Caminhos Cruzados

--Dezembro de 1916.

O momento esperado chegou após anos sem ver seu filho Alfredo e Joaquina esperam pelo retorno do seu desordeiro filho caçula, foram até a cidade aguardar o trem que chegava da capital onde Joaquim havia crescido. A estação de trem não era muito grande, tinha um pequeno guichê onde podia-se comprar os bilhetes e alguns bancos onde todos podiam aguardar, sua estrutura feita em tijolos a vista e uma pequena plataforma onde o trem parava.

-Será que Joaquim não ficará chateado de voltar? (Falou Joaquina)

-Ele não tem opção, retornava ou Roberto o expulsava de casa. (Falou sério)

-Roberto também não tem muita paciência com seus irmãos, pensam que todos tem que ser como ele. (Joaquina deu um longo suspiro)

-Roberto segurou muito bem as pontas junto de Berta, eu no lugar dele faria o mesmo.

-Você também não tem muita paciência com crianças, por isso mandou meus filhos para longe. (Alfredo abraçou sua esposa)

-Joaquina, você sabe que não foi assim, acredito que não gostaria que seus filhos fossem uns caipiras, como o povo da fazenda.

Joaquina deu um leve suspiro e balançou a cabeça suavemente concordando com seu marido, era uma linda tarde de verão, tinha um leve vento que batia suavemente nos seus cabelos negros, sua pele clara e olhos claros chamavam atenção por onde passava, alguns diziam que ela era a mulher mais linda da região.

Alfredo com seus cabelos grisalhos, pele parda e olhos escuros, não chamava tanta atenção pela sua aparência, mas sim pela sua personalidade egocêntrica, já sua esposa tinha uma personalidade extremamente gentil.

Joaquina e Alfredo estavam esperando na estação olhando atentamente para os trilhos do trem, ambos contando os segundos para o retorno do seu filho. A estação tinha janelas e portas com os cantos arredondados, muitos entalhes de madeira, que com o passar dos anos a tinta acabou se desgastando, próximo as paredes tinham bancos rústicos para que o público pudesse aguardar a chegada de seus familiares ou a hora de sua partida.

-Será que meu filho é tão lindo quanto imagino. (Falou imaginando)

-Deixe de besteira, nada importa se for um vagabundo.

-Alfredo, não fale assim de seu filho. (Falou brava)

-Se esse pivete aprontar pela redondeza vou lhe dar tanto trabalho, que ele não vai conseguir nem respirar.

-Nossa você e Roberto são mesmo pai e filho.

-Claro, ele é lindo e encantador como eu. (Ele riu)

Joaquina apenas balançou a cabeça levemente e deu uma risada, não muito tempo depois o trem chegou, ambos estavam ansiosos, pois fazia muito tempo que não viam seu filho. A visão de seu filho saindo do trem com uma grande mala nas mãos os fez abrir um grande sorriso.

Não muito longe da estação Leonor, entregava seus doces caseiros e geleias que fazia para vender, como era uma pessoa muito doce vários negócios locais pegavam para revender e uma vez na semana ela vinha repor o estoque e pegar os valores arrecadados com as vendas.

-Bom dia, senhora Francisca, como está hoje? (Falou sorrindo)

-Minha menina, estou bem, e fico feliz em lhe contar que vendemos todas as suas geleias. (Falou dando um abraço em Leonor)

-Isto é uma boa notícia.

-Claro, minha querida, como vai o pessoal da vila?

-O filho de Lúcia e João, já começou a dar seus primeiros passos. (Coloco o cabelo para trás)

-Que bênção, tome aqui o valor arrecadado da semana.

-Francisca muito obrigado por me apoiar. (Dou um grande abraço nessa grande amiga)

-Leonor, você é filha de todos nós, e todos somos pais muito orgulhosos do que se tornou.

-Assim você me faz chorar. (Secou suavemente as lágrimas que correram por sua face)

-Você sabe minha querida, qualquer coisa que precisar só falar.

-Obrigado, vou indo, ainda tenho um longo caminho a percorrer.

A venda da Dona Francisca, não era muito grande, mas tinha um pouco de tudo, mesmo com as paredes desgastadas devido a idade do prédio, era um local muito limpo. Conforme o dia foi passando Leonor entregou seus doces a mais alguns comerciantes da região e hoje seu dia havia rendido, pois quase tudo que deixou na semana anterior foi vendido. Leonor tinha faturado um bom dinheiro, finalmente iria conseguir comprar roupas novas, pois as suas já estavam velhas e gastas.

