3. Desculpa, professorinha

Na sala da direção, Erick estava sentado junto com mais dois rapazes. Logo depois, Cris entrou.

— Já chegaram aí? Tá faltando um — disse Cris, olhando rápido para o grupo. — Vou buscar ele...

— Ei, não. Antes, Cris, me explica por que esses garotos estão aqui na minha sala? — perguntou Alana, cruzando os braços.

— Eles estavam planejando nos dar boas-vindas — respondeu Cris, abrindo a mão e mostrando as bombinhas.

— Sério? Começamos o primeiro dia bem... — disse Alana, com sarcasmo.

— Olha, vocês vão fazer o que? Me expulsar? — disse Erick, com um sorriso debochado. — Querem ficar com a culpa de me fazer, no futuro, virar delinquente?

— Não mesmo, querido. Você não vai virar. Você já é. Fazer isso na escola é um ato criminoso. Pode assustar as pessoas, causar pânico, e até mesmo acidentes, como pisoteamento — disse Alana, com o olhar duro e o dedo batendo na mesa.

— Faço todo ano e nunca aconteceu nada.

— Falou bem. Na minha direção, isso acabou — respondeu Alana, inclinando-se para frente e batendo o dedo indicador na mesa próxima ao corpo dele. — Estão ouvindo?

— Não precisa gritar — rebateu Erick.

Cris se aproximou do ouvido dele e sussurrou com voz baixa e firme:

— Se quiser ouvir o barulho da sirene no teu ouvido, é só me dizer. Você, de todos aqui, tem mais a perder... Eles são menores de idade, mas você não.

Erick engoliu seco e ficou calado.

"O que essa vaca sabe sobre mim?", pensou.

— Posso buscar o fujão, diretora? — perguntou Cris com calma.

— Sim, faça isso.

Cris andou pelo corredor e logo viu André, acompanhado pela professora Guilhermina.

— Achei você. Já para a sala da direção.

— Ele não vai. Não sem antes falar com a diretora sobre você — disse Guilhermina, firme.

— Sobre mim? — perguntou Cris, com um sorriso irônico.

— Sim. Você deu choque em um aluno. Isso é um absurdo.

— E você acreditou no que esse gordinho tetudo falou? — disse Cris, encarando André.

— Isso é fala de uma profissional? — retrucou Guilhermina, apertando o olhar.

— Desculpa, professorinha — respondeu Cris, com deboche. — Eu estou dizendo que ele está mentindo.

— Por que ele falaria isso?

— Porque peguei ele com bombinhas na escola. E não só isso: distribuindo para outros alunos. Então acredite, eles fariam de tudo para se safar, até usar lendas e fofocas sobre mim para não serem punidos.

— Você estava com bombinhas? Então, quando te perguntei no ano passado se teve a ver com o que houve na época, mentiu para mim? — perguntou Guilhermina, com voz triste.

André não disse nada.

— Veja, ele tem histórico de mentiras — reforçou Cris.

— Ele pode até ter mentido, mas vi nos olhos dele medo. E isso não tem como ser mentira — disse Guilhermina, encarando Cris.

— Eu ficaria, se fosse punida por vandalismo — respondeu Cris, aproximando o rosto e mantendo o olhar fixo.

Guilhermina não desviou o olhar.

— Isso não lhe dá direito de agredir um menor de idade.

— Nem todos são menores de idade. O tal do Erick já está fazendo faculdade aqui dentro. Tem 19 anos, não se forma e não deixa outros se formarem.

— Então admite ter dado um choque nele? — perguntou Guilhermina, com ironia.

— Apenas disse que nem todos são menores. Mas, se acha que fiz isso, prove.

As duas ficaram se encarando por alguns minutos, até o sinal tocar e quebrar o ímã invisível que a raiva criara entre elas.

— Eu não vou falar de novo: se André não comparecer imediatamente à direção, será desligado da escola — disse Cris, seca.

— André, é melhor você ir. E não se preocupa, vou ver o que posso fazer por você — disse Guilhermina.

— Pode não se meter no meu serviço e fazer o seu, que é dentro da sua sala de aula — respondeu Cris, gelada.

— Meu serviço vai além da sala de aula. Tenho responsabilidade com quem educo, e não vou deixar que uma pessoa totalmente descontrolada faça mal aos alunos.

— É por isso que eles são como são. Passam a mão em bandidos.

— Eles erraram, mas não são bandidos. O André é um bom garoto. Deve ter ido pela cabeça do Erick. O certo seria ajudar ele a entender os erros, e não punir com violência.

— Esse papo de paz mundial... Aqui é uma escola, não a ONU. E, em vez de cuidar do meu serviço, deveria cuidar da sua sala de aula.

— Eu não estou com aula agora. Na última aula, fico para ajudar no conteúdo programático de outros professores.

— Talvez isso mude. A diretora pode decidir isso.

— Mas isso é um dever da coordenação.

— E você é?

— Em partes, sim.

Alana apareceu no corredor, irritada.

— O menino já chegou na sala. Por que você não veio? E o que está fazendo conversando com a professora... Qual é seu nome mesmo?

— Guilhermina — respondeu, tentando se conter.

— Estava apenas pedindo informações de como usar a impressora — disse Cris, mentindo sobre o real motivo do bate-boca.

— Isso é importante? Temos que decidir o que faremos com os bandidos. Estou pensando em começar com força, expulsar todos — disse Alana.

— Por favor, não. Eles erraram, mas muitos alunos ali são bons. Só estão com más companhias — disse Guilhermina.

A diretora olhou para ela de cima a baixo, como se pensasse: "Quem é você para dizer o que faço?"

— Não te perguntei nada. Minha conversa é com Cris.

Cris sentiu a hostilidade e Guilhermina se sentiu esmagada. Tentava formular uma frase, quando Cris interveio:

— Não seria bem visto expulsar todos. Causaria um caos e não faria distinção de erros.

— Caos? — repetiu Alana, estreitando os olhos.

— Não vai querer mexer com vespeiro... Imagine mais e mais pais furiosos antes de reorganizar tudo isso. Puna-os com rigor, mas cada um de acordo com o que fez.

Alana olhou séria para Cris e depois para Guilhermina.

— Vocês estavam falando apenas da impressora mesmo? — perguntou, com tom de quem não acreditava totalmente.

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