Reinado de fogo

...cinco anos depois...

Faz cinco anos que minha irmã foi pro Alemão, Cinco anos que o trono da CDD é meu, mesmo que ninguém tenha me dado coroa nenhuma...o sangue já tá nas minhas mãos e as decisões também.

Assumi o Morro pouco tempo Depois que Valentina partiu pra nova vida ao lado do LK, minha mãe chorou por dias,meu pai andava em silêncio pela casa como se tivesse deixado um pedaço dele partir, mas a verdade é que foi ali que tudo começou a se moldar.

Eu tinha só 18 anos, mas já era mais homem do que muito verme armado por aí, e agora aos 23 anos eu sou o dono disso aqui,o Dono da Cidade De Deus!!! Me tornei tudo o que me treinaram pra ser, firme,frio, respeitado...meu nome circula em boca baixa pelos becos, pelas vielas e até fora do país.

Quem manda agora sou eu e quem desrespeita, sangra!

Miguel segue sendo meu braço direito, a alma russa mais brasileira que conheço, já não é meu irmão de guerra, é parte do comando,parte da estrutura...

Leal como cão e cruel como cobra e juntos formamos uma dupla que ninguém ousa enfrentar.

Valentina? tá bem! Está grávida, casada com o LK e é respeitada por todos aqui e no Alemão....Ela virou uma mulher forte do tipo que não abaixa a cabeça nem pra tempestade e o moleque que vai nascer ali vai carregar dois impérios no sangue.

Ela me liga de vez em quando pra encher o saco e dizer que a comida do Alemão não presta ou então que sente saudade da mãe...e eu a ouço direto porque ela é a única que consegue me desarmar com uma palavra.

A maluca da Bia continua sendo um furacão, mora no Alemão ainda, mas vive descendo pra cá pra visitar os pais....e provocar quem ela encontra pela frente. Passou anos,cresceu,ficou mais gata,mais insolente,mas o passado eu enterrei.... é o que me convém.

Meus pais agora querem envelhecer em paz, eles estão na Rússia nesse exato momento fechando negócios com magnatas e alinhando conexões que só a velha guarda tem...A família é tudo e mesmo a distância a estrutura tá firme, eles sabem que aqui está sob controle!

Eu sou mais forte agora, fisicamente, mentalmente, moralmente...Meu corpo carrega marcas, cicatrizes, histórias e minha alma já perdeu a conta das mortes.

A frieza virou minha aliada, o medo virou meu aliado....Hoje não tenho tempo pra amor, não tenho tempo pra dúvidas,tenho tempo pra decisões apenas e quando o mundo pensar em desabar, eu levanto o fuzil e faço ele se curvar!

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Era meia-noite quando recebi o informe, um dos nossos tava se encontrando com a polícia pra vender informações e isso era traição...no meu morro, debaixo do meu comando, sob meu nome.

Chamei o Miguel que tava na cobertura do QG vendo as câmeras e bebendo uma dose de vodka que ele trouxe da última viagem

VINCENT: ele tá lá embaixo? - perguntei sem tirar os olhos do monitor

MIGUEL: tá...e tá se tremendo mais que vara verde

Desci sem pressa, sem grito, sem alarde, só com o som dos meus passos ecoando pela laje vazia da noite e quando abri a porta do galpão os olhos de todos se viraram pra mim...alguns abaixaram a cabeça, outros engoliram seco e o traidor estava de joelhos com as mãos amarradas pra trás com a boca suja de sangue seco, já tinham dado uma prévia, mas o principal era comigo.

VINCENT: tu sabe porque tá aqui? - perguntei andando até ele com a mão no bolso da calça onde o ferro frio da Glock me cumprimentava como um velho amigo

***: chefe por favor....foi um erro.... foi só uma conversa...

VINCENT: cala a porra da boca - minha voz não subiu um tom - Tu conversou com a polícia, tu negociou com eles...

***: não Vincent, eu juro por D....

BANG!

