Não é isso que quero.

Os dias seguintes à conversa entre Noor e Aroob passaram como um vendaval, enquanto os compromissos profissionais exigiam dela foco total, seu coração oscilava entre a serenidade da fé e o tumulto de uma promessa que parecia cada vez mais próxima de se tornar realidade.

Já Aroob sentia o chão sob seus pés começar a tremer.

Sua mãe, contra todas as probabilidades médicas, estava respondendo incrivelmente bem ao tratamento, os médicos diziam que o tumor havia começado a regredir e, embora o caminho ainda fosse longo, a esperança havia reacendido em todos da família.

Sra Ambar: É um milagre, filho.

Disse sua mãe, em uma manhã ensolarada, enquanto tomava chá de hortelã no jardim. 

Sra Ambar: Deus ouviu nossas preces.

Aroob assentiu, mas o alívio que esperava sentir não veio, no lugar, sentia-se... pressionado.

Se antes pensava que teria tempo, agora tudo parecia acelerar e com isso, um sentimento incômodo se instalava: medo. Medo de não estar pronto, medo de fazer Noor sofrer,medo de perder Iman.

Iman, sua advogada brilhante, ainda estava na Europa. Mandava mensagens, fotos, vídeos, sempre linda, sempre segura, sempre cheia de planos e  ele... não sabia como contar, pior: não sabia se queria contar.

Mesmo com seus defeitos, Iman fazia Aroob sentir-se invencível, era como ter uma parceira de guerra, alguém que não exigia romantismo ou explicações,uma aliança poderosa,uma paixão tempestuosa.

“Não preciso perder Iman só porque vou me casar com Noor”,💭 Pensou, numa tarde enquanto dirigia por Dubai. “Posso manter as duas coisas, casamento de fachada com Noor, e meu relacionamento real com Iman, ela entenderia, no final, todos saem ganhando.”💭

Ele só não sabia que a vida nunca aceita esse tipo de barganha sem cobrar seu preço.

Enquanto isso, Noor se entregava com ainda mais intensidade ao trabalho,não por fuga, mas por propósito ,era assim que ela lidava com as incertezas da vida: construindo.

Laylan: Você vai continuar fingindo que não vai casar?

Provocou Layan, enquanto passava os dedos por uma pilha de convites de uma nova parceria internacional.

Noor: Eu não estou fingindo, eu apenas... não estou pensando nisso agora.

Laylan: Noor... sua sogra está se recuperando rápido, vai chegar uma hora em que ela vai querer falar do casamento e não vai ser um jantar simples com os tios,vai ser um evento de sete dias, como manda a tradição,você está preparada pra isso?

Noor: Não estou nem preparada pra chamá-lo de “meu noivo”, quanto mais pensar numa semana de celebrações...

Antes que Layan respondesse, o celular de Noor vibrou,era um número conhecido: a casa da família Al-Hassan.

Ela atendeu, a voz doce da futura sogra ecoando do outro lado.

Sra Ambar: Noor, querida, eu gostaria muito que você viesse aqui hoje,preciso conversar com você,pessoalmente.

A forma como ela pediu não deixava espaço para recusa, Noor desligou e respirou fundo.

Noor: É hoje que começa a contagem regressiva?

Laylan: Que Allah te proteja.

Disse Layan com um riso nervoso. 

Laylan: E se ela te mostrar o vestido de noiva da família... corre.

Noor chegou à casa dos Al-Hassan no fim da tarde, a mansão era ainda mais imponente do que ela se lembrava quando criança,as colunas de mármore branco refletiam a luz suave do entardecer, e as fontes no jardim cantavam uma melodia relaxante, mesmo assim, seu coração batia rápido.

Foi recebida com sorrisos calorosos pela  sra Ambar e por Amirah, a irmã mais nova, que praticamente a arrastou para dentro.

Amirah: Noor! Você está ainda mais linda do que da última vez! 

Disse Amirah, entusiasmada. 

Amirah: Mamãe fala de você o tempo todo,já começou a escrever seu nome como “Noor al-Hassan”! — brincou, piscando.

Noor sorriu sem graça, mantendo a postura calma.

Noor: Que bom que a senhora está bem.

Sra Ambar: Estou melhorando, querida e sua presença ajuda mais do que qualquer tratamento.

