Capítulo 5 Marcos

Fiquei com ódio de mim mesmo. Ver Bella sofrendo acabou comigo. Eu tinha esperanças de podermos conversarmos sozinhos. Mas deveria saber que os pais estariam lá, protegendo a filha. O pai sempre deixou claro para mim que estaria de prontidão para não deixar que nada ou ninguém machucasse a filha.

Eu sabia que ele não era muito meu fã. Mas ao longo dos anos, ele vendo a filha feliz ao meu lado começou a me tratar melhor.

Mas eu fui um idiota e confiante demais. Ele sempre ficou de olho. E obviamente não deixaria que ela fraquejasse. Bella não era fraca, tinha a sua própria opinião e ninguém a persuadia a fazer o que ela não queria. Mas nessa situação, era eu o responsável pela dor dela. E ela tinha avisado a mim que nunca perdoaria uma traição. E muito menos várias e um caso com a amiga.

Eu fui um idiota de cair em tentação com Vera. Ela muito esperta, usou de suas armas para me seduzir. Eu ia acabar com a raça dela.

Mas sinto que nem tudo está perdido. Bella está grávida. E apesar de que eu não planejar e nem mesmo querer, esse filho pode ser a minha salvação.

Voltei para a empresa. O meu sócio estava com ar preocupado, analisando uma planilha.

- O que foi que aconteceu?

- Eu que te pergunto-Elias me mostra a tela do notebook- que quantia é essa que retirou sem me consultar?

- Foi uma exigência de Bella. Deu tudo errado, cara. Ela estava me esperando com os advogados e não tive opções. Assinei o divórcio e como quebrei a cláusula do contrato, tive que pagar essa quantia a ela ou perderia a empresa.

- Fala sério. Você não poderia ter feito isso. Você retirou dinheiro da empresa. Eu não tenho nada a ver com o seu problema.

- Poxa Elias. Pensei que fosse meu amigo.

- Eu sou seu amigo. Por esse motivo não chamei a polícia para dar queixa do desfalque. Está pensando que vou para a falência por culpa de suas safadezas?

- Eu vou restituir o dinheiro. A maior parte do meu dinheiro está investido em ações. Só preciso que me dê um prazo.

- Tem até amanhã. Senão eu denuncio o desfalque. E se quer saber, acho que é melhor desfazermos a sociedade.

- Elias, não faça isso. Sei que fui um canalha com Bella. Mas sempre fui um bom amigo. Sabe que trabalho duro para o crescimento da nossa empresa .

- Eu estou falando sério. Você tem até amanhã para repor o dinheiro. E depois iremos conversar sobre a nossa sociedade. Agora preciso ir.

Depois que Elias se foi, fiquei perdido nos meus pensamentos funestos. Onde eu iria arrumar o dinheiro para repor? Senti um ódio tomar conta de mim. É tudo culpa da Vera. Ela não deveria ter dado em cima de mim. Marido da amiga dela. Por causa dela perdi Bella e estava à beira da falência.

Eu fiquei cego de raiva e fui direto para a casa dela. Eu a faria pagar o preço de ter me colocado nessa situação.

Vera não escondeu a surpresa ao me ver. E vi que os olhos estavam vermelhos, o que significa que estivera chorando.

- Marcos- ela se jogou no meu pescoço- que bom que veio!

Eu a empurrei num acesso de fúria. O que tanto me atraía nela agora me causava repulsa.

- Sai fora, sua louca!-Gritei com ela e a vi estremecer- você acabou com a minha vida. Bella me obrigou a assinar o divórcio. E ainda me arrancou uma quantia alta pela quebra da cláusula do contrato nupcial. Tive que retirar o dinheiro da empresa e agora Elias está ameaçando denunciar-me à polícia.

- Eu...eu...sinto muito. A minha mãe acaba de falecer. Teve um infarto.

A minha fúria diminuiu um pouco. Eu não sou tão desalmado assim. Sabia como Vera era apegada à mãe. A única família dela.

- Sinto muito Vera. Mas ela já estava bem debilitada do primeiro infarto. Agora descansou.

- É muito desolador estar sozinha no mundo. Perdi a única pessoa que me amava de verdade.

Fiquei calado. Não a amava do jeito que ela queria. Mas não queria deixá-la mais triste. Lembrei que Vera era a única herdeira da mãe e que acabou de ficar muito rica. Ela tinha que pagar pelo que fizera comigo.

- Vera, não se torture assim. Você não está sozinha. Agora que o meu casamento acabou, podemos assumir o nosso compromisso.

- Está falando sério?- Ela olhou para mim com os olhos cheios de lágrimas- achei que estava furioso comigo.

- Sabe que sou um pouco temperamental. Mas não vou abandonar você num momento tão frágil.

- É por piedade?-Ela fala com a voz fraca- se for dispenso. Eu te amo Marcos. E sei que você ama Bella. Como quer assumir o nosso compromisso se a ama?

- Vera, eu amo Bella sim. Mas acabou. Eu gosto muito de você. E podemos passar por esses momentos tristes juntos.

- Eu agradeço a sua compreensão. E está certo sim. É melhor passarmos momentos tristes juntos. Eu não sei se consigo cuidar do funeral.

- Pode deixar comigo. Eu a ajudo. Você avisou Bella?

- Não. Eu sei que ela está com ódio de mim e mesmo gostando muito da minha mãe, não posso esperar dela nenhum cumprimento.

Eu peguei Vera nos braços e a levei para a cama. Dessa vez resolvi mostrar a ela o meu lado romântico e não fiz sexo selvagem. Ela se aninhou no meu peito e suspirou.

Mais tarde, saímos para resolver as coisas do funeral. Depois de tudo resolvido, disse à Vera que precisava ir à empresa. Lá liguei para Elias.

📱Oi Elias. Eu sei que está com raiva de mim. Peço desculpas por ter agido de forma irresponsável.

📱Deixa de conversa fiada. Não vai fazer com que eu mude de ideia.

📱Não é isso. Eu não quero que mude de ideia. Só te peço mais dois dias de prazo. É o tempo que consegui para arrumar o dinheiro.

📱Em nome da nossa amizade eu vou esperar. Mas depois iremos conversar.

Desliguei e fiquei olhando a tela do celular. Lembrei do que a minha mãe dizia" a gente só conhece o verdadeiro amigo na necessidade ". Elias era uma porr@de um traíra.

Tomei um banho, vesti um terno preto e fui para a droga do velório. Vera estava inconsolável ao lado do caixão. Eu fui até ela e coloquei os meus braços ao redor dos seus ombros. Ela olhou para mim com os olhos cheios de amor e gratidão.Notei o burburinho na sala. Todos comentando sobre o fato de eu estar ali sozinho, sem Bella, no velório da mãe da amiga e ainda por cima abraçando Vera. Não consegui deixar de me sentir constrangido e com raiva de Vera.

VERA DOMINGUES, 27 anos. Designer de interiores.

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