Devotos do Caos, Escravos do Desejo.
#3 Cortes Sob a Pele.
O alojamento masculino era abafado.
Janelas antigas, colchões firmes demais, corredores estreitos onde cada som ecoava como um sussurro em um túmulo mal fechado.
Adrian não se importava.
Na verdade, preferia o silêncio.
Instalou-se com a praticidade de quem já tinha se mudado outras vezes. Pendurou poucas roupas, enfileirou livros técnicos sobre esporte, nutrição e... psicologia comportamental.
Sebastian viu de relance. Guardou essa informação como quem anota a fraqueza de um inimigo.
Sebastian
Psicologia, Adrian? Tá tentando entender a mente dos oponentes agora?
Adrian
Tentando entender o tipo de gente que precisa chamar atenção o tempo todo.
Sebastian
Você fala muito pra alguém que vive se escondendo.
Adrian apenas ergueu uma sobrancelha.
Não respondeu.
Mas o olhar que lançou foi como uma pressão no ar. Sufocante.
Naquela noite, o técnico convocou uma reunião com o time.
— Vamos nos preparar pro campeonato estadual — anunciou. — E sim, Sebastian continua como capitão. Mas Adrian vai dividir o comando tático com ele.
Sebastian não demonstrou reação.
Mas por dentro, algo torceu com força.
Sebastian
💭Dividir o comando?
Com aquele robô sem alma?
Depois da reunião, encontrou Adrian no corredor. A luz fraca deixava sombras nos olhos dele. As costas apoiadas na parede, os braços cruzados. Um fantasma esperando algo.
Adrian
Não precisa ficar tão tenso. Não vim roubar sua coroa
Adrian
*Disse, antes que Sebastian abrisse a boca.*
Sebastian
Não é a coroa que me preocupa*rebate*
Sebastian
É o que tem debaixo dela.*da um passo a frente*
Adrian
Então desvia.*se aproxima*
Sebastian
Eu não desviou.*parado de frente pra ele*
Eles estavam tão próximos agora que podiam sentir a respiração um do outro. Um segundo de silêncio a mais e aquilo teria sido perigoso.
Mas Adrian virou o rosto e saiu, como sempre fazia.
Sebastian ficou ali. Sozinho.
Quente por dentro.
Como se algo estivesse queimando em um lugar onde antes havia apenas ego.
Mais tarde... No vestiário vazio
A água do chuveiro pingava.
Sebastian estava sozinho. Toalha na cintura, cabelo molhado, olhos perdidos no nada.
Até a porta ranger.
Passos. Lentos.
Adrian
*Entra.
Silencioso, como um predador de passos controlados.*
Sebastian
*Trincando os dentes.
Olhando pelo canto do olho.*
Adrian
*Se despindo com a mesma calma calculada de sempre.*
Corpo definido.
Marcas de treino.
O silêncio entre eles mais barulhento do que qualquer provocação.
Sebastian
O que foi agora? Vai me acusar de ocupar muito espaço no chuveiro também?
Sebastian
*diz com ironia, a voz rouca*
Adrian
Você tá se acusando sozinho*responde sem olhar*
Adrian
Insegurança é uma merda, né?
Sebastian
*vira de frente para ele olhos semicerrados*
Sebastian
Não joga isso pra cima de mim, Adrian.
Adrian
Eu não tô jogando. Tô te mostrando o espelho.
Dessa vez... o silêncio que veio depois era diferente.
Menos guerra. Mais veneno.
E algum tipo de tensão que gruda na pele como suor frio.
Sebastian
*deitado na cama encarando o teto, ou tentando*
A imagem de Adrian sem camisa.
A resposta afiada.
A forma como os olhos dele nunca vacilavam...
Tudo aquilo o tirava do sério.
Sebastian
💭Ele me desafia de um jeito que ninguém mais faz.
Ele... me olha como se soubesse de algo que eu não sei.
Sebastian virou de lado, inquieto.
Sentia raiva.
Desejo.
Orgulho ferido.
Mas acima de tudo: sentia algo que ainda não tinha coragem de nomear.
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