Era terça-feira, fim de tarde, quando Isabela subiu o morro da Boa Esperança pela terceira vez.
Mas agora… não era a mesma mulher que chegou ali com salto, medo e dúvida.
Dessa vez, ela vinha de calça jeans de cintura alta, cropped preto e um coque bagunçado preso com pressa. Trazia no rosto um batom escuro e nos olhos… fogo.
Os olhares dos moradores já não a intimidavam.
Os assovios? Ignorados.
Ela caminhava com passo firme, celular no bolso e orgulho nas veias.
Do alto da laje, Kael observava.
— A princesa voltou… — murmurou, com a voz grave e baixa.
— Patrão… essa aí tá desafiando geral. — comentou Dedé, sentado ao lado.
Kael não respondeu. Apenas se levantou, largando o rádio e descendo com calma. Cada passo dele era pensado. Cada batida do coração… um aviso.
Quando ele chegou na frente do centro comunitário, ela já estava lá dentro, conversando com duas mulheres. Anotava coisas, ria, abraçava uma criança no colo como se tivesse nascido naquele chão de cimento.
Ela era… tudo.
E não era dele. Ainda.
— Trabalhando muito, princesa?
A voz dele ecoou como trovão suave.
Ela se virou, devagar, sem se abalar.
— Diferente de você, eu não passo o dia mandando e sendo bajulado.
Kael deu um sorriso torto.
— Você tá afiada hoje.
— Eu sempre fui. Você que não notou.
Ela passou por ele e foi até a parte de trás do galpão, onde caixas precisavam ser organizadas. Ele seguiu. E não era só pelas caixas.
— Me diz uma coisa, Isabela…
Por que você continua vindo aqui?
Ela parou. Se virou. Cruzou os braços.
— Porque eu quero. Porque eu posso. Porque isso aqui não é seu.
O silêncio entre os dois virou eletricidade.
Kael se aproximou devagar, parando a centímetros do rosto dela.
— Você sabe o que tá fazendo?
— Sei sim. Tô deixando um homem perigoso achar que tem poder sobre mim… só pra ver até onde ele vai.
A respiração dele acelerou. O olhar desceu pela boca dela.
— Você gosta de brincar com fogo.
— E você gosta de achar que já ganhou.
Ele a puxou pelo braço, rápido, mas sem machucar. Apenas o suficiente pra que o corpo dela encostasse no dele.
— Para com isso, princesa. Eu já perdi a paciência.
— Então perde mais. Perde o controle. Perde a pose. Perde o juízo… mas não acha que vai me ganhar no grito.
Ela falou baixo, com os olhos fixos nos dele.
E aí… ela fez o que o Kael menos esperava.
Ela encostou o rosto no dele, quase roçando os lábios… e desviou.
— Quem manda no meu corpo sou eu.
— Quem escolhe o beijo sou eu.
— E você… ainda não merece.
Se afastou com um sorriso provocante, deixando Kael parado, com o sangue fervendo, o orgulho queimando e o desejo gritando.
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Naquela noite, ela desceu o morro como quem sabe que está deixando alguém em chamas.
E Kael…
Kael ficou ali, de fuzil no colo e boca seca.
— Essa mulher vai acabar comigo… — murmurou. — Mas só depois de eu acabar com esse mundo dela e fazer ela querer o meu.
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Na Zona Sul, Rodrigo Tavares estava no carro, mexendo no celular.
Uma notificação apareceu:
📷 "Isabela Marins fotografada na comunidade Boa Esperança."
O sangue dele gelou.
O rosto endureceu.
E ali… o jogo político virou jogo pessoal.
Ele não ia permitir que ninguém tocasse no que ele julgava ser dele.
Muito menos um favelado.
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Atualizado até capítulo 23
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