Janeiro de 1917.
Algumas semanas já tinham passado, desde a chegada de Joaquim a fazenda, o
garoto passava boa parte do tempo preso em seu quarto.
Joaquim:
Não passa a hora neste lugar, nada para fazer, na cidade pelo menos tinha
algumas garotas para me divertir. Roberto me paga, ele não devia ter feito isso comigo, me
mandar de volta para este fim de mundo. Levanto-me e vou em direção da janela, acabou
de amanhecer, pelo menos o nascer do sol é bonito neste fim de mundo.
Escuto um barulho de batida na porta, vou em direção e quando abro está
meu pai com aquela cara de que estou fazendo algo errado.
-Garoto, se continuar desse jeito vai criar raízes dentro deste quarto. (Me
olhou ferozmente)
-Me diga o que mais tenho para fazer Senhor Alfredo. (Falei debochando)
-Me respeita, vai dar uma volta na fazenda, conhecer as outras pessoas,
fazer amigos.
-Amigos, não sou amigo de pobre.
-Moleque arrogante. (Quase me deu um tapa)
Meu pai saiu e fui trocar de roupa, assim como ele pediu vou dar uma volta,
quem sabe vejo algo interessante por aí, alguém para matar o tempo, tem aquela garota,
como era mesmo o nome?
Mesmo sendo suja, até que era bonitinha. Mas não trabalha na fazenda, vou
ver se consigo achar outra diversão.
Após trocar de roupa tomo meu café na sala de jantar, sozinho pois meus
pais acordam junto com as galinhas, coloco minhas botas e vou em direção da plantação de
café, já que minha família vive disso não custa nada aprender um pouco, mesmo sabendo
que quem vai cuidar de tudo isso é Roberto.
Estava andando pelo campo, quando de longe, parecia ser mentira, avisto a
garota, ela não deveria estar aqui, já que não trabalha na fazenda, até estava pensando em
passar na vila mais tarde, para ver se por acaso encontrava ela. Ela parece do estilo
teimosa e apaixonada, adoro este tipo de garota. Vou andando em sua direção, mas ela
está tão concentrada que não vê quando estou chegando perto dela, ela estava brincando
com as crianças em meio a plantação, enquanto os outros estavam trabalhando, que vida
fácil.
Fico analisando por um tempo, ela realmente é boa com crianças, quem
sabe um dia até se torne uma boa mãe, não posso ficar parado aqui que nem um maníaco,
dou uma pequena cutucada em seu ombro e ela me olha assustada.
-Oi garota.
-Que susto Senhor Joaquim. (Colocou a mão no peito)
-Não precisa me chamar de senhor, Joaquim basta. (Sorri)
Leonor:
A manhã foi tranquila, passei o seu início montando lanches para as crianças
comerem, fazia tempo que não ia até a plantação e prometi fazer um piquenique para elas,
ambas estavam muito ansiosas, inclusive eu.
No final da manhã, reuniu boa parte das crianças pequenas da vila, e fomos
na plantação visitar os trabalhadores, as crianças adoravam correr em meio aos pés de
café. Assim que acabaram o lanche estavam brincando de pega-pega, estava de olho nelas
para nenhuma das crianças se machucar. Estava bem distraída, quando senti alguém
cutucar meu ombro levei um susto, era o filho do Senhor Alfredo e da Senhora Joaquina.
-Oi garota. (Deu um pequeno sorriso)
-Que susto Senhor Joaquim. (Coloquei a mão no peito para acalmar meu
coração)
-Não precisa me chamar de senhor, Joaquim basta. (Agora sim meu coração
vai disparar)
-Senhor Joaquim, devo manter o respeito, tendo em vista que esta fazenda
também é sua, e como disse anteriormente sou apenas filha de funcionários. (Falei séria)
-A você é daquelas que fica presa ao passado, peço desculpas, não estava
em um bom dia. (Fez um movimento como se estivesse tirando o chapéu)
-Não precisa estar em um mau dia para ofender uma pessoa. (Peguei
pesado)
-Eu já pedi desculpas.
-Tudo bem, no que posso lhe ajudar?
-Meu pai pediu que eu conhecesse a fazenda, mas não conheço ninguém, e
estão todos trabalhando, você se importa de me mostrar. (Esse sorriso vai me matar)
-Claro. (O que foi que eu disse, era para ser não)
-Vamos.
-Só vou deixar as crianças na vila.
-Lhe acompanho, assim já posso conhecer o local.
Seguimos o caminho até a vila, ele estava muito perto podia sentir sua
respiração e seu perfume, vendo-o andando calmamente ao meu lado não parecia aquele
rapaz arrogante que conheci anteriormente, quem sabe até possamos ser amigos. Não
demorou muito chegamos na vila, as crianças foram para as suas casas, a fila para se
despedir era enorme.