Dei um tiro no joelho pra começar e ele gritou, vi que o Miguel fechou os olhos por um segundo

VINCENT: isso foi só pelo " Vincent" mermão....eu sou chefe pra você, dono, rei, o demônio que você chamou pra dançar - me agachei diante dele - Aqui a gente é família, irmão morreu por irmão e não tem esse papo de "foi mal".... você vendeu os seus, vendeu a porra do sangue que te alimentou e eu vou cobrar!

Encostei o cano da Glock na testa dele enquanto ele chorava e soluçava se mijando de medo

VINCENT: aqui é CDD porra...aqui é Vincent e no meu reinado traição é sentença de morte

BANG!

Ele caiu pra trás sem tempo pra mais nada e Miguel soltou um assobio baixo quase em respeito

MIGUEL: caralho irmão até eu me arrepiei agora

VINCENT: era preciso - respondi frio

MIGUEL: tu tá ficando cada vez mais perigoso - ele riu nervoso

VINCENT: Não...- olhei pra ele calmo - ...eu tô ficando cada vez mais necessário

Saímos dali e os vapores ficaram pra limpar as sujeira toda....

DIA SEGUINTE............

O sol mal tinha passado do topo dos prédios, o dia ainda cheirava pólvora e café e eu e Miguel estávamos sentados na laje da boca cada um com uma garrafa de água e o cigarro aceso. O movimento estava fluindo normalmente com a paz emanando até que a porta de metal abriu com força num estrondo e surgiu ele.....

Dumal...

Sem camisa, cordão grosso no pescoço, perfume tão forte que dava pra sentir três vielas antes, boné pra trás e uma língua mais afiada que navalha em presídio

DUMAL: BOM DIA MEU PATRÃO! BOM DIA RUSSO, BOM DIA FAMÍLIA!

Ele entrou como se fosse dono do mundo, com um sorriso safado no rosto e uma mochila atravessando o peito

MIGUEL: fala Dumal... já chegou armado de fofoca? - Miguel riu largado na cadeira

DUMAL: FOFOCA? Isso aqui é informação estratégica meu cria! E ó...se liga.... - ele olhou pros lados como se estivesse bolando um plano - tu sabe quem eu vi ontem descendo o beco da lotérica com a Marilene do feijão?

MIGUEL: A véia? - Miguel tossiu rindo

DUMAL: A própria mermão! E com ela quem? Quem? O neném do gás porra!

VINCENT: Tá zoando! - falei segurando o riso

DUMAL: tô falando, tavam agarradinhos que nem casal de série turca...e o marido dela? Em casa com a perna quebrada vendo o jogo achando que a véia tava na igreja!

MIGUEL: Tu não vale nada Dumal - Miguel gargalhou até quase se engasgar

DUMAL: Mas eu gosto! - ele piscou - E ó...fiquei sabendo que o Tiaguinho do beco 13 tá dando uns perdidos e andando perfumado demais....disseram que tem uma novinha do Santa Marta que ele tá levando escondido pro ponto 3.... só digo uma coisa, se der merda, já tô fora...porque sou fofoqueiro, não coveiro

VINCENT: vai se tratar Dumal...- eu ri balançando a cabeça

DUMAL: Me trata tu patrão...com carinho e com um aumento!

VINCENT: Tu quer aumento ou um soco no dente? - perguntei sério e ele se calou pro três segundos

DUMAL: pode ser uma coca então chefe...geladinha...

A gente caiu na risada e até Miguel não se aguentou....O Dumal era um dos nossos, fiel, ligeiro e apesar da língua solta, entregava resultado...mas quando ele abria a boca, era certeza que o morro inteiro saberia até quem sonhou molhado na noite anterior

VINCENT: vai trabalhar Dumal e sem espalhar que eu dei risada hein

DUMAL: Jamais patrão, cê é durão, vou dizer só que tossiu engasgado mesmo!

Ele saiu falando sozinho mexendo no rádio e provavelmente já tramando a próxima bomba...

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