O véu branco escondia a expressão da mulher que caminhava em direção ao altar.
Por fora, todos viam apenas a noiva perfeita, a filha obediente, o sacrifício feito em nome de uma aliança.
Por dentro, Amélia Grimaldi ardia em fúria.
Prometida desde criança a um homem que carregava sangue e poder nas mãos, ela sabia que aquele casamento não era sobre amor. Era sobre território, sobre controle, sobre transformar sua vida em moeda de troca.
Do outro lado, os olhos de Enrico Bellucci a esperavam. Frio. Implacável. O Don que não conhecia fraquezas.
Mas ele ainda não sabia o que todos aprenderiam cedo demais.
Amélia não nasceu para ser apenas uma esposa submissa.
Ela nasceu para reinar.
E naquela igreja, diante de votos manchados por sangue, nascia não só uma união, mas uma guerra silenciosa.
Entre poder, desejo e vingança, ela escolheria seu próprio destino.
O som grave do órgão ecoava pelas paredes da igreja, cada nota carregada pelo peso de um destino que não era seu.
Sob o véu branco, Amélia Grimaldi mantinha a cabeça erguida, ainda que o coração pulsasse como um tambor de guerra dentro do peito.
Todos os olhares estavam sobre ela: os aliados, os rivais, os traidores escondidos entre as fileiras. Cada passo em direção ao altar era um lembrete cruel de que sua vida havia sido vendida em nome da paz. Uma paz manchada de sangue.
Não era uma escolha.
Nunca fora.
Desde criança, fora preparada para aquele dia. Para ser a moeda de troca que uniria duas das famílias mais poderosas da Itália. O destino já estava traçado muito antes de ela ter voz, muito antes de ela aprender a lutar contra as correntes invisíveis que a prendiam.
Do outro lado, Enrico Bellucci a esperava. O Don. O homem mais temido de toda a costa. Alto, imponente, de olhar tão frio que poderia congelar o inferno. Seu terno negro contrastava com a luz dourada que atravessava os vitrais, e em seus lábios não havia traço de ternura.
Ele não sorria. Não precisava.
Seu silêncio bastava para que todos se curvassem.
Amélia, porém, não se curvaria.
Ela podia sentir o gosto amargo da humilhação, mas também o doce veneno da fúria queimando em suas veias. Não seria a esposa submissa que todos esperavam. Não seria a sombra de um homem que governava pelo medo.
Naquela igreja, entre promessas que não falavam de amor e votos que escondiam facas invisíveis, Amélia fez um juramento silencioso:
transformar sua prisão em seu trono.
E enquanto os sinos anunciavam o início de sua nova vida, ela compreendia uma verdade imutável — não bastava sobreviver naquele mundo.
Era preciso reinar.
E naquela noite, diante de inimigos mascarados de convidados, nascia não apenas uma esposa.
Nascia a futura Rainha da Máfia.
Os passos de Amélia ecoavam no chão de mármore como tiros abafados. Cada batida do salto soava como um lembrete cruel: ela não caminhava para um futuro escolhido, mas para uma sentença.
O olhar do pai, sentado na primeira fileira, não lhe trouxe conforto. Havia apenas frieza e orgulho — orgulho de ter usado a própria filha como arma política. O destino de Amélia nunca fora dela. Sempre pertencera à família Grimaldi.
Ela inspirou fundo, sentindo o perfume das flores que decoravam o altar. Lilases brancas. Paz disfarçada de beleza. Nada mais simbólico do que enfeitar a guerra com pétalas delicadas.
Quando finalmente seus olhos encontraram os de Enrico Bellucci, uma estranha sensação a percorreu. Ele não desviou. Não sorriu. Não ofereceu sequer uma centelha de humanidade.
Era como encarar o próprio destino.
Um destino de ferro, moldado pelo sangue e pela ambição.
A cada segundo, Amélia repetia para si mesma:
Eu não sou uma vítima. Eu não sou uma moeda de troca. Eu não serei esquecida na sombra dele.
Mas a realidade era impiedosa. No papel, naquele instante, ela não passava de uma noiva vendida. Um corpo vestido de branco para selar uma aliança. Uma rainha sem coroa… ainda.
— Jure aceitar esse homem como seu legítimo esposo, para honrar a paz entre as famílias? — a voz do padre soou como um trovão abafado.
Amélia ergueu o queixo. Sua garganta queimava, mas sua voz saiu firme, clara o suficiente para ecoar por toda a igreja:
— Juro.
As reações foram contidas, mas perceptíveis. Alguns aliados sorriram satisfeitos. Outros apenas suspiraram, aliviados por não haver sangue naquele dia. Mas apenas um homem — Enrico Bellucci — permaneceu imóvel, observando-a como se pudesse ler cada pensamento que ela escondia por trás do véu.
Ele se aproximou para segurar sua mão. O toque foi firme, dominador. Não havia delicadeza, apenas a marca silenciosa de um aviso:
Agora você me pertence.
Mas dentro dela, algo respondeu em silêncio:
Não, Enrico Bellucci. Quem vai dominar essa guerra sou eu.
E naquele instante, entre os sinos que anunciavam a união e os olhares que aguardavam o desfecho, nascia o primeiro ato de um império que não seria apenas governado pelo Don… mas pela mulher que aprenderia a ser temida tanto quanto ele.
Porque, em breve, todos entenderiam:
a máfia não se curva diante de reis. Ela se ajoelha perante uma Rainha.
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Atualizado até capítulo 55
Comments
Keila Mar
gostando muito da postura que ela está tendo, tomara que leve até o final
2025-09-01
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