Quando terminou de coletar o valor arrecadado com suas vendas, foi até a loja de roupas de Anabeth, era uma loja humilde, mas suas peças tinham ótimo preço e uma boa qualidade.

-Boa tarde Anabeth!

-Boa tarde, no que posso lhe ajudar?

-Preciso de algumas roupas novas. (Falou sorrindo)

-Dá para perceber querida. (Usou um tom de sarcasmo)

Mesmo Anabeth sendo uma mulher arrogante, ela sempre esteve disposta a ajudar Leonor.

-Venha, tenho algumas peças que vão ficar muito boas em você.

-Obrigado!

Não muito tempo se passou e Leonor já estava saindo com sacolas na sua mão com algumas roupas, andando a caminho da fazenda, pela estrada de terra, ela avistou Alfredo e Joaquina.

Alfredo parou com urgência o veículo, ao avistar aquela pequena garota na estrada.

-Leonor, está a caminho da fazenda?

-Sim, senhor Alfredo.

-Venha, entre lhe damos uma carona, estamos voltando à fazenda também.

- Agradeço, mas não quero incomodá-los.

-Deixe de besteira, venha querida. (falou Joaquina)

Apesar de seu receio, Leonor subiu, sentou-se ao lado de um rapaz com um olhar muito penetrante, seus olhos escuros contrastam contra a sua pele clara, o que fez pela primeira vez a jovem garota imaginar como seria se alguém com esta aparência gostasse dela.

-Leonor, este é nosso filho Joaquim, acabou de voltar da capital. (Falou Joaquina)

Leonor apenas balançou a cabeça para concordar.

-Quem é a senhorita? (Perguntou Joaquim)

-Leonor.

-Isto já sei, sua história?

Que garoto arrogante ela pensou, mal o conheceu e ele já quer detalhes de sua vida.

-Moro na Vila da fazenda, junto com os trabalhadores.

-Entendi, é apenas mais uma funcionária da fazenda.

Neste momento Leonor teve uma pequena vontade de dar um tapa na cara deste moleque, e sua primeira impressão sobre o rapaz logo se desfez.

-Deixa de ser arrogante garoto, Roberto não lhe ensinou modos. (Falou Alfredo)

-Não fui arrogante, apenas constatei os fatos.

-Leonor, não é nossa funcionária, mas sim filha de antigos funcionários. (Contou Alfredo)

-Não precisa explicar tudo para Joaquim, esta é a vida privada de Leonor.

Devido ao clima a conversa esfriou e o resto da viagem seguiu com um silêncio ensurdecedor. Ao chegar na fazenda deixaram Leonor, na vila e seguiram para a residência principal.

Na vila:

-Leonor, voltou cedo hoje. (Questionou Lucia)

-Sim, o Senhor Alfredo e a Senhora Joaquina me deram carona.

-Eles têm um grande coração mesmo, o que tem nestas sacolas.

-Comprei algumas roupas já que as minhas estão muito velhas.

-As crianças estão lhe esperando para o jantar, se apresse e guarde suas coisas.

Quando seus pais faleceram, Leonor, ficou morando junto com os melhores amigos de seus pais, Lúcia e João. Apesar de sua casa ser simples e terem quatro filhos, eles a acolheram como se fosse mais uma de suas filhas e Leonor sempre retribuiu com muita gentileza e sempre ajudava a cuidar das crianças.

Na residência principal:

-Você mal chegou e logo nos fez passar vergonha. (Falou batendo na mesa)

-Por que vergonha mãe?

-A garota. (Deu um olhar afiado)

-O que tem?

-Os pais dela eram nossos melhores funcionários.

-Você mesma disse eram, porque tem que dar carona a uma ninguém.

-Seu pivete. (Disse Alfredo indignado)

-Os pais dela morreram no grande incêndio da vila antes de você nascer, ela tinha seis meses, foi criada pelos funcionários da fazenda.

Joaquim virou as costas para seus pais e seguiu em direção ao seu quarto, já fazia anos que não retornava, e nunca queria voltar, a sensação de estar em volta de caipiras, como ele dizia, o trazia apenas desprezo.

Quando chegou ao seu quarto, deixou suas malas próximas ao guarda roupa e se deitou em sua cama, devido ao cansaço da viagem logo pegou no sono.

Na vila:

Leonor já tinha jantado com as crianças e com seus amigos, estava cansada do trabalho, mas também realizada, fazia tempo que não via tanto dinheiro, quando se deitou não levou muito tempo dormiu pesadamente.

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