A jovem retornava apressada para sua cabana, sentindo o peso do dia em seus ombros. A pequena construção, simples e desgastada, parecia um mundo distante das salas suntuosas das quais ela fugiu.
Enquanto caminhava, seus pensamentos vagavam para o que teria sido sua vida se tivesse permanecido naquele destino traçado para ela pelos pais dela.
A floresta ao redor parecia sussurrar a liberdade que ela agora desfrutava, mesmo que marcada pelo medo e pela dureza da vida simples.
Aproximando-se da cabana, Florence sentiu o coração acelerar ao perceber uma sombra se mover entre as árvores, perto da entrada. Seus olhos captaram o brilho de um olhar lascivo, fixo nela, de um homem que espreitava nas sombras, esperando a chance certa para agir.
Um arrepio percorreu sua espinha enquanto ela apertava as cestas com mais força. A solidão que antes parecia liberdade agora se tornava uma prisão, cercada por perigos constantes. Como um tanque de tubarões. Será que realmente valia a pena viver assim? Liberdade com medo, ainda pode ser considerada liberdade?
Ela apertou as cestas contra o corpo, hesitando por um momento, sabendo que não podia simplesmente entrar na cabana assim, não com aquele perigo tão perto. Não precisava de muito para entender que aquele homem a pegaria, principalmente quando ela não tinha nenhuma arma consigo, nada para se defender.
Com a voz trêmula, murmurou para si mesma. — Isso está ficando insuportável... Não posso continuar vivendo assim.
Sem perder tempo, virou-se rapidamente e seguiu de volta para a acampamento correndo, decidida a procurar Alexander e pedir ajuda, sentindo que só ele poderia protegê-la daquele perigo crescente. Estranhamente, naquela vila, aquele homem parecia o único decente e digno de respeito, o único que uma mulher poderia recorrer por ajuda.
No meio do caminho, com a respiração ainda ofegante e os passos acelerados, Florence desacelerou por um instante. O céu começava a ganhar tons de âmbar com o entardecer, e o som das folhas secas sob seus pés parecia mais alto. Levou uma mão ao peito, tentando acalmar o coração em disparada.
Ela precisava dele. Fingir ser forte nesta situação não a salvaria do homem em sua porta.
Florence chegou ao acampamento pouco depois, com os olhos arregalados e os lábios trêmulos. O manto desalinhado denunciava sua pressa, e suas mãos estavam frias, mesmo com o calor das tochas ao redor das barracas.
— Capitão Alexander... — Chamou ao encontrar um dos soldados, que a conduziu até ele sem demora.
O duque a observou com a habitual frieza, mas seus olhos estreitaram ao notar o nervosismo que transbordava do semblante dela. — O que houve?
— Há... Há um homem me espreitando. Ele estava perto da minha cabana. — A voz dela falhava, mas não vacilava. — Não tentei entrar. Não consegui. Estou com medo.
Alexander não hesitou nem por um segundo.
— Você fez bem em vir até aqui. — Sua voz era firme, sem espaço para dúvidas ou promessas vazias. — Iremos agora.
Virou-se e chamou dois de seus soldados de confiança. Deu as ordens de forma sucinta, já pegando sua espada e o sobretudo.
— Sem barulho. Acompanharemos ela até o local. — Virou-se para Florence novamente, o tom mais brando do que qualquer um ao seu redor jamais escutara.
— Mostre-nos o caminho. Estamos com você. — Ela assentiu, os olhos úmidos, mas agora com um fio de alívio silencioso no olhar. Talvez por ele ser um homem alto e repleto de músculos, ou talvez fosse pela aura dele de um homem que seria capaz de derrotar um dragão se tal criatura fosse real.
A floresta estava mergulhada na penumbra quando Florence, escoltada por Alexander e dois soldados, apontou discretamente entre os arbustos. Havia movimento. Um vulto. O homem esgueirava-se pelos fundos da cabana, agachado como uma raposa farejando a presa.
Alexander ergueu uma das mãos, sinalizando silêncio absoluto. Avançou sozinho, deixando os soldados recuados com Florence. Os passos dele eram firmes, mas silenciosos. E quando o invasor percebeu a sombra do duque se aproximando, tentou fugir.
— Nem pense nisso. — A voz do duque cortou a noite como uma lâmina.
O homem congelou. Tentou disfarçar. — Eu... Só estava... Perdido aqui na floresta...
Alexander se aproximou devagar, os olhos apertados como os de um lobo no rastro de sangue.
— Perdido, tão perto da porta de uma mulher que estaria sozinha? — Sacou a espada lentamente, o som metálico aumentando a tensão.
O sujeito recuou um passo, mas Alexander avançou outro.
— Achou que tudo bem entrar na floresta e decidir rondar a cabana de uma jovem mulher? O que você pretendia? — A lâmina ficou entre os dois, apontada direto ao peito do intruso.
— E-eu não sabia que ela era protegida por alguém tão importante... — Gaguejou o homem, suando, tropeçando nas próprias palavras.
Alexander ergueu uma sobrancelha.
— Ah, então você só não faz quando há um protetor? — Rosnou com nojo. — Isso é o que você é? Um animal que só teme o humano, e não a própria vergonha?
Sem aviso, o duque o derrubou com um único golpe certeiro na perna, fazendo o homem cair de joelhos.
— Leve-o. — Ordenou aos soldados que apareceram atrás.
Enquanto eles amarravam o invasor, Alexander voltou o olhar para Florence.
