Acordei antes do sol nascer, como de costume. O corpo inteiro doía. Cada movimento era como se agulhas me atravessassem a pele. Meus braços, minhas pernas, minhas costelas… tudo estava coberto por hematomas de cores diferentes: alguns arroxeados, outros vermelhos intensos, e ainda aqueles que já começavam a amarelar, como lembranças antigas que nunca desapareciam.
Eu me olhei no espelho pequeno e trincado do quarto. A imagem que vi me partiu o coração.
Minha pele, que antes parecia tão delicada, estava agora marcada por violência. O rosto tinha um corte no canto da boca, resultado da surra de ontem. Os olhos inchados, as bochechas manchadas de roxo. Meu corpo parecia um mapa de dores.
*(Pensamento de Isabella)*
“Será que um dia vou poder olhar no espelho e não sentir vergonha? Será que algum dia vou ser livre disso tudo? Eu só queria ser normal… só queria viver…”
Suspirei fundo e fui até a cozinha. Precisava preparar o café antes que minha tia acordasse. Caso contrário, haveria ainda mais punição.
Mas não demorou muito para que a tempestade chegasse.
Minha prima, Valentina, apareceu. Seus olhos sempre brilhavam de ódio quando me olhava, como se eu tivesse roubado algo dela apenas por existir.
— O que você tá fazendo aí? — disse, ríspida. — Anda logo, inútil!
Não respondi. Sabia que se falasse, seria pior. Apenas continuei mexendo no café.
Mas isso não foi suficiente. Ela se aproximou, me puxou pelo braço e me jogou contra a parede.
— Você me irrita só de respirar! — gritou, antes de começar a me espancar.
Os socos e chutes vieram em sequência. Eu tentei me proteger, cobrindo o rosto com os braços, mas ela parecia furiosa demais para parar. Senti a pele rasgar no cotovelo, o gosto de sangue na boca, o ar fugindo dos pulmões quando um chute acertou minhas costelas.
*(Pensamento de Isabella)*
“Não… não de novo… por favor…”
Minhas lágrimas escorriam silenciosas. Eu nunca chorava alto. Já aprendera que o silêncio era minha única defesa.
Aurora tentou intervir, como sempre fazia.
— Para, Valentina! Você vai machucá-la mais ainda!
— Cala a boca, Aurora! — rosnou Valentina, empurrando-a para longe. — Essa lixo merece cada marca que tem no corpo!
Depois de minutos que pareceram horas, ela finalmente me deixou caída no chão, arfando, com o corpo inteiro queimando de dor. Aurora correu até mim, me levantando com cuidado.
— Isabella… meu Deus, olha pra você… — ela chorava, enquanto passava as mãos delicadas pelo meu rosto machucado. — Por que ela faz isso? Por quê?
Eu não consegui responder. Apenas encostei a cabeça em seu ombro e deixei mais lágrimas caírem.
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### A Chegada Brutal
Não tive tempo de me recuperar. Algumas horas depois, meu tio Alberto entrou no quarto. O cheiro de álcool vinha junto com ele. Seu olhar estava mais sombrio que de costume.
— Levanta. — disse, frio. — Agora.
Tentei entender o motivo, mas não houve explicação. Ele me puxou com brutalidade, segurando meu braço já dolorido.
— Tio… por favor… — murmurei, tentando não desabar.
Mas ele não ouviu. Me arrastou pela casa, ignorando os protestos de Aurora, que chorava e implorava para que ele me deixasse em paz.
Do lado de fora, o carro já aguardava. Entrei sem escolha, sendo empurrada como um saco de lixo. Durante o caminho, tentei imaginar para onde estava me levando, mas o medo era tão grande que mal consegui pensar.
Foi só quando chegamos diante de um prédio imponente, com seguranças armados na entrada, que percebi que não era um lugar comum. Havia algo diferente, perigoso.
Meu coração disparou.
*(Pensamento de Isabella)*
“O que está acontecendo? Por que ele me trouxe aqui? Para onde… para onde ele está me levando?”
Dentro do prédio, o horror só aumentou. Ele não me conduzia com cuidado. Não. Me arrastava pelos cabelos, sem se importar com os gritos de dor que eu soltava. Cada puxão arrancava lágrimas e me fazia tropeçar.
— Anda, desgraçada! — gritava ele. — Hoje você vai servir para alguma coisa!
Eu não entendia. Só sentia o medo crescer.
Quando chegamos diante de uma porta enorme, dois seguranças abriram passagem. Meu tio entrou sem cerimônia, e me jogou no chão com força. Minha pele ardeu quando bati contra o piso frio.
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### A Sala do Conselho – Olhares dos De Luca
Do outro lado, a família De Luca já aguardava.
**Antônio**, o patriarca, sentado na cabeceira, mantinha o semblante sério. Seus olhos experientes observavam tudo com frieza, como se cada movimento fosse calculado.
