Capítulo 3: Palavras Não Ditas e Olhares que Queimam
O dia seguinte parecia igual a todos os outros. Mesmas aulas, mesmo calor, mesma pressa nos corredores da universidade.
Jae-Hyun já estava lá, como sempre. Mas dessa vez, sem notebook. Só com um caderno, uma caneta preta e... um copo de chá.
Sem dizer nada, ele empurrou uma xícara para Luan.
Jae-Hyun
— Camomila. Sem açúcar. Achei mais seguro. — disse seco, mas com um canto da boca quase sorrindo.
Luan
— Tá tentando fazer as pazes com chá de velho?
Jae-Hyun
— Melhor que café voador.
O silêncio se instalou por alguns minutos, mas era um silêncio estranho. Não era desconfortável. Era carregado. Como se alguma coisa estivesse entre eles e nenhum dos dois sabia o que fazer com isso.
Luan
— Por que você faz isso? — Luan perguntou de repente, a voz mais baixa. — Se afastar de todo mundo. Fingir que nada te afeta.
Jae-Hyun parou de escrever. O som da caneta cessou.
Jae-Hyun
— Você não entende...
Luan
— Então me explica. — Luan encarou. — Você age como se estivesse acima de tudo, mas ontem… quando derrubei o café… foi a primeira vez que eu vi você... humano.
Jae-Hyun ergueu os olhos devagar. E, pela primeira vez, encarou Luan de verdade.
Jae-Hyun
— Porque se eu não agir assim, eu desmorono.
Jae-Hyun
— Porque estar longe de casa, num país que não é meu, onde as pessoas acham que eu sou estranho… é mais fácil fingir que não sinto nada.
O silêncio agora era outro.
Luan ficou sem palavras. Por um momento, só observou o rosto de Jae-Hyun. A tensão na mandíbula. O jeito como ele não piscava. Como se qualquer fraqueza fosse perigosa.
Luan esticou a mão, quase sem pensar, e tocou a dele sobre a mesa. Foi um toque leve. Mas suficiente para fazer Jae-Hyun olhar suas mãos, como se nunca tivesse sido tocado daquela forma.
Luan
— Você não precisa fingir comigo.
Jae-Hyun puxou a mão de volta, mas não rápido. Devagar. Como se não quisesse, mas tivesse medo de querer.
Jae-Hyun
— Isso... não é uma boa ideia. — murmurou.
Luan
— Por quê? — Luan perguntou, mais perto.
Luan
— Porque você sente alguma coisa?
Olhos nos olhos. Tensão no ar. Corações acelerados.Mas Jae-Hyun apenas se levantou.
Jae-Hyun
— A gente se vê amanhã.— disse, antes de sair, sem olhar pra trás.
Luan ficou ali. Com o gosto da camomila na boca. E a certeza de que o que estava crescendo entre eles... não era mais só implicância.
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