e seu corpo começou a tombar para o lado. Mas antes que a escuridão a tomasse por completo, algo aconteceu. Uma presença. Um calor inesperado. Ela não podia ver, mas sabia. O homem de quem todos diziam ser frio e implacável, o filho ilegítimo de um magnata, havia a encontrado. Foi ele quem segurou seu corpo frágil, quem enxugou com mãos pesadas as lágrimas de sua pele pálida. Nos instantes finais, quando todos a abandonaram, ele a recolheu, como se fosse um tesouro quebrado.
Serena morreu nos braços dele.
Mas sua história não acabou ali.
Em espírito, ela permaneceu. Observou o velório miserável que lhe prepararam, vazio de flores, vazio de prantos sinceros. Apenas ele estava lá — o homem com quem compartilhara o passado esquecido, o amigo de infância que retornara tarde demais. E foi diante do caixão dela que ele se ergueu como um demônio vingador. Com olhos inflamados de fúria, destruiu cada traidor, um por um. A mansão que antes abrigara a falsa herdeira ardeu em chamas. O sangue dos culpados manchou o mármore frio. Ele vingou sua morte com uma brutalidade que arrepiava até mesmo sua alma errante.
E Serena viu tudo. Viu e chorou. Não porque lamentava o destino dos inimigos, mas porque compreendeu, tarde demais, que nunca estivera sozinha. Enquanto sacrificava tudo por um amor falso, havia alguém que a amava em silêncio, fiel à promessa feita na infância.
Naquele momento, enquanto as chamas consumiam a noite, sua alma encontrou um desejo feroz: se tivesse outra chance, faria tudo diferente.
E o destino, em sua crueldade caprichosa, a ouviu.
Quando seus olhos se abriram novamente, não havia chuva, nem frio, nem sangue. Havia o perfume adocicado de flores recém-colhidas, a claridade suave do amanhecer entrando pela janela e o som distante de sinos. O coração dela disparou. Reconhecia aquele quarto. Reconhecia aquelas paredes. Era a mansão dos Valente, em uma época em que nada havia ruído ainda. Correu até o espelho e se viu refletida: mais jovem, o rosto sem as marcas do sofrimento dos últimos anos.
A respiração lhe falhou. Serena Valente havia voltado.
O calendário sobre a mesa confirmou: faltava um ano para o dia de seu noivado. Um ano antes do início de sua ruína.
As mãos dela apertaram-se em punhos. O medo se misturava à determinação em sua garganta. Não, desta vez não se entregaria cegamente. Não sacrificaria sua vida por um amor que não existia. Não se curvaria aos falsos sorrisos de quem tramava contra sua família. E acima de tudo, não esqueceria daquele que havia chorado por ela, que vingara sua morte e que, agora, estava indefeso, preso a um leito de hospital.
— Eu vou mudar tudo — murmurou, com os olhos faiscando. — E vou manter nossa promessa, custe o que custar.
O som de passos ecoou do corredor. A porta se abriu, revelando a figura sorridente da falsa herdeira. Ela ainda não sabia o que o destino lhe reservava, mas Serena Valente, renascida de sua própria tragédia, já não era a mesma. Agora, era a verdadeira herdeira. E ninguém jamais a derrubaria novamente.
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Atualizado até capítulo 47
Comments
bete 💗
interessantíssimo ❤️❤️❤️❤️❤️
2025-09-11
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