O silêncio do carro era quase sufocante. Depois do noivado, meu avô me deixou sob os cuidados de Gael, como se quisesse que passássemos algum tempo sozinhos para “nos conhecermos melhor”. Eu mantinha os olhos na janela, observando as luzes da cidade passando rápido, mas, no fundo, cada detalhe daquela noite se repetia em minha mente como um eco: o olhar furioso de Adrian Castellani, suas palavras de desprezo, o choque geral dos convidados.
E, acima de tudo, o modo como Gael havia se posicionado. Ele não apenas me aceitara — ele me defendera.
Quando o carro parou diante da mansão Castellani, eu quase prendi a respiração. Era um palacete clássico, de linhas sóbrias e imponentes, iluminado por refletores que destacavam sua grandiosidade. Ao descer, Gael estendeu a mão, e por um momento percebi como ela era firme, quente, real.
— Entre — disse, em tom tranquilo, mas carregado de autoridade.
Atravessei o hall com passos hesitantes. O chão de mármore refletia a luz dos lustres, e nas paredes, retratos da família Castellani me encaravam como juízes silenciosos. Adrian também fazia parte daquela linhagem — e só de pensar nisso, meu estômago se revirava.
Gael conduziu a cadeira até a sala de estar. Acomodou-se diante de mim, com uma postura que, embora limitada pela cadeira de rodas, exalava poder. Seus olhos escuros estavam fixos em mim.
— Você enfrentou Adrian sem vacilar — começou ele, a voz baixa e firme. — Poucas pessoas ousam contrariá-lo em público.
— Poucas pessoas sabem o que ele realmente é — retruquei, com amargura.
Gael arqueou a sobrancelha, curioso.
— E você sabe?
Por um instante, temi ter falado demais. Apertei as mãos no colo, buscando manter a calma.
— Sei o suficiente. O bastante para entender que não devo confiar nele.
O silêncio se estendeu entre nós. Eu podia sentir o peso do olhar dele, como se tentasse arrancar de mim segredos que eu não estava pronta para revelar.
De repente, ele riu de leve, um som baixo e rouco.
— Você é mais interessante do que imaginei.
Eu desviei os olhos, incomodada com o modo como aquelas palavras mexeram comigo.
Naquela noite, antes de me recolher ao quarto de hóspedes, algo aconteceu que me deixou em alerta. Eu voltava do jardim, tentando me acalmar, quando ouvi um ruído vindo do corredor principal. A curiosidade me guiou, e, escondida atrás de uma coluna, vi Gael.
Ele estava sozinho, a cadeira de rodas encostada em uma mesa. E, diante dos meus olhos incrédulos, ele se levantou.
O movimento foi seguro, firme. Ele apoiou as mãos na mesa apenas por um instante, mas logo caminhou com passos decididos até a estante, onde mexeu em alguns documentos. Não havia tremor, não havia dor visível, não havia nada que lembrasse um inválido.
Meu coração disparou.
Ele não era deficiente.
Segurei a respiração, temendo ser descoberta. Mas Gael parecia alheio à minha presença, absorto em seus próprios pensamentos. Poucos minutos depois, retornou à cadeira e, como se nada tivesse acontecido, empurrou as rodas em direção ao escritório.
Voltei para meu quarto, os pensamentos em turbilhão. A cada batida do coração, a verdade se tornava mais clara: ele fingia. Fingira durante anos, talvez. Mas por quê?
Fechei os olhos e jurei para mim mesma: se quisesse sobreviver naquele jogo de poder e vingança, eu precisaria entender quem era, de fato, Gael Castellani.
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Atualizado até capítulo 45
Comments
Juliana Rocha
estou gostando muito da história
2025-09-09
1
bete 💗
amando ❤️❤️❤️❤️❤️
2025-09-10
0
Celia Regina
amando
2025-09-08
1