— Ele não voltará. Palavra de honra. E se ousar... — Olhou por cima do ombro, a voz gélida — ...Não restará parte dele que mereça um enterro.
Um cavalheiro digno do título de capitão, dificilmente haveria outro homem digno de tal honra, pensava. Ele parecia a cada segundo mais confiável.
O homem já havia sido levado, e a clareira voltava a respirar em silêncio. Florence estava com as mãos entrelaçadas à frente do corpo, como se tentasse conter algo que fervia por dentro, talvez vergonha, talvez gratidão.
Ela então deu dois passos hesitantes em sua direção.
— Vossa Graça… — Começou, a voz mais suave do que ele estava acostumado a ouvir nas linhas de frente. — Gostaria de… ficar para um chá?
Alexander ergueu o olhar, sem dizer nada de imediato. Seus olhos azuis brilhantes a sondaram por um instante, não com julgamento, mas como se quisesse entender o que, de fato, ela estava oferecendo.
— Como agradecimento... — Completou rapidamente, temendo ter sido imprópria. — Pela ajuda. E por ter vindo por minha causa.
O silêncio que se seguiu foi breve, mas pareceu eterno.
— Chá. — Repetiu ele, como quem provava a palavra. — Eu aceito.
E então, pela primeira vez, o duque desviou o olhar dela com algo que beirava… Constrangimento.
Ela se adiantou com passos hesitantes, abrindo a porta da cabana para que ele entrasse. Era estranho… Um homem tão poderoso ali dentro, naquele espaço apertado e simples, iluminado apenas pela luz suave da lareira acesa.
— É pouco, eu sei… — Disse baixinho, enquanto começava a preparar o chá com mãos um tanto trêmulas. — Mas é minha forma de agradecer, meu senhor.
Alexander permaneceu em silêncio por um momento, os olhos passeando por cada canto do cômodo, até pousarem novamente nela.
— Não é pouco. — Murmurou, com seriedade. — Você está me oferecendo o que tem, com sinceridade. Isso vale mais que ouro.
Florence sentiu o rosto aquecer. Ele falava com tanta segurança, com tanta firmeza… Era como se nada no mundo o abalasse. Havia uma calma controlada em sua presença, uma força contida que fazia seu coração bater depressa. Como era possível um homem carregar tanto poder nos ombros e ainda assim parecer tão centrado e correto?
Mas quando ele agradeceu, ela baixou os olhos e apertou os dedos no tecido do vestido. — Eu me sinto… Inútil. Fraca. Só causei problemas.
Alexander franziu levemente o cenho e deu um passo à frente.
— Você está sozinha, no limite da floresta, cercada por perigos. Isso não é fraqueza. É coragem… ou imprudência. — A voz grave, quase branda. — Onde está seu marido?
Ela hesitou, levantando os olhos para ele, surpresa com a pergunta. Um calor estranho subiu por sua pele. — Eu… não tenho marido.
Ele a observou em silêncio por alguns segundos, os olhos fixos nela, intensos, analíticos e por um instante, ela se sentiu analisada. Claramente aquele homem pensava que ela era louca de viver ali sozinha, estava estampado no rosto dele.
— Então não deveria viver aqui sozinha — Disse, enfim, em tom baixo. Exatamente como ela imaginou que ele diria. — Isso é perigoso. Muito perigoso.
Florence abaixou o olhar de novo, sem saber como responder. No fundo, sabia que ele estava certo. Mas o que podia fazer? Fugira de uma vida que não queria. Não tinha dinheiro para uma casa mais ao centro da vila, nem conhecia outras pessoas dignas de confiança ali. Só restava viver assim e torcer para aguentar o dia seguinte sem maiores danos.
Alexander a observava em silêncio, apoiado levemente contra a madeira rústica da cadeira. Seus olhos a acompanhavam com atenção, como se já tivesse tomado uma decisão e apenas esperasse o momento certo para anunciá-la.
— Você sabe o que está fazendo com essas folhas, com os chás. — Ele quebrou o silêncio com sua voz grave e calma. — Vi como meus homens ficaram impressionados… E como me senti melhor depois de beber aquele chá.
Florence levantou os olhos, surpresa. Por um instante, achou que ele fosse apenas elogiá-la, mas logo percebeu o peso nas palavras.
— Está desperdiçando seu talento aqui — Continuou ele. — Na solidão, cercada de perigos, quando poderia estar sendo paga… E protegida.
Ela franziu o cenho, hesitando. — O que quer dizer com isso?
— Quero que venha comigo. Trabalhe como herbalista do meu exército. Temos homens feridos com frequência. Doenças. Fadiga. Você seria bem paga, e teria segurança — Seus olhos fixaram nos dela com firmeza. — E estaria sob minha proteção.
O silêncio entre eles pareceu denso. Florence sentiu o estômago se apertar. A proposta era tão inesperada quanto tentadora. Mas também perigosa.
— Por quê? — Sussurrou ela. — Por que está me oferecendo isso?
Alexander inclinou um pouco a cabeça, como se a pergunta não fizesse sentido. — Porque preciso de alguém como você. E porque não consigo tolerar a ideia de uma mulher como você sendo ferida por covardes no meio do mato.
Aquela última frase fez o peito dela apertar de forma estranha. Ele falava como quem dava ordens a si mesmo, não só a ela. Como se protegê-la fosse uma questão de honra. E isso a fez estremecer, depois de dias sem dormir, depois de ser preenchida por medo todas as noites, aquilo parecia ser exatamente o que ela sonhava ouvir.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 28
Comments