-Vamos. (Eu disse)
-Claro.
Conforme fomos andando pela fazenda Joaquim não falava nem sequer uma
palavra, aquilo estava estranho, depois de um tempo quebrei o silêncio.
-Então está gostando de ter voltado? (Que jeito de puxar assunto, está claro
que não, ele nem tenta esconder isso)
-Estou entediado e envergonhado.
-Como assim?
-Entediado, pois sinto falta da capital, dos meus amigos principalmente e
envergonhado porque não me lembro seu nome. (Sério isso?)
-Não sei se posso desculpá-lo por isso.
-Que foi, mal nos conhecemos.
-Tudo bem, era brincadeira.
-E aí qual seu nome? (Ele sorriu)
-Leonor.
-Diferente, acho que você é a primeira.
-Me sinto lisonjeada neste caso. (O que estou fazendo)
-Gosto de você, é bem sincera. (Meu coração saltou)
-Você é o primeiro a me dizer isso. (De novo, não controlo mais o que digo)
-Qual parte? (Você também sabe flertar)
-Sincera. (Engulo a seco)
-Duvido muito que seja esta parte. (Ele para e se senta no gramado, batendo
a mão suavemente ao seu lado)
-Sério, sempre dizem que sou doce e amável.
-De fato não estão mentindo, você parece ser bem doce. (Ele olhou dentro
dos meus olhos fazendo meu coração saltar)
Conforme ele olhava dentro dos meus olhos, senti como se não fosse capaz
de respirar, meu coração acelerou como nunca, Joaquim começou a se aproximar
suavemente de mim, colocou a mão na minha bochecha fazendo um carinho bem suave,
estava derretendo em suas mãos, conforme foi passando o tempo ele foi se aproximando,
até que finalmente nossos lábios se encontraram, o beijo foi delicado e doce, era como se
fossemos perfeitos um para o outro.
Coloco minha mão em seu peito e o afasto.
-Não podemos. (Disse sem fôlego)
-Por que?
-Somos muito diferentes.
Novamente ele me agarrou agora com mais urgência, me beijou com força,
agarrando minhas costas fazendo com que sentisse vontade de não sair mais dali, até que
recuperei a consciência e o empurrei, levantei e sai correndo em direção da minha casa.
Quando deitei em minha cama fiquei imaginando novamente o que tinha acontecido, estava
sem entender nada como alguém como ele poderia sentir algo por mim.
Joaquim:
Leonor me empurrou e correu para longe, estava com uma grande vontade
de rir, acho que assustei a garota, fiquei mais um tempo sentado no gramado olhando a
noite começar a cair, até que finalmente levantei e fui em direção da residência principal.
-Onde estava filho? (Perguntou minha mãe)
-Encontrei Leonor na plantação e ela me mostrou a fazenda.
- Parece que está começando a gostar um pouco da garota.
-Ela não tem culpa de ser quem é.
-Teve uma vida miserável, não vá magoá-la.
-Mãe, seremos grandes amigos.
Aquela garota nem pode imaginar o que está esperando-a, conheço esse
tipo, é o tipo de pessoa que sonha em mudar de vida, gosta de romance, basta apenas
tratá-la com um pouco mais de carinho que uso habitualmente.
Logo caio no sono, sonho com a capital, sinto tanto a falta dos meus amigos,
das nossas festas juntas. A noite passa como um sopro, logo amanhece e tenho a ideia de
ir ver o nascer do sol, vai que encontro aquela garota novamente, é legal brincar com ela,
acredita em tudo que eu falo. Me lavo e vou tomar café da manhã, acordei tão cedo que
nem meus pais acreditaram em tal feito.
-Acredito que terá um temporal hoje. (Falou sarcasticamente)
-Por que pai?
-Nosso majestoso Joaquim acordou a esta hora.
-Alfredo, não incomode Joaquim. (Minha mãe sempre me protegendo)
-Ele precisa crescer, a fazenda em breve será dele e dos irmãos. (Lá vem ele
com essa história)
-Pai, já falei que não quero a fazenda.
-Você não tem poder de escolha, Roberto e Tomás ficam com a loja na
capital e você e Francisco tomam conta da produção de café. A propósito, já estou cuidando
do casamento da Ana.
-Alfredo, vamos parar de tratar de negócios, vamos apenas tomar um café da
manhã tranquilo.
Finalmente minha mãe cala o meu pai, as semanas vão passando e não vejo
Leonor novamente, será que ela está se escondendo de mim, talvez eu tenha pegado muito
pesado com ela. Quero muito vê-la novamente.
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Atualizado até capítulo 25
Comments
awita_llu
Uau, esse livro é incrível!
2025-07-24
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