As manhãs em Paris sempre tiveram um gosto de eternidade para mim. Mas naquela, em especial, havia algo diferente no ar.
O café esfriava lentamente sobre a mesa da cozinha, enquanto eu olhava pela janela sem realmente ver a paisagem.
Desde a última conversa com Lupita, o mundo parecia andar em câmera lenta.
Cada minuto sem vê-la era uma batalha contra mim mesma.
Hamilton entrou no ambiente com um sorriso sereno, como se o universo ainda fosse simples.
— Você está distante outra vez
— disse, beijando meu rosto.
— Problemas na galeria?
— Não… nada que eu não consiga resolver
— respondi, desviando o olhar.
Mas dentro de mim, a verdade era outra: tudo estava desmoronando.
Eu estava apaixonada. Por alguém que não devia. Por alguém que nunca imaginei amar.
Por ela.
À tarde, não consegui resistir. Liguei para Lupita, e marcamos de nos encontrar no jardim escondido atrás da biblioteca velha da Rue Saint-Honoré
— um lugar onde as palavras pareciam proteger segredos.
Ela já estava lá quando cheguei, sentada no banco de pedra, envolta por uma luz dourada que escapava entre as árvores. Por um instante, hesitei.
Cada passo em sua direção era um desafio à minha própria moralidade.
Mas quando ela me viu, sorriu
— e todo o resto deixou de importar.
— Achei que não viria — disse ela, levantando-se.
— Eu tentei não vir — confessei. — Mas não consegui.
O silêncio que se seguiu foi quase sagrado. Caminhamos lado a lado pelos caminhos de pedra, nossas mãos quase se tocando, como se o universo nos provocasse com essa distância mínima e dolorosa.
— Eu não paro de pensar em você — disse Lupita de repente. — Tento trabalhar, ler, sair com amigos…
mas nada funciona. Tudo volta sempre para o mesmo lugar.
— Qual lugar? — perguntei, mesmo já sabendo a resposta.
— Você.
O mundo parou.
### Lupita
Ela estava tão perto que eu conseguia ouvir o som do seu coração. Diane tinha aquele olhar que misturava medo e desejo — como quem está prestes a pular de um penhasco, mas não consegue dar um passo atrás.
— Isso é errado — disse ela, a voz trêmula.
— Tudo isso.
— Então por que não vamos embora?
— sussurrei, me aproximando mais.
— Por que não me afasta?
Ela respirou fundo, e por um segundo achei que fugiria. Mas então, com delicadeza, sua mão tocou a minha. Um toque simples, mas que me incendiou por dentro.
— Porque não quero — respondeu.
Meu peito se apertou. Aquele toque era tudo que eu precisava para entender que, mesmo que o mundo inteiro desabasse, ela ainda estaria ali.
E quando nossas mãos se entrelaçaram por completo, foi como se o tempo deixasse de existir.
Caminhamos assim, juntas, até um canto mais afastado do jardim. Ninguém podia nos ver ali — apenas o vento, as folhas e o som distante da cidade.
Ela parou de repente, virou-se para mim e segurou meu rosto com delicadeza.
— Eu tenho medo, Lupita. Medo de machucar seu pai. Medo de te machucar. Medo de mim mesma.
— Eu também — confessei. — Mas ainda assim, estou aqui.
Nossos olhos se encontraram, e naquele instante não havia mais madrasta e enteada. Não havia mais certo ou errado.
Havia apenas duas mulheres rendidas a um sentimento que já não podia ser contido.
Então ela me beijou.
Foi um beijo suave, hesitante no início — como se pedisse permissão para existir. Mas logo ganhou coragem, tornando-se mais profundo, mais verdadeiro.
Senti suas mãos percorrerem meu rosto com carinho, e minha alma pareceu encontrar finalmente um lugar de descanso.
Quando nos separamos, ela manteve a testa encostada na minha.
— Isso muda tudo — sussurrou.
— Não… — respondi, sorrindo.
— Isso revela tudo.
### Diane
O beijo ainda queimava em meus lábios quando voltamos a caminhar pelo jardim. Era como se cada batida do meu coração repetisse o nome dela.
Lupita.
— Precisamos ser cuidadosas — falei, quebrando o silêncio. — Isso pode machucar muita gente se for descoberto.
— Então vamos ser — disse ela.
— Mas não me peça para esquecer.
Porque eu não consigo mais.
Essas palavras me atingiram com mais força do que qualquer acusação poderia. Não havia retorno.
O que tínhamos deixado florescer entre nós não era mais um desejo passageiro.
— era algo que já fazia parte do que éramos.
Nos despedimos com um último toque de mãos, uma promessa muda de que aquele seria apenas o começo.
Naquela noite, ao deitar ao lado de Hamilton, senti-me dividida em dois mundos. Ele dormia tranquilo, inconsciente da tempestade que se formava bem ao seu lado.
E eu, presa entre dois amores tão diferentes quanto impossíveis, percebi que o limite que eu tanto temia cruzar… talvez nunca tivesse existido.
Porque quando o amor decide nascer, ele não pergunta se é certo ou errado.
Ele simplesmente acontece.
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Atualizado até capítulo 61
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