Ar o clima de preocupação

--- Era final de tarde, e a luz dourada que entrava pela pequena janela já começava a sumir. A mãe de Helena colocava lenha na lareira enquanto Tomás, sentado no banco de madeira, descascava batatas com uma faca cega demais para o trabalho.
Pequeno Tomás
Pequeno Tomás
— Vai dar pra passar o inverno, mãe? — perguntou o menino, olhando para o balde quase vazio de legumes.
Mamãe Elisa
Mamãe Elisa
A mulher suspirou, mexendo no fogo. — Se a colheita tivesse sido melhor, talvez… Mas com a chuva atrasada e o imposto do barão, vamos ter que racionar.
Pequeno Tomás
Pequeno Tomás
Tomás franziu a testa. — E se faltar?
Mamãe Elisa
Mamãe Elisa
A mãe olhou de relance para o berço, onde Helena fingia estar completamente entretida com as próprias mãos. — Então rezamos para que a primavera chegue cedo.
Bebê Helena
Bebê Helena
Helena, por dentro, já calculava o tamanho do problema. Na outra vida, ela lidava com metas impossíveis, mas pelo menos ninguém morria de fome no escritório. Agora, a fome era uma possibilidade real — e não só pra ela.
Pequeno Tomás
Pequeno Tomás
O menino se aproximou do berço e sorriu. — Não se preocupe, Lena. Eu prometo que vou te proteger.
Bebê Helena
Bebê Helena
Ela o encarou, sem poder responder, mas sentiu algo apertar dentro do peito. Talvez essa fosse a primeira vez, em muito tempo, que alguém dizia isso para ela.
E talvez fosse a primeira promessa que ela realmente queria que fosse cumprida.
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--- A casa estava mergulhada no escuro. Só o crepitar da lareira quebrava o silêncio. A mãe dormia num colchão de palha, e Tomás estava enroscado numa manta fina, respirando pesado.
Bebê Helena
Bebê Helena
Helena, por outro lado, estava acordada.
O frio entrava pelas frestas da parede como dedos gelados, e ela não conseguia se entregar ao sono.
Foi então que ouviu.
Um som baixo, quase um sussurro, vindo de fora. Não era o vento — era ritmado, como passos leves sobre a neve.
Bebê Helena
Bebê Helena
Ela prendeu a respiração.
De repente, uma sombra passou diante da janela. Alta, esguia, e… rápida demais para ser uma pessoa comum.
Bebê Helena
Bebê Helena
Helena tentou se levantar, mas o corpo pequeno e fraco só permitiu que ela se virasse no berço.
O som parou. Silêncio absoluto.
Bebê Helena
Bebê Helena
Ela estava prestes a se convencer de que tinha imaginado tudo quando algo se aproximou da janela. Dois pontos brilhantes, como olhos refletindo a luz da lareira, a encararam.
Bebê Helena
Bebê Helena
Helena sentiu um arrepio percorrer seu corpo minúsculo.
O olhar não era humano.
E então, tão rápido quanto apareceu, a sombra sumiu.
Do lado de fora, no escuro, algo se movia entre as árvores.
Observando
Esperando
--- O dia amanheceu cinza, e o vento carregava um frio que parecia morder a pele. A mãe de Helena preparava um mingau ralo enquanto Tomás arrumava um cesto com lenha para levar até o galpão.
Mamãe Elisa
Mamãe Elisa
— Não se afaste muito — disse ela, sem tirar os olhos da panela. — Ontem à noite eu ouvi… coisas.
Pequeno Tomás
Pequeno Tomás
Tomás parou, curioso. — Coisas? Tipo lobos?
Mamãe Elisa
Mamãe Elisa
A mulher fechou a cara. — Eu preferia que fossem lobos.
Bebê Helena
Bebê Helena
Helena, deitada no berço, ficou atenta.
Mamãe Elisa
Mamãe Elisa
— A velha Marta disse que a neve trouxe de volta os Vigias da Floresta — continuou a mãe, baixando a voz, como se até as paredes pudessem ouvir. — Criaturas que passam pelas vilas quando o frio aperta. Procuram por crianças pequenas…
Pequeno Tomás
Pequeno Tomás
Tomás riu, tentando disfarçar o arrepio. — Histórias pra assustar.
Bebê Helena
Bebê Helena
Helena engoliu seco. Aquilo explicava os olhos que tinha visto na noite anterior. Não era imaginação. E, pela primeira vez, ela percebeu que nesse mundo, não bastava sobreviver ao inverno. Era preciso sobreviver ao que o inverno trazia.
--- A noite caiu mais cedo do que o normal. A lareira queimava preguiçosa e o ar estava tão gelado que a respiração virava fumaça dentro da casa. A mãe e Tomás dormiam, mas Helena mantinha os olhos abertos, esperando.
Ela sabia que a criatura voltaria.
E voltou.
A mesma sombra passou diante da janela, lenta dessa vez, como se tivesse certeza de que estava sendo observada. Os dois olhos brilhantes surgiram, e um leve baque soou na porta.
Do lado de fora, uma figura encapuzada entrou, seus pés não fazendo barulho algum sobre o chão de terra. Sob o capuz, Helena viu o contorno de um rosto quase humano, mas com olhos dourados que pareciam carregar séculos de memórias.
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Mensageira
Mensageira
— Então é verdade… — a voz soou baixa, melodiosa. — A reencarnada despertou.
Bebê Helena
Bebê Helena
Helena congelou.
Mensageira
Mensageira
A criatura se ajoelhou ao lado do berço, inclinando-se para ela. — A deusa me enviou para garantir que sua chegada foi segura. Há muito mais em jogo do que você imagina, pequena.
Bebê Helena
Bebê Helena
Ela tentou balbuciar, mas só um som infantil escapou.
Mensageira
Mensageira
— Não se preocupe — disse a criatura, como se pudesse ouvir seus pensamentos. — Sua hora virá. Até lá, permaneça oculta. Muitos… não ficariam felizes em saber que você voltou.
E, antes que Helena pudesse sequer processar, a figura se endireitou, desaparecendo na escuridão sem abrir a porta.
Quando o silêncio voltou, ela percebeu que não sabia se aquilo a deixava mais tranquila… ou mais assustada.

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