**Isabel**, sua esposa, permanecia ao lado, silenciosa, mas com um olhar que parecia atravessar a alma de quem ousasse encará-la.
**Matheo**, recostado de forma displicente, sorria com aquele ar debochado, sempre pronto para transformar a dor alheia em entretenimento.
E **Lorenzo**, o herdeiro, permanecia rígido, as mãos entrelaçadas sobre a mesa. Seus olhos escuros, penetrantes, observavam a porta se abrir.
*(Pensamento de Lorenzo)*
“O Moretti está atrasado… espero que tenha vindo com algo de valor. Palavras já não me interessam.”
Quando Alberto entrou arrastando Isabella, todos os olhares se voltaram.
Lorenzo franziu o cenho.
*(Pensamento de Lorenzo)*
“O que é isso? Ele ousa trazer uma mulher até aqui? Machucada… quebrada… como um animal? Que tipo de homem é esse?”
Matheo soltou uma risada baixa.
*(Pensamento de Matheo)*
“Bem, bem… parece que o Moretti trouxe um presente inesperado. E que presente bonito, apesar de destruído. Será que ele pretende negociar com isso?”
Isabel estreitou os olhos.
*(Pensamento de Isabel)*
“Uma jovem… tão maltratada… O que será que esse covarde pretende?”
Antônio bateu os dedos na mesa, chamando atenção.
— Moretti. — disse, firme. — Explique. Agora.
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### Isabella – No Chão do Conselho
Eu estava caída no chão, tentando respirar. Meu corpo gritava de dor. Senti os olhares sobre mim, pesados, penetrantes.
Levantei o rosto devagar, revelando meus olhos marejados, meus lábios inchados e partidos, o rosto coberto de hematomas. Meus cabelos estavam emaranhados pela violência do puxão, e minha roupa simples mal cobria os arranhões e cicatrizes espalhadas pelo corpo.
Nunca me senti tão exposta. Tão humilhada.
*(Pensamento de Isabella)*
“Por favor… alguém… me tire daqui… eu não aguento mais…”
Meu tio falou por mim, com a voz trêmula.
— Senhores De Luca… eu… eu não tenho como pagar… mas trouxe minha sobrinha. Ela… ela pode servir… de alguma forma…
O silêncio que se seguiu foi mortal.
Lorenzo arregalou levemente os olhos, mas não deixou a surpresa transparecer por completo.
*(Pensamento de Lorenzo)*
“Ele ousa… oferecer sangue da própria família? E uma garota… nessa condição? Que tipo de verme faz isso?”
Antônio manteve-se impassível, mas seus olhos revelavam desaprovação.
Matheo, por outro lado, parecia se divertir.
Isabel observava atentamente cada detalhe do meu rosto, como se tentasse decifrar minha alma.
Eu apenas tremia, encolhida no chão, rezando para desaparecer.
O silêncio da sala era tão pesado que parecia que o ar tinha sido sugado para fora. Eu ainda estava caída no chão, os joelhos tremendo, o rosto queimando sob os olhares atentos daqueles homens e daquela mulher que pareciam donos do mundo.
Meu tio, com a voz falha, se apressou em falar:
— Senhores De Luca, eu… eu sei que minha dívida é grande, e sei também que não consegui cumprir o prazo. Mas… trouxe minha sobrinha… ela pode ser útil… servir a vocês…
Os olhos do patriarca, Antônio De Luca, se estreitaram.
— Está me dizendo, Moretti, que ousa trazer uma garota espancada, sua própria sobrinha, como pagamento? — sua voz soou baixa, mas carregada de um peso que fez meu coração disparar ainda mais.
Meu tio abaixou a cabeça.
— Eu não tenho mais nada! — sua voz saiu quase em súplica. — Essa inútil não serve para nada… ao menos aqui pode valer de alguma coisa!
As palavras doeram mais do que qualquer chute ou soco que já tinha levado. Senti as lágrimas escorrerem pelo rosto marcado, mas mantive o silêncio.
Matheo recostou-se mais ainda na cadeira, um sorriso de deboche surgindo em seus lábios.
*(Pensamento de Matheo)*
“Que cena patética… um homem vendendo a própria sobrinha para salvar a própria pele. E ainda por cima, ela… tão quebrada, mas ao mesmo tempo… fascinante. Que olhos… cheios de dor. É quase divertido ver até onde chega a crueldade da família Moretti.”
Isabel, a mãe dos irmãos, não conseguiu esconder o olhar de desprezo dirigido a Alberto.
*(Pensamento de Isabel)*
“Que tipo de homem coloca sua honra nas costas de uma criança? Esse covarde não merece nem estar respirando.”
Antônio manteve-se imóvel, mas batia os dedos lentamente na mesa, um gesto que indicava impaciência.
— Sua dívida com esta família não pode ser paga com pedaços de carne, Moretti. — sua voz ecoou firme. — Você nos deve dinheiro. Negócios. Lealdade.
