Zoe Moreau
O convite chegou ao meio-dia.Simples, direto, irrecusável como tudo que vinha de Rafael Marcenko.
Jantar. 20h. La Belle Écorce. Sala Privée.
Vista vermelho.
— R.M.
Idiota.
Mas eu fui.
Às vinte em ponto, entrei no restaurante mais exclusivo de Paris, onde nada é listado no cardápio e tudo tem preço de alma.Meus cabelos estavam soltos, caindo como ondas douradas até o meio das costas. O vestido vermelho delineava meu corpo com precisão ousado, mas não vulgar. Um batom na mesma tonalidade.Perigo em forma de mulher.
Os seguranças me reconheceram. Um deles apenas assentiu com a cabeça, conduzindo-me até uma porta lateral.Ali, numa sala privada com luzes suaves e cheiro de madeira e vinho caro, Rafael Marcenko estava sentado à cabeceira da mesa.
De terno escuro, camisa preta e sem gravata, ele parecia saído de uma campanha de luxo exceto pelos olhos.Verde escuros, insuportavelmente atentos.Ele não apenas olhava.Ele examinava.
Rafael (se levantando, a voz baixa): — Vermelho te te caí bem ..
Zoe (cruzando os braços, fria): — Me chama aqui, me dá ordens, e ainda espera elogios?
Rafael (sorrindo de canto): — Só esperava que viesse.
Sentei sem dizer mais nada.Ele serviu o vinho. Nenhuma palavra foi dita nos primeiros minutos.
Silêncio e tensão preenchiam cada espaço entre nós. Até que resolvi quebrar.
Zoe: — Por que eu?
Ele ergueu os olhos devagar, como se já esperasse a pergunta.
Rafael: — Porque você desapareceu por sete anos… e quando voltou, todos começaram a sussurrar seu nome como se fosse uma lenda.
E eu não gosto de lendas que não controlo.
Zoe: — Isso é obsessão ou ameaça?
Rafael: — É curiosidade… E sede.
Minha mão segurou firme a taça. Ele não me assustava mas o jeito como falava, como se já soubesse como me desmontar, me deixava inquieta.
Zoe: — Não costumo me vender, Marcenko.
Rafael: — Eu não estou comprando você, Zoe. Estou oferecendo uma aliança.Você sabe o valor que tem.E eu sei o que posso te dar em troca.
Zoe (encarando-o): — E o que seria isso?
Ele se inclinou sobre a mesa, seus olhos verdes brilhando sob a luz dourada do candelabro.
Rafael: — Proteção. Poder. E o controle da sua própria narrativa.Comigo, você será intocável.
Contra mim…Você já sabe como termina.
Engoli seco… Não por medo.Mas porque ele estava certo em uma coisa: com Rafael, eu teria tudo.Mas ao custo de mim mesma.
Zoe (fria): — E o que acontece depois de doze meses?
Rafael (sorrindo devagar): — Depois disso… veremos se você ainda quer ir embora.
O silêncio voltou a dominar por alguns segundos.
Joguei o vinho na boca com calma, saboreando mais o poder do silêncio do que o gosto da bebida.
Zoe: — Eu vou pensar.
Ele não disfarçou o sorriso satisfeito. Não de vitória.Era pior. Era aquele tipo de sorriso de quem sabe que você já entrou no jogo mesmo antes de dizer “sim”.
Rafael (recostando-se na cadeira): — Amanhã. Oito e meia da manhã.Na sede da Marcenko International.
Ergui as sobrancelhas, segurando a taça com os dedos frios.
Zoe: — Já marcando horário? Achei que ainda estava pensando…
Rafael (calmo, firme): — Quero que analise um contrato. Um negócio promissor envolvendo três países, alguns bilhões… e uma brecha perfeita para você ganhar muito mais do que com qualquer cliente atual.Incluindo influência e proteção.
Respirei fundo. Ele sabia exatamente como me cutucar.Ele não oferecia migalhas. Ele oferecia poder.
Zoe (com ironia contida): — E eu seria o quê? Uma fachada bonita para você mostrar ao mundo?
Rafael (a voz baixa, firme): — Não, Zoe.
Você seria uma arma.Afada ao meu lado.
