O sábado chegou com céu limpo, cheiro de café e a risada leve do Romeu pulando na sala.
Gael estava no sofá, trançando os cabelos do menino, quando Estevão apareceu na porta, mais casual do que o habitual. Usava camiseta escura e jeans. Parecia... menos empresário e mais homem.
Gael
— Dia de folga? — ele perguntou, surpreso.
Estevão
— Prometi ao Romeu que faríamos panquecas juntos hoje. — Ele sorriu de lado, quase tímido. — E ele disse que só faria se você ajudasse.
Gael
Gael riu.
— Então acho que temos um acordo.
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Na cozinha, os três se divertiram como uma cena de comercial de margarina. Estevão tentou — sem sucesso — virar uma panqueca no ar e sujou a camisa. Gael riu tanto que precisou se apoiar no balcão. Romeu gritava: “Faz de novo, papai!”
E por um momento, aquilo parecia uma família.
Após o café da manhã, Romeu adormeceu no sofá, embalada por um desenho animado. Estevão e Gael recolheram a louça juntos, lado a lado na pia.
Foi ali, entre um prato lavado e outro enxaguado, que Estevão olhou para ele por tempo demais.
—
Estevão
— Você trouxe cor pra essa casa — ele disse, baixinho.
Gael
Gael se virou devagar.
— Eu só… cuido das pessoas que amo — respondeu sem pensar. E mordeu o lábio, arrependido.
O silêncio que se seguiu foi diferente. Tenso. Vivo.
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📓 Notas de Estevão – sem título
> "Ele é luz.
Luz e simplicidade.
Mas estou quebrado demais pra merecer alguém assim.
E ainda assim, toda vez que ele sorri para o Romeu, algo dentro de mim quer ficar."
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🖋️ Diário de gael – 17 de maio
> "Hoje, quase esqueci que estou aqui como funcionário.
Quase.
O jeito que ele olhou para mim me fez esquecer do mundo por um segundo.
Um segundo longo o bastante para eu sentir medo.
Porque estou começando a me importar. E não devia."
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Naquela noite, Estevão passou no quarto do Romeu para cobri-lo melhor. Ao sair, cruzou com gael no corredor. Ele usava um moletom velho e segurava um livro de contos de fada.
Gael
— Boa noite — ele disse, quase sussurrando.
Estevão
— Boa noite.
Mas nenhum dos dois seguiu caminho.
Estevão
— gael… — ele começou, como se carregasse o nome dele na boca há horas. — Você está bem aqui?
Gael
— Estou.
Estevão
— E… se não estivesse? — perguntou ele, num impulso estranho.
Gael
Ele sorriu, com ternura e dor.
— Eu não ficaria.
Por um instante, ambos deram um passo à frente. O mundo pareceu parar. O silêncio entre eles era como uma respiração suspensa. E então…
Romeu tossiu no quarto.
Como se o feitiço tivesse sido quebrado, os dois recuaram, sem se tocar. Só se olharam por mais um segundo.
E cada um voltou ao seu canto.
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🖋️ Diário de gael – 18 de maio
> "Acho que quase nos beijamos.
E acho que foi certo não acontecer.
Mas também… acho que foi por pouco."
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