Capítulo 5 — Entre a Lua e o Lobo
A noite caiu sobre Beacon Hills com um peso estranho. O céu, carregado de nuvens espessas, escondia a lua, e o ar parecia denso, quase difícil de respirar. Liam corria pelos corredores vazios da escola, o som das suas passadas ecoando como se a própria escuridão estivesse ouvindo.
Ele tinha acabado de receber uma mensagem da Hayden. Uma mensagem que não deveria existir.
"Liam, preciso te ver. Sozinha. É importante."
O problema era: Hayden estava fora da cidade há semanas. E, para piorar, não havia nenhum sinal de que ela teria voltado. Isso cheirava a armadilha. Literalmente.
— Liam! — A voz de Theo o fez parar, o coração acelerando ainda mais.
Theo surgiu no corredor, o rosto parcialmente iluminado pela luz fria dos postes do lado de fora. O olhar dele era intenso, quase furioso.
— Onde você pensa que vai? — Theo cruzou os braços, bloqueando o caminho.
— Isso não é da sua conta. — Liam tentou passar, mas Theo avançou um passo à frente.
— Não da minha conta? — Theo soltou um riso incrédulo. — Você acha que vou deixar você correr para uma armadilha só porque tem o nome da Hayden escrito?
Liam cerrou o maxilar. — Não é uma armadilha. Ela me mandou uma mensagem. Pode ser algo sério.
— Ou pode ser alguém tentando usar os seus sentimentos contra você. — Theo inclinou a cabeça, a voz ficando mais baixa, mais sombria. — De novo.
A lembrança bateu como um soco. O dia em que Liam quase perdeu tudo por acreditar na pessoa errada ainda queimava na memória. Mas essa era a Hayden. Era diferente. Certo?
— Você não entende. — Liam desviou o olhar, tentando ignorar a dor que passava pelos olhos de Theo. — Eu preciso ir.
Theo se aproximou devagar, tão perto que Liam pôde sentir o calor dele, a respiração firme. — Eu entendo mais do que você imagina. — A voz saiu quase como um rosnado baixo. — Porque eu sei como é ver você correr atrás de alguém... enquanto eu fico aqui, me perguntando se algum dia vai olhar pra mim do mesmo jeito.
O silêncio que seguiu foi pesado. Liam sentiu o coração dar um salto estranho no peito, como se algo dentro dele quisesse responder — mas não soubesse como.
— Theo… — Ele tentou falar, mas a campainha da escola tocou de repente, um som alto e metálico que fez ambos se virarem.
A porta no fim do corredor se abriu sozinha, rangendo, e uma corrente de ar frio invadiu o espaço. O cheiro era familiar — ferrugem, terra molhada… e sangue.
Theo instintivamente ficou na frente de Liam. — Fica atrás de mim.
— Eu não preciso que me proteja. — Liam rosnou, mas não se moveu.
Das sombras, uma figura apareceu. Não era a Hayden. Mas usava a jaqueta dela. O capuz escondia o rosto, e quando levantou a cabeça, os olhos brilharam em um tom âmbar doentio.
— Liam… — A voz era igual à de Hayden. — Por que você está com ele?
O sangue de Liam gelou. Era como ouvir a Hayden, mas com algo errado, algo quebrado. Theo deu um passo à frente, os músculos tensos, pronto para atacar.
— Não é ela. — Theo falou, sem desviar o olhar da criatura. — É uma cópia. Uma isca.
A cópia sorriu de forma distorcida. — E você… — ela apontou para Theo — … é o problema. Sempre foi.
Em um movimento rápido, a criatura avançou. Theo a interceptou, mas foi jogado contra as portas dos armários com força, o som metálico ecoando pelo corredor. Liam não pensou duas vezes: deixou os olhos brilharem e as presas surgirem.
O combate foi brutal. A criatura se movia rápido, com golpes calculados, como se conhecesse todos os movimentos de Liam. Ele tentava não pensar no fato de estar olhando para algo que usava o rosto — e a voz — da Hayden.
Theo se recuperou rápido, agarrando o braço da criatura e torcendo até ouvir um estalo. Ela gritou, mas usou a outra mão para empurrá-lo contra a parede novamente.
— Sai daqui, Liam! — Theo gritou. — Não é você que ela quer!
Mas Liam não saiu. Em vez disso, se lançou contra a criatura, derrubando-a no chão. Os dois rolaram até que Liam conseguiu cravar as garras no ombro dela. O grito que veio não era humano. Aos poucos, o rosto falso começou a se desfazer, revelando algo mais escuro, deformado.
Finalmente, a criatura se desvencilhou e recuou, sumindo nas sombras como se nunca tivesse estado ali. O corredor ficou em silêncio.
Liam estava ofegante, as mãos tremendo. Theo, com um corte na sobrancelha, o observava em silêncio.
— Isso… não era a Hayden. — Liam disse, mais para si mesmo do que para Theo.
— Eu te disse. — Theo respondeu, limpando o sangue que escorria pelo rosto. — Mas você não confia em mim o suficiente para acreditar sem provas, não é?
Liam abriu a boca para responder, mas nada saiu. A verdade era dolorosa demais para ser dita.
Theo se aproximou, os olhos fixos nele. — Eu não sou perfeito. Fiz coisas horríveis. Mas tudo o que faço agora é tentar te manter vivo. Mesmo que você continue correndo atrás de fantasmas.
Liam sentiu algo apertar no peito. Parte dele queria discutir, gritar, negar. Mas outra parte… queria ficar ali, perto dele, sem dizer nada.
Theo suspirou, recuando um passo. — Vai atrás dela se quiser, Liam. Só não espere que eu fique por perto para te juntar quando você quebrar de novo.
Ele se virou para sair, mas Liam segurou seu braço. — Theo… espera.
Os dois se encararam. Havia algo não dito queimando entre eles, algo que nem o perigo, nem o ciúme, nem o passado conseguiam apagar.
Mas antes que qualquer palavra fosse dita, um som ecoou do lado de fora: uivos. Muitos uivos. E nenhum deles era amigo.
Theo soltou o braço de Liam devagar. — A conversa fica para depois.
Eles correram juntos para a saída, lado a lado, a tensão ainda viva no ar. Mas no fundo, Liam sabia que aquela noite não tinha acabado. E que o verdadeiro conflito entre eles estava apenas começando.
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Atualizado até capítulo 24
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