Jensen Montserrat
O gosto do primeiro beijo ainda estava na minha boca. Doce, quente, profundo. Eu tinha esperado tanto por aquele momento que parecia um sonho. Mas não era. Era real. E minha esposa estava ao meu lado.
Minha esposa.
A palavra soava estranha depois de tanto tempo, mas o coração aceitava como se ela sempre tivesse sido minha. Caminhamos de braços dados para fora da igreja, sob uma chuva de pétalas de rosas brancas. Os convidados sorrindo, a música suave tocando ao fundo. Mas eu só via ela.
Mayra.
A forma como ela andava. O modo como desviava os olhos. Como mantinha as mãos entrelaçadas às minhas, mas com a palma levemente suada. Era nervosismo, claro. Ela era tímida, delicada. Eu sabia disso. E mesmo assim, havia algo... diferente.
Enquanto entrávamos no carro que nos levaria à recepção, meu olhar não saía dela nem por um segundo. O vestido colado ao corpo, o véu agora puxado para trás revelando cada traço do rosto dela. Linda. Incrivelmente linda. E minha mente já começava a criar imagens da nossa noite de núpcias. Minha respiração até acelerou com o pensamento.
A festa aconteceria em um salão fechado e elegante, anexo ao hotel onde passaríamos nossa primeira noite. Eu sabia que tudo havia sido planejado com cuidado, mas não conseguia pensar em decoração, comida, música… só nela. E no que viria depois.
No caminho, ela olhava pela janela, as mãos no colo, os dedos se torcendo levemente.
— Está com receio por hoje à noite? — perguntei, a voz baixa, gentil, tentando acalmá-la.
Ela me olhou. Foi a primeira vez desde o altar que encarou meus olhos de verdade. E havia algo ali. Uma confusão? Um medo sutil?
— Como assim, hoje à noite?
Eu não tive tempo de responder. A porta do carro foi aberta e minha mãe apareceu, animada como se fosse o próprio casamento dela.
— Ah, finalmente! Vamos, queridos! Já está na hora da dança dos noivos!
Mayra se ergueu rapidamente, quase aliviada por ter sido interrompida. Segurei sua mão com cuidado, guiando-a até o centro do salão.
A música começou. Uma melodia suave de piano preencheu o espaço tocando “A Thousand Years”. Pousei uma das mãos em sua cintura, a outra envolveu sua mão. Ela parecia feita sob medida para os meus braços.
Mas havia tensão ali. Senti seus músculos rígidos, o leve tremor nas costas. Os olhos fixos em algum ponto indefinido do salão.
Inclinei o rosto e beijei sua testa com carinho.
— Está tudo bem. — sussurrei — É novo pra mim também. Não precisa ter medo.
Ela não respondeu. Mas seus olhos brilharam com algo que eu não soube descrever. Durante a dança, tentei conduzi-la com leveza. Cada gesto meu era seguido de um pequeno sobressalto dela. Cada vez que meu polegar roçava sua pele, sentia seu corpo reagir com delicadeza e inquietação.
E por algum motivo… aquilo só aumentava minha vontade de protegê-la. E também de tê-la.
Ela era um misto de mulher e mistério. E eu me perdia na forma como mordia o lábio, como seus olhos fugiam dos meus, como suas bochechas coravam ao menor toque. Era tão diferente da mulher segura que conheci nos encontros. Tão… pura.
— Você está linda. — sussurrei, enquanto a rodava com delicadeza.
— Obrigada… — ela disse baixo, como se sua voz tivesse medo de ser ouvida.
Passamos a maior parte da festa sorrindo, cumprimentando convidados, tirando fotos e ouvindo conselhos sobre o casamento. Ela se portou com elegância, mas sempre com um quê de distância, como se cada ação fosse cuidadosamente pensada.
A última etapa se aproximava: o corte do bolo. Caminhamos até a mesa central decorada com flores brancas, talheres de prata e a torre de andares perfeitos coberta com glacê artesanal.
Segurei sua mão e a conduzi até a faca decorada. Ela sorriu de forma breve, forçada, mas seus dedos tremiam.
E eu apenas a observava… cada gesto, cada piscada, cada respiração que parecia ensaiada.
Segurei sua mão com delicadeza e juntos cortamos o bolo, sob os aplausos calorosos dos convidados. Era uma tradição simples, mas simbólica. Eu não queria apenas seguir o protocolo, queria memorizar cada gesto, cada expressão dela, guardar esse momento para sempre.