Meu tio começou a suar.
— Eu sei, senhor De Luca… mas eu não tenho nada além dela. Usem-na como quiserem…
Lorenzo finalmente quebrou o silêncio. Sua voz grave preencheu a sala como trovão.
— Cale a boca, Moretti.
Meu corpo estremeceu ao ouvir aquela voz. Não sei por quê, mas havia algo nela que me atravessou como lâmina.
Ele se levantou lentamente, seus movimentos controlados, predatórios. Aproximou-se até ficar a poucos passos de onde eu estava caída no chão.
Seus olhos escuros me encararam de cima, e eu senti como se ele pudesse ver além das minhas cicatrizes, além da dor. Como se lesse minha alma inteira.
*(Pensamento de Lorenzo)*
“O que você é? Uma vítima jogada ao vento… ou algo mais? Por que não grita? Não se debate? Só se encolhe em silêncio, como se já tivesse aceitado a dor como parte da vida… Isso não é normal. Isso… me intriga.”
Ele se abaixou um pouco, apoiando as mãos nos joelhos, e me olhou diretamente nos olhos.
Eu engoli em seco. Meu coração parecia querer escapar do peito.
— Qual é o seu nome? — perguntou, a voz grave, mas controlada.
Demorei alguns segundos, mas consegui responder, quase num sussurro:
— I-Isabella… Isabella Romano.
Um silêncio caiu novamente na sala. Matheo arqueou a sobrancelha, divertido. Isabel respirou fundo. Antônio observou com atenção.
Lorenzo, no entanto, apenas sustentou meu olhar.
*(Pensamento de Isabella)*
“Por que ele me olha assim? Não é como meu tio… não é como os outros. Seu olhar… é pesado, mas não de ódio. É como se… ele quisesse entender…”
Ele se ergueu novamente e virou-se para meu tio.
— Você é um verme, Moretti. — disse Lorenzo, a frieza em sua voz fazendo até os conselheiros estremecerem. — E está tentando empurrar sua podridão para nós.
— Eu… eu… — Alberto gaguejou, apavorado.
Antônio finalmente se levantou. Sua presença era imponente, quase sufocante.
— Vamos resolver sua dívida. Mas não agora, não aqui. — disse, firme. — Você ousou nos desrespeitar trazendo uma criança como moeda. Isso terá consequências.
O suor escorria pelo rosto do meu tio. Eu conseguia sentir o medo dele. Mas, pela primeira vez, não senti pena. Só dor… e talvez uma pequena chama de esperança, ao ver que, por mais que aqueles homens fossem cruéis, meu tio parecia ser pior ainda.
Lorenzo voltou a se sentar, mas seu olhar continuou fixo em mim.
*(Pensamento de Lorenzo)*
“Romano… Isabella Romano… vou me lembrar desse nome. Há algo em você, garota… algo que não sei o que é. Mas vou ---
*(Pensamentos de Lorenzo)*
“Ela não gritou. Nem quando caiu, nem quando o desgraçado do tio a jogou no chão como um fardo descartável. Qualquer outra garota estaria berrando, implorando, chorando alto. Ela não. Isabella Romano apenas… suportou. Como se estivesse acostumada.”
“Os olhos dela… são como vidro trincado. Frágeis, mas refletindo uma resistência estranha. Não consigo entender. É medo, sim. Mas não só medo. É como se, por trás daquela dor toda, houvesse algo mais. Algo escondido. Uma chama que insiste em não se apagar.”
“Moretti é um verme. Vender a própria sobrinha… covarde. Isso já diz muito sobre a vida que ela leva. Quanta dor essa garota já deve ter carregado? Quantas vezes deve ter sido jogada no chão antes de chegar aqui?”
“E mesmo assim… ainda está de pé por dentro. Eu vi nos olhos dela. Ela não está quebrada. Não totalmente. É como vidro estilhaçado que ainda reflete a luz.”
“Por que estou pensando nisso? Ela não significa nada. É só uma peça perdida que caiu em nossas mãos. Eu não deveria dar importância. Mas… não consigo ignorar. Isabella Romano. O nome ecoa na minha mente como um enigma.”
“Será que ela é apenas o que parece ser? Uma vítima indefesa? Ou será que, no meio da fraqueza, guarda uma força que nem ela mesma conhece?”
“Não sei… ainda. Mas vou descobrir. Eu sempre descubro.”
Lorenzo recostou-se novamente na cadeira, os olhos ainda fixos na garota caída no chão, respirando com dificuldade, marcada por hematomas, mas com aquela expressão silenciosa que o perturbava mais do que gostaria de admitir.
*(Pensamento final de Lorenzo)*
“Bem-vinda ao nosso mundo, Isabella Romano. Você ainda não sabe, mas sua presença já começou a mexer com ele… e comigo.”
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Atualizado até capítulo 45
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