o tempo certo

Alanzin 💥

Favela não dorme.

Quem cochila… perde território, perde vida.

E eu não posso me dar esse luxo.

Desde que o Talibã sumiu naquele dia do confronto, minha cabeça não para.

Russo baleado, morador revoltado, polícia batendo de frente...

e ele, o chefe, o coração do bonde, sumiu como fumaça.

Todo mundo dizendo que morreu, até o Silva se achando o vitorioso dando entrevista,

mas eu conheço o Talibã…

Se ele tivesse morrido, o corpo tava aqui.

Jogado no chão, cheio de tiro, ou nos nossos braços. Mas nada.

Tô tentando segurar o morro, manter as bocas rodando, manter o terror longe.

Mas é como se tivesse um buraco no sistema.

Tá tudo no lugar, mas ao mesmo tempo, nada tá certo.

A tropa pergunta por ele.

A Helô anda com o olhar vazio.

Até o Russo, mesmo na cama do hospital, quer saber se ele tá vivo.

Hoje eu acordei com um nó na garganta.

Sentei na Lage alta onde ele costumava ficar.

Ali, ele mandava e desmandava… agora, o vazio grita.

Peguei o rádio dele. O último sinal foi naquele dia.

Mas uma coisa me pegou de jeito hoje:

Cadê o celular do Talibã?

O rádio tava lá, largado com sangue.

Mas o celular?

Sumiu.

Ele nunca ia sair sem aquele telefone.

Era por ali que ele falava com as conexões, com os caras da pista, com tudo.

— "Ou ele deixou cair, ou alguém pegou", — falei pro Pingo, meu segurança.

Mas tem mais.

Hoje eu fui lá.

Lá mesmo, na viela onde os últimos tiros cantaram.

Onde a tropa trocou com o BOPE, onde o Talibã foi visto caindo atrás do muro.

Cheguei na moral. Capuz, chinelo, pistola na cintura.

Não levei bonde, fui sozinho.

Na cautela.

Ali, ainda tinha mancha de sangue.

Uma parede estourada. Buraco de bala no ferro velho.

Mas nada de corpo.

Nada.

Sentei no parapeito e comecei a refazer tudo.

Passo por passo.

Ele correu pra cá…

Se apoiou ali…

Talvez não caiu. Talvez só sangrou e vazou.

Vi uma grade meio torta atrás do barraco.

Nunca tinha reparado.

Empurrei…

Portinha velha, de madeira. Arrebentada.

Atrás?

Uma escadinha quase invisível.

Descia pra um beco sem saída…

Ou melhor, sem saída pros outros. Pra ele, parecia planejado.

Aquele beco dava numa antiga saída usada há anos atrás.

Fechada pelos moradores. Mas com o trampo certo, dava pra passar.

“Será que ele vazou por aqui, mané?”

Voltei subindo, respirando rápido.

A mente a mil.

Pior que faz sentido.

A operação foi rápida, intensa, mas a tropa dispersou quando ele sumiu.

Ninguém viu, ninguém filmou.

E como não filmou?

Porque o Talibã era ligeiro.

Tinha rota de fuga. Tinha plano B. Sempre teve.

Mas se escapou, por que não entrou em contato?

Por que não avisou?

Pensei em mil fita.

— “Será que ele tá preso e ninguém sabe?”

— “Será que tá machucado e se escondeu em algum ponto estratégico?”

— “Ou será que… confiar em alguém foi o erro dele?”

Doideira, né?

Mas eu não posso perder o foco.

Voltei pro complexo.

Falei com o Diego da comunicação. Mandei rastrear qualquer sinal, ligação, mensagem, até e-mail com nome falso.

Mandei também um recado nos grupos do morro:

> “Quem souber do paradeiro do Talibã e tiver a verdade, vai ser tratado como irmão. Mas se tiver maldade, o destino é vala.”

Tô sem sono, sem fome, sem paz.

Mas com sangue no olho.

Porque se ele estiver vivo, eu vou encontrar.

E se alguém tiver ajudado a sumir com ele,

vai pagar.

Favela pode ser caos, mas comigo no comando, vai continuar de pé.

E se ele voltar…

Vai encontrar o morro do jeito que ele deixou:

No trilho.

No respeito.

Na bala se for preciso.