Peguei um pedaço pequeno do bolo, limpei a lateral com o garfo e levei até os lábios dela com cuidado. Ela hesitou por um segundo antes de abrir a boca e aceitar o gesto. Sorriu sem jeito. Fez o mesmo por mim. O garfo tremeu um pouco em seus dedos, e o pedaço veio maior do que o esperado. Mas ainda assim, eu aceitei com um sorriso.
— Está tão tímida hoje... — comentei, provocando — Que eu poderia jurar que é a primeira vez que estamos nos vendo.
Soltei uma risada leve e sincera. Esperava que ela risse comigo, mas não o fez. Ficou apenas olhando para mim com os olhos ligeiramente arregalados.
Abracei-a, puxando seu corpo delicado para mais perto do meu, e sussurrei em seu ouvido:
— Sei que está nervosa porque hoje é um dia muito importante nas nossas vidas. Fique tranquila, eu compreendo.
— Eu acho que não… — ela respondeu baixo.
Houve algo na entonação. Uma hesitação. Um sentimento oculto atrás das palavras. Me afastei levemente para olhar em seu rosto.
— Percebeu que sua voz está mais suave? É o nervosismo?
— O-o que? É... não sei. Talvez. — disse, tentando recuperar a naturalidade, mas estava clara a confusão nos olhos dela.
— Não importa. — sorri — Sua voz está linda assim também.
Ela sorriu, mas ainda sem jeito. Era como ver uma mulher inteira se desconstruindo por dentro e tentando manter a pose. Meu coração reagia como se quisesse protegê-la de qualquer coisa. Era um sentimento novo… e perigoso. Porque quanto mais eu a observava, mais me rendia.
— Olá, recém-casados.
A voz de Mayara Marshall me trouxe de volta ao momento. A mãe de Mayra se aproximava com aquele sorriso forçado que sempre me incomodou. Havia algo nela que eu nunca soube falar em voz alta, mas que sempre me causava certo desconforto. Ainda assim, ela era a mãe da mulher que eu amava. Por isso, engoli meu incômodo.
— Oi, Mayara.
— Oi... mãe. — respondeu Mayra com uma voz quase trêmula.
Notei a mudança em sua postura. Seu corpo enrijeceu. A respiração pareceu hesitar. E o modo como ela disse "mãe"... como se a palavra pesasse demais em sua boca.
Mayara nos olhou como se soubesse exatamente o que estava fazendo.
— Vim para me despedir de vocês. Sei que a qualquer momento vão escapar para a lua de mel.
Minha esposa levou a taça de champanhe aos lábios e, ao ouvir a frase, engasgou.
— Amor… calma. Respira com calma. — disse, colocando a mão em suas costas.
Ela tossia enquanto olhava para a mãe com um olhar desesperado. Mayara se aproximou ainda mais, inclinando o rosto com uma ternura estranha evidente:
— Tenha paciência com a minha filha hoje à noite, meu genro. Acho que deve saber que ela não tem... experiência na vida a dois.
O olhar dela dizia mais do que a boca. Mas fingi não notar. Mantenho o respeito. O controle.
— Não se preocupe com nada. Sei o que estou fazendo. — respondi — E vou fazê-la feliz.
Ela sorriu, satisfeita.
— Só uma coisinha antes de eu ir embora… posso me mudar para a sua mansão hoje à noite? Como sabe, minha filha te pediu para me deixar morar com vocês depois do casamento.
— Eu sei. Foi por isso que ela me fez desistir do meu apartamento e comprar uma mansão. — Confirmei com tranquilidade — É claro que pode ir, mas nós dois não voltaremos pra casa pelos próximos dias. Então fique à vontade.
— Sem dúvidas ficarei, meu genro. — Ela tocou meu ombro e sorriu antes de se virar e sair.
Observei minha esposa. Ela estava pálida. Imóvel. Os olhos fixos num ponto qualquer. Parecia em choque.
Eu ainda não entendia o motivo.
Mas tinha certeza de uma coisa: algo nela... não estava certo.
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Atualizado até capítulo 41
Comments
Damares🧚🍃
a Mavis tá lascada um homem desse dando sopa .... vai ser difícil se conter 🤭
Não basta o casamento, ainda tem que aturar a mãe 😒
2025-08-14
5
Maria Cristina Mello Francisco
Acho que antes dele descobrir ela tinha que falar com ele e contar a verdade ele já notou que ela está diferente
2025-08-13
2
Vilma Teixeira Roquete
Tomara que ela conte tudo pra ele....que mulher gananciosa, acho que Mayra vai aparecer daqui um tempo.
2025-08-15
1