MISTÉRIO

AMELIE

O clima não poderia ficar mais estranho na sala do reitor.

Professor _ Independente disso, você tem um convite para fazer a Amelie.

Carl_ Sim, eu gostaria de convidar a senhorita para participar da minha próxima turnê.

Amelie_ Eu? Tem tanta gente talentosa na orquestra.

Carl_ O seu solo ao piano me chamou a atenção. Conversei com o seu maestro, que ficou triste em te perder, mas concordou comigo que você precisa alçar voos maiores.

Amelie _ Se vocês acham que tenho capacidade para fazer parte da sua orquestra, eu só posso aceitar e agradecer a confiança de todos.

Carl_ Ótimo, agora pode levar-me para conhecer a sua mãe?

Amelie _ Claro, até porque ela não irá me deixar viajar com você, se não te conhecer.

Nós saímos para o estacionamento e ele abre a porta do seu carro para mim. Educado e solícito, que diferença do Austin ontem. Indico a direção da minha casa, num bairro afastado.

Carl_ Você mora aqui?

Amelie _ Sim, ainda moro com a minha mãe, não parece, mais é um bom bairro.

Carl_ Só fiquei surpreso, eu também já morei em bairros assim no começo da carreira. Os meus pais eram imigrantes, eu nasci aqui, mas tenho dupla cidadania.

Amelie _ Por isso construiu a sua carreira na Alemanha? Também lá e o berço da música clássica!

Carl_ Fui para lá devido a uma tragédia que se abateu sobre a minha vida. Mas você tem razão, as oportunidades lá são melhores para músicos clássicos.

Amelie _ Chegamos. Essa é a minha casa.

Carl_ Vejo que a sua mãe gosta de plantas, parece que nada mudou.

Amelie _ Como assim? Você conhece a minha mãe?

Carl _ Vou tirar a dúvida agora!

Nós entramos em casa e a minha mãe está de costas, observando o seu aluno, um menino de uns seis anos, martelando as teclas do piano.

Mabel_ Não querido, com suavidade, o piano não te fez nada para ser massacrado dessa forma. A aula acabou por hoje, sente-se à mesa e faça o que você gosta.

O menino pula do banco do piano e corre para desenhar.

Amelie _ Mãe?

Mabel_ Chegou querida? As vezes acho que a mãe desse garoto só o colocou aqui para passar umas horas longe dele.

Ela fala comigo ainda de costas

Amelie _ Mãe, temos visita.

Ela se vira e os dois se encaram. E a minha mãe cai desmaiada.

Amelie _ Mãe?

Carl_ Ela está diferente, mas é ela.

Amelie _ Me ajude por favor, vamos colocá-la no sofá.

Eu o olho pedindo ajuda e ele também parece estar precisando de ajuda, está chorando novamente pálido.

Amelie _ Carl?

Eu o chamo tirando-o do transe, ele a pega no colo e se senta no sofá com ela no colo, abraçando o seu corpo e chorando.

Amelie _ O quê está fazendo? Porque está abraçando a minha mãe assim?

Carl_ Me deixe abraçá-la, depois vou ficar com raiva, agora só quero abraçá-la e sentir novamente ela em meus braços.

Amelie _ Vocês se conhecem?

Carl_ Sim, ela está diferente, mas reconheci a sua voz e o seu olhar.

Amelie _ Ela não volta do desmaio, estou preocupada.

Carl_ Quando ela estava grávida, também me deu um susto assim, quando desmaiou, no meio da orquestra.

Amelie _ Ela tocava numa orquestra?

Carl _ Sim, tocávamos juntos, foi assim que nos conhecemos.

Amelie _ Ela nunca fala do passado.

Carl _ Nós nos amávamos tanto só não sei porque fugiu.

Amelie _ Você a procurou?

Carl _ Sim, muito. Os pais dela não queriam o nosso casamento, então pensei que eles a levaram para longe. Mas eles estavam tão desesperados quanto eu, e também procuravam por ela. Contrataram muitos detetives, mas ninguém a encontrou. Meses depois encontraram o seu corpo queimado no próprio carro, e você presa a cadeirinha também morta, ou pelo menos foi isso que me disseram.

Amelie _ Meu Deus! Que tragédia! Espera! Eu?

Carl_ Ainda não entendeu? Você é minha filha.

Amelie _ Não, sinto muito, não sou, a Mabel não é a minha mãe biológica, ela me adotou!

Ele a coloca no sofá e me pega pelos ombros, observando o meu rosto.

Carl_ Não é possível! Você é a perfeita mistura de nós dois, tem os meus olhos, e o nariz dela, nunca notou?

Amelie _ Acho que você está vendo o que quer ver!

Carl _ Tenho uma foto dela, vou te mostrar.

Ele coloca a mão no bolso e tira uma carteira e de dentro dela uma foto, e me mostra, parece com a minha mãe, mas eu não sei. Olho de novo para tentar me reconhecer naqueles traços, mas ela acorda no sofá gemendo.

(Foto tirada da Internet)

Mabel_ Aí Meu Deus! Que dor de cabeça! Querida, pegue o meu remédio por favor.

Carl _ Como vai Layla?

Ela olha para ele e pisca tentando enxergá-lo. Põe a mão na cabeça de novo.

Amelie_ Quando ela tem essas dores de cabeça, ela nem consegue enxergar muito bem.

Carl_ Ela tem isso com frequência? Já procurou um médico?

Amelie_ Sim, ela fazia tratamento em Connecticut, mas já estava bem melhor, faz tempo que não tem uma crise. Foi devido a um acidente que sofreu.

Eu dou o remédio e a levo para o quarto. A deito pensando no que ele disse. Mas a mulher dele toca violino, participava de uma orquestra e a minha mãe só toca piano, nunca nem a vi perto de um violino, e ele acha que somos mãe e filha mesmo. Isso é impossível! Ela não iria me abandonar para depois me adotar.

Com certeza um engano, e ele a chamou de Layla. Porque ela mudaria o próprio nome?

A vida dela sempre foi um mistério para mim, ela só me disse que não tinha família, mas estranhamente, não fala do passado.

Mabel_ Quem está lá embaixo?

Amelie _ Um compositor famoso que convidou-me para tocar com ele, veio te conhecer.

Mabel _ Sinto muito, querida ter essa crise perto dele, num momento tão importante para você.

Amelie _ Não se preocupe com isso, eu sei que ele não vai embora até conversar com você.

Mabel_ Ah, filha, pode dizer a ele que conversamos outro dia, a minha dor está tão forte que até desmaiei.

Amelie _ Não se preocupe com nada mamãe, só descanse.

Fecho a porta do quarto e saio a deixando descansar, penso que ela desmaiou quando olhou para ele, ela estava bem até virar e vê-lo. Como dizia a Agnes, tem algum caroço nesse mingau.

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