Talibã 💣

A dor foi tão forte que eu achei que ia apagar de vez.

Mas eu sou cria da guerra…

Não foi aquele tiro que ia me derrubar.

Quando o chumbo entrou na minha barriga, senti a alma estremecer.

Mas o barulho, o corre, o desespero da tropa me fez manter os olhos abertos.

Tinha sangue demais.

Meu rádio caiu no chão.

Minha Glock também.

Mas eu ainda tinha o celular no bolso,

Instinto de sobrevivência falou mais alto.

Caí atrás de um barraco velho, ali mesmo onde ninguém passa faz tempo.

Enquanto a operação comia no centro, eu fui me arrastando,

engolindo o choro, apertando a camisa contra o ferimento.

Minha mente só gritava uma coisa:

"Preciso sair daqui. Se o Silva me pega, é caixão."

Não dava pra avisar o Alanzin, nem o Russo, nem ninguém da tropa.

A linha de comunicação tava comprometida.

E eu sabia, no fundo do meu peito,

que meu sumiço seria a única forma de dar um respiro pro morro.

O Silva tá obcecado.

Se ele não me ver morto, ele vai caçar o Alanzin ou o Russo até não sobrar ninguém.

É pessoal. É guerra fria com bala quente.

Foi aí que eu pensei no Jacaré.

Aliado antigo. Cria do morro vizinho.

Bandido de visão.

Gente que respeita a palavra e não vira casaca nem por grana, nem por pavor.

Faz anos que a gente tem um acordo de paz silencioso.

Nunca precisei pedir nada, mas ele já sabia que, no dia que eu precisasse, ele viria.

Consegui andar… sei lá como.

Me apoiei em parede, pulei muro de costela estalando.

O sangue já grudando nas calças.

Cada passo era uma luta contra a morte.

Cheguei até uma viela que dava saída pro mato.

Tinha uma trilha antiga, usada só por bicho ou por quem conhece cada milímetro da favela.

Andei até metade, peguei meu celular e mandei uma mensagem pro jacaré me socorrer, e mandei minha localização em tempo real

E apaguei.

Quando acordei, só via teto.

Não era hospital.

Era o quartinho improvisado do Jacaré,

no miolo do morro dele.

Fumaça no ar, cheiro de remédio e um ventilador barulhento.

Ele entrou sorrindo, com um copo de água e a cara de quem sabe que salvou a vida de alguém importante.

— "Cê é doido, Talibã. Quase morreu na mata, levei um tempão pra ti acha mermão

Eu tentei levantar, mas a dor me travou.

Tinha gaze, ponto, remédio…

e silêncio.

Ele sabia o peso de me esconder.

Sabia que se a polícia desconfiasse, o morro dele entrava no radar do Silva.

— "Tu sumiu, mané. Tão falando que morreu."

Fiquei quieto por um tempo.

Só respirando fundo.

Talvez fosse melhor assim.

Comigo fora de cena, o Silva pode achar que venceu.

Pode dar a trégua que a Rocinha precisa pra respirar.

Pra tropa se reorganizar.

Pro Alanzin tocar o bonde sem a pressão de ter meu nome em todo canto.

Mas meu coração dói por não avisar ninguém.

Nem a Helô, nem o Russo, nem o Alanzin.

Principalmente o Alanzin.

Mas do jeito que eu tava, nem dava.

Tava morto em pé.

Agora… tô aqui.

Escondido.

Me tratando.

Esperando o momento certo.

Jacaré já falou que vai segurar o segredo.

Eu confio.

mais a gente não sobrevive tanto tempo nesse jogo confiando em qualquer um.

A favela acha que eu morri.

Mas eu só tô em silêncio.

Aguardando.

Porque quando eu voltar…

Vai ser pra botar ordem, cobrar lealdade

e mostrar que o Talibã ainda é o terror da porra toda.

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Comments

Daniela Silva

Daniela Silva

kamille vc é foda é demais solta mais capítulo por favor beijo

2025-07-31

1

Mary Regi

Mary Regi

muito bom mesmo esse capítulo tu arrasa mesmo autora q bom q o jacaré salvou a vida dele ele tem q falar ora Helo ir la a onde ele esta

2025-07-31

2

Clara

Clara

Mds li com o coração na mão

2025-07-31

4

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