Agora Meu Cheiro Favorito É o Seu
02
O mikhael fechou a pasta de papéis sobre a mesa, ajeitou o paletó e soltou a fumaça do charuto devagar. O olhar ainda estava no pequeno ômega encolhido no chão, mas sua mente parecia em outro lugar.
Mikhael levantou-se da poltrona, ajeitando o relógio no pulso.
Mikhael
— Leve esse ômega pra onde mando todos os que precisam de ajuda. Você sabe o lugar.
Rodrigo assentiu, já se abaixando pra pegar o garoto nos braços.
Rodrigo
— Sim, senhor. Vou cuidar disso.
Mikhael deu mais uma tragada no charuto e apagou a ponta no cinzeiro.
Mikhael
— Ótimo. Tenho um compromisso agora, não posso me atrasar. — ele parou, encarando o vigia com seriedade. — Com meus maridos, e você sabe que eles não gostam de esperar.
Rodrigo quase sorriu, mas apenas fez que não com a cabeça.
Mikhael virou-se, caminhando até a saída com passos firmes, enquanto Rodrigo ajeitava o corpo frágil do ômega. O menino abriu os olhos só um pouco, vendo a silhueta do homem indo embora. Por um instante, achou que aquele alfa enorme tivesse sido só um sonho.
Mas a voz de Mikhael soou uma última vez antes dele cruzar a porta:
Mikhael
— Se sobreviver... talvez eu mesmo vá querer algumas respostas desse pequeno.
E então, desapareceu pelo corredor.
Rodrigo caminhava rápido pelos corredores escuros, o ômega leve demais em seus braços. Ele olhava para os lados, garantindo que ninguém além dos homens de confiança do chefe o visse passar.
Desceu uma escada escondida atrás de uma porta de ferro, que dava para um túnel antigo. No fim dele, uma porta pesada de madeira. Rodrigo bateu três vezes, esperou e bateu mais duas.
A porta se abriu, revelando uma mulher olhar firme mas acolhedor.
Rafaela
— Outro, Rodrigo? — perguntou ela, arqueando a sobrancelha.
Rodrigo
— Ordem do chefe. — respondeu ele, entregando o garoto com cuidado. — Machucado, mas ainda respira.
Ela o pegou, com uma delicadeza que contrastava com o ambiente sombrio da máfia. Levou-o para dentro.
O lugar era diferente de tudo que o ômega esperava. Não era frio nem sujo. Pelo contrário: paredes claras, cheiro de ervas e pomadas, camas limpas alinhadas, e outros ômegas descansando em silêncio, alguns ainda com marcas de feridas, outros já sorrindo de leve.
A mulher o deitou numa cama, enquanto uma das jovens ajudantes trazia bacias de água morna.
Rafaela
— Qual o nome dele? — perguntou, olhando pra Rodrigo.
Rodrigo
— Não sei. Só sei que o chefe mandou deixar aqui.
Rafaela
— Elio, então. — murmurou, ajeitando o lençol sobre ele. — Fique tranquilo, vai ficar seguro aqui
Rodrigo ficou em pé na porta, observando. O garoto olhou pra ele, como se quisesse perguntar alguma coisa, mas não teve coragem.
Rodrigo
— Descansa, pequeno. O chefe vai querer te ver quando estiver melhor.
E saiu, trancando a porta atrás de si.
Elio fechou os olhos, sentindo pela primeira vez em muito tempo que talvez não fosse morrer naquela noite.
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