O primeiro brinde

Narração: Amélia Grimaldi

As luzes do salão refletiam nos cristais, o som de taças se chocando se misturava ao burburinho de vozes importantes e à música clássica que preenchia o ar. Casamentos de famílias como a minha e a de Enrico nunca eram sobre amor. Eram tratados, alianças e demonstrações de poder.

Enquanto convidados brindavam e sorriam para nós, eu observava cada detalhe. Homens engravatados com olhares calculistas, mulheres sussurrando segredos como serpentes enfeitadas em vestidos caros. Todos esperando para ver como a herdeira dos Grimaldi e o novo Don Bellucci se comportariam como casal.

Foi então que senti a presença dele. Enrico se aproximou com passos firmes, terno negro impecável, camisa preta ajustada ao corpo e aqueles olhos verdes cravados em mim como lâminas silenciosas. Ele não sorriu. Não precisou. Sua simples aproximação já fazia o ar rarear.

Enrico: — Está gostando da festa, moglie?

Amélia: — Está exatamente como imaginei… uma vitrine para os lobos que fingem se abraçar enquanto contam quantos cortes podem dar pelas costas.

Os lábios dele se curvaram em um meio sorriso frio, o suficiente para provocar arrepios em qualquer um.

Enrico: — Não esperava menos da filha dos Grimaldi. Sagaz… venenosa. — Ele ergueu a taça, brindando comigo. — Mas cuidado, rainha… veneno demais costuma matar o próprio alquimista.

Amélia: — Só mata quem não sabe dosar. Eu sei exatamente até onde posso ir, Enrico.

O silêncio entre nós pesou, mas não foi desconforto. Foi uma batalha silenciosa, o primeiro duelo de dois impérios que agora dividiam o mesmo trono. Ao redor, os convidados riam, brindavam e comentavam, mas entre mim e Enrico, havia apenas fogo e aço.

Enrico: — Todos acreditam que hoje conquistei uma esposa. O que não sabem… é quem realmente está sendo conquistado aqui.

Amélia: — É verdade, Enrico. Eles não sabem.

E naquele instante, eu tive certeza: a guerra tinha começado.

A orquestra mudou a melodia, e o mestre de cerimônias anunciou a primeira dança dos recém-casados. Todos os olhares se voltaram para nós. O peso da expectativa era quase palpável queriam ver o casal perfeito, o símbolo da aliança entre duas famílias intocáveis.

Enrico estendeu a mão, o olhar fixo no meu. Um convite? Não. Uma ordem mascarada em cortesia. Eu sorri, deslizando minha mão sobre a dele, aceitando o jogo.

No centro do salão, os convidados formaram um círculo, esperando o espetáculo. A música começou suave, mas entre nós não havia suavidade. Havia guerra.

Enrico: — Não desvie os olhos, moglie. Eles querem ver devoção.

Amélia: — E vão ver, Enrico. Só não disse a quem pertençe minha devoção.

Ele me puxou pela cintura com firmeza, colando nossos corpos em perfeita sintonia, como se fossemos um casal apaixonado. O calor da mão dele queimava na minha pele através do tecido do vestido, um lembrete de quem acreditava estar no controle.

Enrico: — Você tem veneno na língua… mas não se esqueça de que quem guia a dança sou eu.

Amélia: — Talvez, por agora. Mas todo rei que subestima uma rainha acaba aprendendo tarde demais quem realmente move as peças.

Seus dedos apertaram minha cintura, como se minhas palavras tivessem cutucado seu orgulho. Ao redor, os flashes das câmeras disparavam, convidados suspiravam, acreditando ver romance. Mas cada passo era um duelo. Cada giro, um ataque disfarçado.

Quando a música chegou ao ápice, ele se inclinou, os lábios perigosamente próximos do meu ouvido.

Enrico: — Você vai descobrir, Amélia… que ser minha esposa é mais do que um título. É um campo minado.

Mantive o sorriso, mesmo sentindo a tensão percorrer meu corpo. Inclinei meu rosto de leve, sussurrando de volta:

Amélia: — E você vai descobrir, Enrico… que subestimar sua própria rainha pode ser o erro mais letal da sua vida.

A música terminou. O salão explodiu em aplausos. E nós, no centro de tudo, continuávamos sorrindo. Mas sabíamos: aquele não era o fim da dança. Era apenas o começo.

Após a dança, voltamos a circular pelo salão como o casal perfeito. Cumprimentos, sorrisos falsos, taças erguidas. Tudo encenação. Mas meus olhos não desgrudavam de Enrico. E os dele, dos meus.

Pouco depois, ele segurou meu braço com firmeza, conduzindo-me para um corredor lateral, longe da vista dos convidados. O silêncio da penumbra substituiu o burburinho da festa. Estávamos finalmente a sós.

Enrico: — Você dança bem. Quase conseguiu me convencer.

Amélia: — Convencer a quem, Enrico? Aos outros… ou a você mesmo?

Ele se aproximou, encurralando-me contra a parede de mármore. Os olhos verdes ardiam, perigosos, e por um instante senti o peso do predador que ele era.

Enrico: — Não confunda ousadia com poder, moglie. Você pode ser minha rainha… mas ainda assim está no meu tabuleiro.

Amélia: — Está enganado. Eu nunca fui peça de ninguém. Eu sou o tabuleiro inteiro, Enrico. E você só ainda não percebeu.

O silêncio que se seguiu foi sufocante. Nossos olhares se prenderam, eletrizados, como se uma batalha silenciosa fosse travada ali, naquela pequena distância entre nossos corpos.

Então, ele riu baixo, um som rouco que me fez estremecer. Aproximou-se até roçar os lábios no meu ouvido.

Enrico: — Vamos ver até onde consegue manter esse jogo, rainha. Eu não perdoo quem ousa desafiar meu reinado.

Amélia: — E eu não perdoo quem ousa me subestimar.

Ele se afastou, deixando-me ali, respirando fundo, ainda sentindo o calor da sua presença. Voltei ao salão pouco depois, com o sorriso impecável no rosto, como se nada tivesse acontecido.

Mas no fundo, eu sabia: a guerra entre rei e rainha já havia começado.

E no final… só um de nós venceria.

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Comments

Carolina Luz

Carolina Luz

eita que o jogo vai ser bom,toma lá e dá cá 🤗🫣

2025-08-29

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