Devotos do Caos, Escravos do Desejo.
#2 Fissura no Trono.
Sebastian estava acostumado a ser o centro.
Centro do time.
Centro das atenções.
Centro dos olhares . Fosse por respeito, desejo ou medo.
Mas Adrian não olhava.
E isso... incomodava.
Quando o treino terminou, os jogadores dispersaram rindo, alguns suados e ofegantes, outros de cabeça baixa pelas broncas do técnico. Sebastian ainda estava na quadra, girando a bola nos dedos com o olhar fixo no novato que agora guardava a mochila com a calma de um monge.
Sebastian
Você não vai cumprimentar o capitão?
Sebastian
*a voz de cortou o silêncio como lâmina.*
Adrian
*ergueu os olhos, encarou-o por um segundo. Nenhum sorriso, nenhuma reverência.*
Sebastian
*força um sorriso*
Sebastian
Aqui a gente joga... e também respeita a hierarquia.
Adrian
Então vai precisar aprender a lidar com a minha presença.
Adrian respondeu, puxando a alça da mochila e passando por ele sem esbarrar, mas deixando no ar algo mais denso do que suor.
Algo que Sebastian não soube nomear.
Ainda.
A fama de Adrian chegou antes dele.
Mas viver com ele... era diferente.
Adrian era obsessivamente focado. Chegava antes de todo mundo, saía por último. Tinha uma ética de treino implacável, não ria das piadas dos colegas e, o mais imperdoável de tudo... não parecia se importar com a presença de Sebastian.
E isso tirava o capitão do sério.
— Cara, esse moleque vai acabar com a moral do time — murmurou Bruno, um dos veteranos. — Ele não fala com ninguém, não confraterniza.
— Ele se acha melhor que a gente — completou Diego.
Sebastian não respondeu. Mas por dentro, uma parte dele concordava.
Ou... estava com medo de que Adrian fosse mesmo melhor.
Naquele dia, o técnico interrompeu o treino coletivo.
— Vamos fazer duplas no bloqueio. Sebastian com Adrian.
Sebastian
*soltou um risinho cínico, como se dissesse: tá de brincadeira?*
Adrian
*Apenas caminhou até ele, parando ao seu lado.*
Sebastian
Não precisa me acompanhar
Sebastian
*diz baixo, sem encarar*
Sebastian
Só não me atrapalha.
Adrian
Eu faço o meu trabalho. *responde seco*
A bola veio.
Bloqueio.
Outra bola. Defesa.
Terceira jogada, Sebastian foi no alto, mas Adrian estava lá antes. Os dois saltaram juntos.
O corpo de Adrian tocou o dele no ar.
Rápido. Intenso. Sutil.
Mas Sebastian sentiu.
Pele quente. Músculo tenso. O cheiro de sabão, perfume e suor.
Sebastian
*Caiu no chão com os dentes trincados.*
Sebastian
Tá tentando me provocar?
Adrian não sorria. Mas havia algo em seus olhos. Um brilho. Uma arrogância fria.
E aquilo começou a grudar na mente de Sebastian como veneno.
No vestiário, o clima ainda era pesado.
Sebastian se despiu rápido, a toalha pendurada nos ombros. Quando Adrian entrou, o barulho dos outros ficou mais baixo.
O novato passou direto pelas conversas, abriu o armário, tirou a camiseta.
Costas largas. Marcas de treino. Silêncio absoluto.
Sebastian desviou o olhar. Mas por dentro, um calor estranho se acumulava no estômago. Um tipo de frustração que ele ainda chamava de raiva.
Sebastian
Você se acha frio, né?
*A voz saiu antes que ele pensasse.*
Adrian
*o encara através do espelho*
Adrian
Eu só não ajo como se o mundo girasse ao meu redor.
Aquilo atingiu Sebastian como um soco invisível.
Mas ele apenas sorriu. Falso.
Sebastian
Continue assim, gélido... Vamos ver quanto tempo dura antes de você derreter.
Adrian não respondeu. Mas o silêncio dele era pior que um tapa.
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