2 – O Imortal Caído

Capítulo 2 – O Imortal Caído

A noite em Vale Sereno era clara e silenciosa. O céu parecia maior ali, longe das luzes artificiais da cidade.

Vale Sereno era uma pequena cidade do interior, cercada por morros suaves e extensos campos verdejantes. As ruas eram de terra batida, e poucas casas tinham luzes acesas naquela hora. Um vilarejo simples, onde todos se conheciam pelo nome e a vida seguia no ritmo tranquilo da natureza.

Harry desceu do ônibus com a mochila pesada nas costas e respirou fundo o ar fresco e úmido daquela terra. O cheiro da mata e da terra molhada trazia memórias antigas, de uma infância distante e feliz. Seguindo pela estrada de chão, avistou a casa simples e modesta de seu tio Antônio — um senhor de cabelos grisalhos, rosto marcado pelo tempo e um sorriso acolhedor.

Ao chegar, a porta se abriu devagar e Seu Antônio apareceu no batente, enxugando as mãos no avental.

— Harry, rapaz! Finalmente chegou! — disse o tio, com voz rouca, mas calorosa. — Pensei que não vinha mais.

— Tive umas coisas pra resolver... não foi fácil — respondeu Harry, com um leve sorriso cansado.

— Pois entra logo. A janta tá quase pronta, mas preciso de uma força aí. Vem me ajudar na cozinha, menino.

Na cozinha simples, Harry lavou os legumes enquanto Seu Antônio mexia uma panela no fogão à lenha. O silêncio entre eles era confortável, quebrado apenas pelo chiado do fogo e o tilintar de utensílios.

— E como vão as coisas na cidade grande? — perguntou o tio, enquanto cortava uma cebola.

— Difíceis, tio. Perdi o emprego, me bati com uns caras e... bem, resolvi voltar pra cá, pelo menos por um tempo.

— Tá certo, Harry. Aqui é devagar, mas tem paz. Vai te fazer bem.

Após a janta simples, Harry ajudou a lavar a louça e se preparou para descansar. Lá fora, o céu escurecia ainda mais, e as estrelas começavam a surgir, pontuando o firmamento.

Mais tarde, saiu e se deitou no capô enferrujado do velho trator do sítio, olhando para o céu infinito. O cheiro de mato e terra úmida era nostálgico, quase reconfortante.

Ele suspirou, tentando organizar os pensamentos. Tudo tinha acontecido rápido demais — a surra, a demissão, a volta para o interior. E agora ali estava ele, sob o mesmo céu que observava quando era criança, tentando entender o rumo de sua vida.

Foi então que algo estranho aconteceu.

Uma luz cruzou o céu — primeiro como uma estrela cadente... mas então desacelerou. Mudou de direção. E veio em sua direção.

Harry arregalou os olhos, levantando-se de um salto. A luz ficou mais forte e tomou a forma de... um homem? Um ser humano flutuando no ar?

— Mas o quê...?

Ele tropeçou para trás, caindo de costas na terra. Quando olhou de novo, a figura pairava a poucos metros do solo, vindo diretamente até ele. Harry correu até a casa, trancou a porta, fechou as janelas e respirou fundo, tentando entender se estava delirando.

Mas, assim que se virou... ele estava ali.

Alto, bonito, com uma aura fria e imponente. Usava vestes longas azul-acinzentadas, manchadas de sangue, e seu rosto estava pálido, quase transparente sob a luz da cozinha. Os olhos, profundos como o céu noturno, pareciam ver tudo.

— Fantasmaaaa! — gritou Harry, recuando.

O homem arqueou uma sobrancelha, irritado.

— Como ousa! — sua voz era grave, cheia de poder. — Sou um imortal, e você me compara com um simples fantasma?

Harry engoliu seco. O ar parecia mais pesado agora. A presença do estranho ocupava todo o espaço.

— D-desculpa... é que... você apareceu do nada... voando! — tentou se justificar, gaguejando.

O homem olhou em volta com certo desdém. Seus ombros tremiam levemente, e ele tossiu sangue na palma da mão.

— Não tenho tempo para isso... estou ferido... gravemente. Este mundo é mais fraco do que imaginei...

Ele caiu de joelhos. Pela primeira vez, parecia humano. Vulnerável.

Harry, ainda trêmulo, deu um passo à frente.

— Você... precisa de ajuda?

O homem não respondeu de imediato. Apenas tirou um anel do dedo e o estendeu para Harry. O anel parecia antigo, com inscrições douradas em espiral. Quando Harry tocou nele, sentiu um leve formigamento... mas nada mais.

— Está selado. Você ainda não tem Qi suficiente para ativá-lo — disse o imortal, como se lesse seus pensamentos. — Mas um dia... talvez consiga.

Ele aproximou o dedo indicador da testa de Harry.

— Escute, jovem... meu nome é Long Hai. Venho dos Reinos Celestiais. Estava em batalha contra um demônio ancestral... fomos arremessados por um buraco de minhoca, criado pela destruição de um artefato sagrado. Ambos fomos tragados e jogados neste mundo inferior.

A ponta de seu dedo encostou entre as sobrancelhas de Harry, e uma torrente de imagens explodiu em sua mente.

Harry cambaleou para trás, ofegante. Dentro da visão, viu flashes de uma batalha feroz. Long Hai e um demônio colossal lutavam nos céus, trocando golpes tão poderosos que despedaçavam montanhas flutuantes. Ambos estavam mutilados — braços rasgados, sangue negro e vermelho manchando o campo de batalha etéreo.

No momento final, ambos usaram ataques desesperados. O demônio gritou enquanto um dos olhos era perfurado pela espada de Long Hai. Em resposta, cravou suas garras no abdômen do imortal. Uma explosão envolveu os dois, e a imagem se distorceu — engolidos pelo vazio dimensional.

— Ferido... mas não morto... o medalhão vai brilhar quando ele estiver próximo... você deve tomar cuidado, Harry...

A voz de Long Hai ecoou, e as imagens desapareceram.

— Estou lhe passando a Técnica de Cultivo Básica do Qi... é tudo que posso fazer. Guarde este anel. E este colar... entregue-o à minha família, se conseguir chegar ao meu mundo novamente.

O colar caiu na mão de Harry. Era um medalhão prateado, com um dragão em alto-relevo e uma gema azul cintilando no centro.

O imortal sorriu, mas seus olhos estavam vazios. A próxima tosse foi profunda, e seu corpo começou a brilhar. Em poucos segundos, ele se desfez em pó dourado, levado pelo vento noturno até desaparecer completamente do mundo.

Harry caiu de joelhos, sem palavras.

O que havia acabado de acontecer?

Após isso, desmaiou — e sonhou com tudo o que viu: a guerra celestial, o demônio mutilado, a busca desesperada de Long Hai por um herdeiro...

E agora, tudo estava em suas mãos.

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