Foram até a sala principal, onde chá, tâmaras e doces esperavam sobre uma mesa ornamentada.

Sra Ambar: Noor, sei que tem sido paciente e compreensiva e agradeço por isso, mas agora que me sinto mais forte, gostaria de começar os preparativos do casamento, quero que seja como manda a tradição, sete dias de festa, alegria, oração, dança e bênçãos.

Noor segurou a xícara de chá com mais força, aquilo era real demais, rápido demais.

Noor: Senhora Al-Hassan...Eu acredito que a senhora ainda precisa de tempo para se recuperar completamente,não quero que se preocupe com isso agora,só quero que fique bem.

A mulher sorriu com os olhos marejados.

Sra Ambar: Você tem um coração de ouro, Noor,mas eu preciso disso,preciso ver esse casamento acontecer, é como se minha cura dependesse de vê-los juntos.

Noor abaixou o olhar, desconcertada, sabia que não havia maldade ali, apenas o desejo de uma mãe.

Amirah: Eu prometo que tudo será lindo… Eu vou cuidar de cada detalhe,você só precisa aparecer linda no primeiro dia! Já até falei com a Laylan e com seus tios,quero que tudo seja perfeito, e vou mandar fotos das decorações, dos convites, dos vestidos...

Noor: Amirah... 

Noor tentou dizer algo, mas foi interrompida por mais empolgação.

Amirah: Você vai ter três vestidos, cada um para um dia específico,um será bordado à mão em Istambul! E os outros dois feitos por um costureiro de Beirute e  já separei as músicas tradicionais... ah! E o perfume do seu buquê vai ser personalizado!

Noor riu, sem saber se chorava ou agradecia,apenas assentiu, com um sorriso sem graça.

Noor: Obrigada, Amirah, é muita gentileza sua.

Amirah: Nada disso é gentileza! É amor de cunhada!

Ela respondeu, rindo.

A sogra observava em silêncio, satisfeita, como se aquele momento fosse um presente divino, Noor apenas respirava fundo, tentando manter a calma,internamente, tudo ainda parecia muito confuso.

Ela queria ser grata,queria estar pronta,mas havia algo no fundo de seu coração que sussurrava: “Falta algo, ou alguém.”

Do outro lado da cidade, Aroob encarava o próprio reflexo no espelho de seu escritório,sentia-se dividido,sua mãe estava feliz. Noor era... encantadora, respeitável, a mulher que todos desejavam como nora,mas ela não era Iman e ele ainda não tinha coragem de contar nada.

A mão tremia levemente enquanto segurava o celular,já havia começado a escrever a mensagem para Iman dezenas de vezes, todas apagadas, como contar à mulher por quem era apaixonado que havia prometido se casar com outra? Que manteria o relacionamento com ela escondido, como se fosse uma segunda opção?

Ele sabia que Iman não era do tipo que aceitava ser plano B e  isso o apavorava mais do que qualquer casamento arranjado.

“Vou esperar mais um pouco,contar depois da cerimônia, quando tudo estiver... mais estável”💭

Só que o coração dele já sabia: nada seria estável a partir dali.

Naquela noite, Noor voltou para casa com um misto de emoções, Layan estava esperando com pizza e filmes antigos para aliviar o peso da realidade.

Laylan: Então? Mostraram seu quarto de lua de mel? 

Brincou, ao ver o olhar perdido da amiga.

Noor: Não... mas quase, a mãe dele está decidida e a Amirah quer fazer tudo sozinha, já falou com você?

Laylan: Já. Ela me mandou uma lista de flores, cardápio, tipo de véu e até o cronograma das danças,essa menina é um furacão!

Noor: E eu me sinto como se estivesse dentro dele.

Layan sentou ao lado dela e segurou sua mão.

Laylan: Você não está sozinha, e ... se esse casamento vai mesmo acontecer, que seja do seu jeito,com sua dignidade e sua fé.

Noor assentiu,seu coração ainda estava confuso, mas sua fé continuava firme, sabia que, se entregasse tudo nas mãos de Deus, encontraria o caminho certo, mesmo que fosse um caminho cheio de espinhos.

E, do outro lado da cidade, Aroob fechava os olhos, tentando ignorar a culpa crescente por aquilo que ainda não havia contado… mas que cedo ou tarde, viria à tona.

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