Ou apontada para mim.E, francamente… prefiro a primeira opção.
O garçom entrou e serviu o prato principal. Não toquei na comida.Nem ele.
Tudo naquele jantar era um teatro cuidadosamente ensaiado e nenhum de nós estava pronto para sair de cena.
Zoe: — Você sempre manipula as pessoas assim?Com dinheiro, ameaças e convites sofisticados?
Rafael (sorri devagar): — Só quando elas valem o esforço.
O som do talher batendo no prato dele foi o único ruído por longos segundos.Enquanto eu o observava, sabia de uma coisa: Rafael Marcenko estava jogando.Mas eu também.
Zoe: — Estarei lá amanhã.
Rafael (sem hesitar): — Ótimo.Use preto. Combina com o que vamos discutir.
Levantei da cadeira com calma.
Minhas mãos estavam frias, mas firmes. O jantar não serviu comida. Serviu um aviso:
Rafael Marcenko não era só um CEO com um passado sujo.Ele era o tipo de homem que moldava o mundo ao redor da própria sombra.
Zoe: — Até amanhã, Marcenko.
Rafael (erguendo a taça em despedida): — Mal posso esperar.
Deixei o restaurante sem olhar para trás.
Do lado de fora, a noite parisiense estava viva. A brisa suave bagunçou uma mecha do meu cabelo enquanto o motorista me esperava. Entrei no carro com o corpo ereto, as pernas cruzadas e a mente fervendo.
Horas depois…
Minha cobertura no décimo andar estava em silêncio.Sentei no sofá de couro branco, ainda de vestido, com um copo de uísque nas mãos.
As páginas do contrato estavam sobre a mesa de centro.
Li tudo de novo.
Cláusula por cláusula.
Aquilo era um acordo entre monstros.
Mas monstros sabem reconhecer os próprios pares.
Zoe (em voz baixa): — Eu aceito… mas não do jeito dele.
Peguei meu celular e comecei a digitar uma mensagem.Seca. Direta. Cortante.
Aceito sua proposta. Mas com condições.
Amanhã, vou te mostrar quais são as minhas regras.
— Z.M.
Enviei.Tomei o último gole.E pela primeira vez em anos, deixei escapar um sorriso.Se ele achava que iria me dominar…Ia descobrir que eu também sabia comandar.
Rafael Marcenko
A lareira crepitava na sala escura.O fogo projetava sombras nas paredes de pedra da minha casa em Montmartre.Com o paletó jogado sobre a poltrona, eu girava lentamente o copo de conhaque entre os dedos, enquanto observava o documento sobre a mesa.
Rafael: — Fale.
Gregor: — Dossiê completo. Nome real, locais por onde passou, datas, alterações em registros, contatos antigos. Tudo limpo, muito bem forjado. Mas a origem… é suja. Bem suja.
O homem à minha frente, de terno preto e olhar gélido, era mais do que meu segurança.
Gregor era minha sombra.
Peguei o arquivo com calma.As fotos impressas em papel especial mostravam Zoe mais nova, com outro nome, em outra cidade.
Outra identidade.Outro crime.
Gregor: — Ela desapareceu depois da morte do pai. O dossiê oficial diz que ele foi vítima de um atentado empresarial. Mas sabemos que não foi isso.
Rafael (frio): — Ela sumiu. Alguém ajudou. Alguém pagou.E agora ela voltou… como Zoe Moreau.
Gregor: — Vai expor ela?
Rafael (encarando a foto): — Ainda não.
Prefiro ver até onde ela está disposta a ir para manter isso enterrado.
Fechei o dossiê, minha mente já dez passos à frente.
Rafael: — Amanhã, ela vem à minha empresa.
Quero tudo pronto. E não quero distrações.
Gregor: — Incluir segurança?
Rafael: — Não.Ela não é uma ameaça comum.
Ela é o tipo de perigo que… vicia.
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Atualizado até capítulo 45
Comments
Denise Gonçalves das Dores
Terminando de ler esse capítulo, soltei o ar que nem sabia que estava prendendo.
2025-08-19
1
Liliane Ramiro
uau 👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼🥰🔥🔥🔥🔥🔥
2025-08-16
2