CAPÍTULO 4

📖 CAPÍTULO 4 – DISSIMULADOS

A cafeteria ficava em uma esquina charmosa do Soho.

Era o tipo de lugar com poltronas de veludo, quadros de arte moderna e cheiro de café moído na hora. Aquelas cafeterias que aquecem a alma só de entrar.

Valentina escolheu a mesa do fundo, ao lado da janela.

Estava com óculos escuros, uma camisa social branca e um coque despretensioso no topo da cabeça. Linda, elegante… exausta.

Aria chegou como sempre: com leveza, charme e uma bolsa vintage pendurada no ombro.

— “Você está um caco... chique, mas um caco.” — disse, sentando-se.

Valentina soltou um riso breve.

— “É assim que a gente sobrevive nesse mundo, né? Fingindo que tá tudo bem em cima de um salto.”

— “Café ou taça de vinho logo cedo?” — Aria provocou.

— “Hoje… os dois. E talvez um cigarro, mesmo sem eu fumar.”

As duas riram, e por um momento, parecia que Valentina era só uma mulher comum, falando besteiras com a melhor amiga. Mas o peso nos olhos dela estava ali, mesmo por trás dos óculos escuros.

— “Tá piorando, né?” — Aria perguntou, pegando o cardápio, mas sem desviar o olhar.

Valentina não respondeu de imediato.

Abaixou os óculos, apoiou os cotovelos na mesa e encarou a amiga.

— “Você já teve a sensação de que sua vida inteira foi construída em cima de um erro?”

Aria franziu a testa.

— “Todo mundo erra na escolha de shampoo. Agora casamento é outra escala.”

Valentina sorriu, mas o sorriso morreu rápido.

— “Gavin não me toca mais, Aria. Quando toca… parece que tá se vingando de mim. Eu fico me perguntando se fui idiota, se fui carente, se só aceitei ele por medo da solidão.”

— “Amiga…”

— “Sabe o que é pior? Eu não sinto mais raiva. Eu só não sinto nada.”

Aria segurou sua mão por cima da mesa.

— “Isso é o pior mesmo. O vazio. Você sempre foi intensa, Val. Mesmo no luto, mesmo sobrecarregada, você ainda sonhava, queria mais. Agora você só… sobrevive.”

Valentina desviou o olhar. Olhou a rua. As pessoas passando. O mundo se movendo.

Ela parada.

— “Ontem à noite ele… me usou. E perguntou se eu tinha gozado.”

Aria a olhou, imóvel.

— “Você disse que sim?”

Valentina assentiu com a cabeça. Pequeno. Vergonhoso.

— “Por quê?”

— “Porque… ele fica magoado se eu não fingir. E eu fico com preguiça de discutir. De ter mais um motivo pra ele me desprezar.”

— “Ele não te merece. Nunca mereceu.”

— “Eu também não me mereço mais.”

O silêncio entre elas foi mais sincero que qualquer outra fala.

Até que Aria, com o olhar cheio de decisão, disse:

— “Sexta-feira à noite. Você vem comigo.”

— “Pra onde?”

— “Surpresa. Vai estar linda, com um vestido colado e um salto daqueles que fazem o mundo parar. E vamos pra um lugar onde ninguém te conhece. Onde ninguém espera nada de você. Onde você pode simplesmente… existir.”

Valentina hesitou.

— “Não sei se consigo.” eu engordei CINCO kilos minha amiga.

— “Então tenta por mim. Só essa vez.” E você está mais gostosa, olha essa bunda enorme essas coxas um e esses peitões são lindos pocha.

Ela pensou.

E então sussurrou:

— “Tá. Sexta-feira.”

Aria sorriu como se tivesse vencido uma guerra.

E, no fundo, talvez tivesse mesmo.

Enquanto isso, do outro lado da cidade, no andar secreto de um edifício comercial cinzento no distrito financeiro de Manhattan, Gavin fechava a porta do próprio escritório e trancava com a chave.

Ele checou se havia câmeras ou microfones.

Ligou um número sem identificação.

O coração batia rápido. As mãos estavam úmidas.

— “Fala.” — respondeu uma voz masculina grave, abafada. Distante.

— “Senhor… tudo está em andamento. O investimento da G.S. Contracting já entrou na conta da Monroe. Os números foram todos ‘ajustados’ como o senhor orientou.”

Silêncio do outro lado da linha.

— “O que eu quero saber é se vai dar tempo, Gavin. A lavagem precisa estar concluída até sexta. Você tem… até sexta. Mais do que isso e vão começar a rastrear cada contrato. E se eu cair… você afunda junto comigo.”

— “Sim, senhor. Já notei auditores desconfiando, inclusive na contabilidade interna. Mas ninguém ainda tem provas. Só... ruídos.”

— “Você me garantiu que ela assinaria tudo sem olhar.”

— “Ela assinou. Só que agora está mais atenta. Teve um olhar estranho ontem... como se algo estivesse errado.”

A voz mudou de tom.

— “E se a boneca da sua esposa desconfiar, Gavin... você já sabe o que fazer.”

Gavin engoliu seco.

— “Ela não vai descobrir. Prometo. Só preciso até sexta-feira.”

Do outro lado, silêncio.

— “Então faça acontecer. Ou eu mando alguém limpar a bagunça por você. E não vai ser com palavras.”

A ligação caiu.

Gavin deixou o celular na mesa e passou a mão no rosto.

O suor descia pelas têmporas.

Seu reflexo no vidro da janela era de um homem acabado, acorrentado à própria ganância.

Ele respirou fundo.

Olhou a cidade.

E pensou:

“Até sexta. Depois disso… ou estou salvo… ou morto.”

Na cobertura dos Monroe, Valentina escolhia um vestido preto justo, simples, mas que deixava suas curvas delicadamente marcadas.

Aria tinha razão: ela precisava de uma noite.

Mal sabia ela que essa noite seria o começo da virada.

O início do caos.

E a primeira vez que seus olhos encontrariam o homem que transformaria toda sua existência.

Mas ainda não era sexta.

E a casa continuava sem cor, ela guardou o vestido e ficou ali naquele casa sem cor e sem som.

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