A noite do baile chegou envolta em um misto de glamour e ansiedade. Desde cedo, o apartamento de Helena se transformou em um reduto de preparativos: cabeleireiros, maquiadores e estilistas circulavam pelo espaço com cabides, pincéis e recomendações.
Helena, sentada diante do espelho, tentava se manter calma. Observava cada pincelada, cada mecha de cabelo moldada em ondas discretas. O vestido azul profundo aguardava no cabide, imponente como uma armadura de seda.
No fundo, seu coração martelava com força.
Era impossível não se lembrar do ano anterior, quando comparecera ao mesmo baile pela última vez — ainda casada. Marcelo, o ex-marido, roubara olhares e cumprimentos, como sempre. Poucos meses depois, as fotos de sua traição circulariam pelas revistas, manchando não apenas a reputação dele, mas a dela.
Agora, Helena retornaria sozinha… ou quase.
Às oito da noite, a campainha tocou.
Gabriel estava diante da porta, vestindo um smoking negro de corte impecável, gravata borboleta perfeitamente ajustada. Ele parecia saído de um daqueles retratos antigos de cavalheiros que atravessaram a história com charme e sobriedade.
— Está pronta? — perguntou, com um sorriso contido.
Por um instante, Helena apenas o encarou. O nervosismo que sentira se dissipou como névoa diante do sol. Havia nele uma segurança tranquila que a fazia respirar fundo.
— Agora estou. — respondeu, deixando escapar um sorriso tímido.
O salão do Instituto Duarte, no centro de São Paulo, reluzia em dourado e cristal. Lustres imponentes pendiam do teto, espalhando uma luz cálida que refletia nos vestidos cintilantes e nos ternos de corte perfeito. O ar cheirava a rosas frescas e champagne.
Quando Helena entrou de braço dado com Gabriel, todos os olhares se voltaram para ela.
Houve um segundo de silêncio coletivo, seguido por cochichos discretos. Alguns rostos mostraram surpresa, outros curiosidade, e alguns — ela percebeu de imediato — carregavam um toque de desaprovação.
Mas Helena não vacilou. Segurou firme o braço de Gabriel e ergueu o queixo com a elegância de quem nascera para ocupar aquele espaço.
Gabriel, por sua vez, sustentava a postura com naturalidade. Não havia exagero em seus gestos, tampouco desconforto. Ele parecia pertencer àquele lugar tanto quanto ela.
— Impressionante. — murmurou ele, enquanto caminhavam pelo salão. — Você domina o espaço sem dizer uma palavra.
— É a única arma que me restou. — ela respondeu, sem desviar o olhar dos convidados.
Logo surgiram as primeiras abordagens. Empresários, socialites, jornalistas disfarçados de convidados. Todos queriam saber quem era o misterioso acompanhante de Helena Duarte.
— Este é Gabriel Moretti. — ela dizia, com um sorriso impecável. — Um advogado e velho amigo da família.
A cada apresentação, Gabriel confirmava a história com poucas palavras, sempre educado, seguro, sem cair em contradições. Helena percebeu que ele tinha o dom de olhar nos olhos das pessoas de forma direta, o que imediatamente desarmava a curiosidade excessiva.
Era exatamente o que ela precisava.
No entanto, algo começou a inquietá-la. A naturalidade de Gabriel não parecia ensaiada. Era como se, de fato, ele tivesse vivido naquele meio por toda a vida. Movia-se com graça, sabia quando falar e quando calar, quando sorrir e quando apenas ouvir.
E, o mais surpreendente: parecia genuinamente interessado em protegê-la.
Durante o jantar, sentaram-se lado a lado em uma das mesas principais. Helena ergueu a taça de champagne, mas percebeu que suas mãos tremiam levemente. Gabriel, sem dizer nada, pousou sua mão sobre a dela por um instante — gesto rápido, discreto, invisível aos demais.
O contato breve bastou para aquietar o turbilhão em seu peito.
— Está indo muito bem. — sussurrou ele, enquanto os demais conversavam animadamente.
Ela sorriu de leve.
— É fácil quando se tem um bom aliado.
O ápice da noite era sempre a abertura da pista de dança. Helena detestava dançar em público desde jovem, mas não havia como escapar. Todos esperavam que a anfitriã desse o primeiro passo.
Quando a orquestra começou a tocar os primeiros acordes de uma valsa, Gabriel levantou-se e estendeu a mão para ela.
— Posso? — perguntou, com aquela serenidade que já se tornara familiar.
Por um segundo, Helena hesitou. Mas, diante de tantos olhares, aceitou.
A cada giro, percebia que seus movimentos, guiados por Gabriel, eram suaves, quase naturais. Ele conduzia com firmeza, mas sem arrogância, ajustando-se ao ritmo dela, como se adivinhasse seus passos antes mesmo de acontecerem.
No meio da dança, seus olhos se encontraram. Por um instante, o salão inteiro pareceu desaparecer. Havia apenas os dois, movendo-se em harmonia, como se tivessem dançado juntos por anos.
Helena sentiu um calor estranho no peito. Não era paixão arrebatadora, nem desejo impensado. Era algo mais perigoso: era confiança.
E confiar, para ela, era o sentimento mais raro e precioso.
Quando a música terminou, os aplausos ecoaram pelo salão. Helena sorriu, mas seu coração ainda batia acelerado. Gabriel inclinou-se levemente e murmurou:
— Está brilhando, Helena.
Ela não respondeu. Não havia palavras para traduzir o que sentia.
Mais tarde, enquanto se afastava do salão para respirar alguns minutos no jardim iluminado por lanternas, foi surpreendida por Gabriel que a seguira discretamente.
— Achei que precisaria de um instante sozinha. — disse ele.
— Precisei. — ela admitiu. — É exaustivo sustentar esse papel.
Gabriel se aproximou, mas não invadiu seu espaço.
— Talvez porque não seja um papel. Talvez seja apenas você mostrando quem realmente é.
Helena o encarou, surpresa.
— E quem eu sou, então?
Ele a olhou com firmeza.
— Uma mulher que sobreviveu ao escândalo mais cruel e ainda assim está de pé. Uma mulher que, mesmo ferida, ainda tem coragem de enfrentar todos esses olhares.
As palavras atingiram Helena como uma revelação. Pela primeira vez em muito tempo, alguém a descrevera não como vítima, nem como milionária, mas como alguém forte.
Antes que pudesse responder, uma voz interrompeu:
— Helena! — Era Patrícia, uma velha conhecida do círculo social, acompanhada de outros convidados. — Precisamos de você para uma foto oficial.
Helena respirou fundo, recompôs o sorriso e voltou ao salão. Mas, ao dar o braço a Gabriel novamente, percebeu algo diferente.
Já não era apenas uma encenação.
Dentro dela, uma semente havia sido plantada — discreta, silenciosa, mas impossível de ignorar.
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Atualizado até capítulo 34
Comments
Therezinha Siqueira Aidar
INÍCIO do livro! vamos aguardar!!
2025-08-31
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Therezinha Siqueira Aidar
INÍCIO do livro! vamos aguardar!!
2025-08-31
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