Agora Meu Cheiro Favorito É o Seu
03
A casa de Mikhael não lembrava em nada o esconderijo da máfia. Do lado de fora, era discreta, mas por dentro o luxo e o conforto se misturavam em cada detalhe. Tapetes grossos, móveis de madeira escura, luz baixa que deixava o ambiente aconchegante.
Ele abriu a porta com calma, tirando o paletó e largando as chaves numa mesinha ao lado. O cheiro familiar invadiu suas narinas antes mesmo de ouvir as vozes.
Dante
— Até que enfim. — uma voz grave, imponente, ecoou da sala.
Era Dante, o alfa genuíno. Alto, corpo marcado por músculos e um olhar que sempre parecia medir tudo ao redor. Estava sentado no sofá, camisa meio aberta, uma taça de vinho na mão.
Logo atrás dele apareceu Adrian, o alfa recessivo. Traços mais delicados, cabelo caindo nos olhos e um sorriso suave nos lábios. Diferente do tom sério de Dante, ele parecia quase radiante só de ver Mikhael na porta.
Adrian
— Você demorou, amor. — Adrian disse, indo até ele e roubando um beijo rápido.
Mikhael soltou um suspiro satisfeito, puxando-o para perto por um instante.
Mikhael
— Negócios. Mas já acabou. Agora só tenho vocês dois.
Dante largou a taça e cruzou os braços, arqueando a sobrancelha.
Dante
— Negócios? Ou você tava se metendo em confusão de novo?
Mikhael riu baixo, caminhando até o sofá como quem não deve nada.
Mikhael
— Se fosse confusão, você já teria sentido o cheiro de sangue em mim, Dante. — jogou-se no estofado pesado, abrindo espaço entre eles. — Hoje só apareceu um imprevisto... um ômega meio morto na minha porta.
Adrian
Adrian arregalou os olhos, curioso.
— Um ômega? Como assim?
Mikhael fez um gesto com a mão, chamando Adrian para se sentar no seu colo. O alfa recessivo obedeceu sem pensar duas vezes, acomodando-se contra o peito dele.
Mikhael
— Nada demais. Mandei Rodrigo levar pro abrigo. Ele vai sobreviver... talvez.
Dante soltou um resmungo baixo, típico dele quando algo não cheirava certo.
Dante
— Você devia ter acabado com isso. Um estranho na nossa porta nunca é coincidência.
Mikhael
— Por isso mesmo — Mikhael respondeu, os olhos afiados como lâminas. — Quero respostas quando ele acordar.
Adrian olhou de um pro outro, como se tentasse aliviar o clima tenso.
Adrian
— Vocês dois só sabem falar de sangue e inimigos... — resmungou, rindo baixo. — Mikhael acabou de chegar, eu só queria ter ele inteiro hoje.
Mikhael mordeu de leve o pescoço dele, num gesto possessivo.
Mikhael
— E vai ter. — murmurou contra sua pele.
Dante se inclinou, pegando o que restava do vinho e encarando os dois. O olhar dele tinha um brilho de ciúmes, mas também de desejo.
Dante
— Então não me deixem de fora.
Mikhael ergueu um sorriso lento, selvagem, o típico de um alfa lúpus dominante.
Mikhael
— Eu nunca deixaria, marido.
Adrian
Você devia largar tudo mais cedo, Mikhael. Tá sempre chegando tarde demais.
Mikhael
puxando ele pelo queixo. — E quem ia manter vocês dois no luxo, hm? Quer viver de vento, amor?
Adrian
Se for no seu colo, eu vivo até de vento.
Dante bufou, tomando outro gole de vinho.
Dante
Que ridículo… parece um filhote grudado na mãe.
Adrian
Ah, claro, fala o grandão que fica emburrado se Mikhael não deita do lado dele.
Adrian
rindo alto — Totalmente. Você cruza os braços e faz aquela cara de estátua, mas fica esperando ele se jogar em cima de você.
Mikhael
Verdade, Dante. Você tenta enganar, mas eu conheço seu cheiro de ciúmes de longe.
Dante virou o rosto, mas os lábios tremeram num quase sorriso.
Dante
Não é ciúme, é desconfiança. Diferente.
Adrian
Desconfiança da minha bunda sentada no colo dele? Porque é só isso que tá acontecendo.
Mikhael
Não provoca, Adrian.
Adrian se ajeitou ainda mais no colo de Mikhael, de propósito, e lançou um olhar debochado para Dante.
Adrian
O que foi? Quer trocar de lugar comigo?
Dante
Não preciso disputar espaço.
Adrian
Disputa sim, só não admite.
Mikhael passou a mão no cabelo de Adrian e olhou para Dante.
Mikhael
Vem cá, lobo. Ficar de longe resmungando não é a sua cara.
Dante demorou, mas acabou levantando. Se jogou no sofá, de lado, ficando perto dos dois.
Adrian
Aí, viu? Não aguentou cinco minutos longe.
Dante
Continua me cutucando que eu arranco esse dedo.
Adrian
Até ameaçando você é fofo, Dante.
Mikhael riu alto dessa vez, passando o braço pelos ombros dos dois.
Mikhael
Vocês brigam como dois adolescentes, mas eu gosto
Adrian
Claro que gosta, você adora ver a gente disputando sua atenção.
Dante
Ele gosta porque é um alfa mimado.
Adrian
É, sim. Finge que é todo chefe perigoso, mas chega em casa e quer colo, cafuné e beijo.
Mikhael
Vocês dois não cansam de me provocar, né?
Dante
Se você não gostasse, já tinha calado a gente.
Mikhael
Verdade… mas eu gosto de ouvir.
Adrian deu um beijo rápido no maxilar de Mikhael, sorrindo travesso.
Adrian
Então vai ouvindo: você devia tomar banho agora, porque tá cheirando a cigarro.
Mikhael
Você reclama, mas eu sei que adora sentir meu cheiro no travesseiro.
Dante aproveitou a deixa.
Dante
Ele adora sim. Ontem mesmo ficou abraçado no seu casaco quando você saiu.
Adrian
Cala a boca, Dante!
Mikhael gargalhou, puxando os dois ainda mais pra perto.
Mikhael
Meus dois maridos… um tentando esconder o quanto é carente, o outro fingindo que é duro. No fim, vocês são iguais.
Adrian
Eu sou mais legal.
Dante pegou a taça de novo, sem perder o tom sério.
Dante
Você é mais barulhento.
Adrian
Melhor barulhento do que um poste de concreto.
Dante
refiro ser poste do que palhaço.
Adrian
Palhaço não, príncipe encantado.
Mikhael já estava rindo demais, a cabeça jogada pra trás.
Mikhael
Eu devia gravar vocês dois discutindo. Ia ouvir todo dia antes de dormir.
Adrian
Quer dormir com risada ou comigo?
Mikhael
Com os dois. Sempre.
Por alguns segundos, ficou só o silêncio confortável. Dante, apesar do jeito sério, encostou de leve o ombro no de Mikhael. Adrian, como sempre, estava espalhado no colo dele, rindo baixinho.
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