5

O campo de tiro nos fundos da propriedade de Luca estava envolto em névoa matinal quando Daniel pisou no solo úmido. O cheiro de pólvora e terra molhada invadiu suas narinas enquanto ele observava Luca desembrulhar um estojo de couro preto com cuidado quase reverencial.

— *Pensei que máfia só usava pistola velha e AK-47 enferrujado* — Daniel provocou, cruzando os braços.

Luca soltou uma risada baixa, retirando uma Beretta 92F brilhante do estojo. — *Isso é cinema, princesa. Nós preferimos... elegância.*

Ele girou a arma nos dedos com uma habilidade que só anos de prática poderia proporcionar, antes de estendê-la a Daniel.

— *Pega.*

Daniel hesitou por um segundo antes de aceitar o peso frio do metal. A arma era mais pesada do que esperava.

— *Primeira lição* — Luca aproximou-se por trás, seu corpo quente quase tocando as costas de Daniel. — *Nunca aponte pra algo que você não queira destruir.*

Seus braços envolveram Daniel, ajustando sua postura. As mãos de Luca cobriram as dele, reposicionando seus dedos no cabo.

— *Polegar aqui* — sussurrou no ouvido de Daniel, o hálito quente fazendo-o estremecer. — *Dedo indicador fora do gatilho até estar pronto.*

Daniel engoliu seco. — *Eu não sou burro, Bianchi. Sei o básico.*

Luca riu, os lábios perigosamente próximos da orelha dele. — *Ah, mas você não sabe o que eu posso te ensinar.*

Ele se afastou bruscamente, deixando Daniel desequilibrado.

— *Alvo a dez metros. Mostra o que você tem.*

Daniel ergueu a arma, tentando controlar o tremor em suas mãos. A respiração acelerada, os batimentos cardíacos estrondosos em seus ouvidos. Ele puxou o gatilho.

O tiro ecoou como um trovão, a culatra chutou violentamente em sua mão e ele errou o alvo por metros.

— *Puta merda!* — xingou, sentindo o rosto queimar de vergonha.

Luca não zombou. Aproximou-se com passos calculados.

— *Novamente.*

— *Eu—*

— *Novamente, Daniel.*

Desta vez, Luca ficou ao seu lado, observando cada micro movimento. Daniel respirou fundo, levantou a arma novamente. Outro tiro. Outro erro.

No quinto disparo, quando a frustração começava a ferver em suas veias, Luca parou atrás dele novamente.

— *Você está pensando demais* — murmurou, as mãos deslizando pelos braços de Daniel até suas pulsões. — *Isso não é matemática, lindo. É instinto.*

Seu corpo pressionou contra as costas de Daniel, alinhando seus movimentos.

— *Respira...* — uma mão subiu para o peito de Daniel, sentindo sua respiração ofegante. — *...e solta.*

Daniel fechou os olhos por um segundo. Cheiro de couro, tabaco e o perfume caro de Luca. Quando abriu, mirou novamente.

O tiro soou. O alvo de papel estilhaçou no centro perfeito.

— *Bom garoto* — Luca aprovou, os lábios curvando-se em um sorriso perigoso.

Daniel virou-se bruscamente, a arma ainda fumegante em sua mão. — *Não me chame disso.*

Luca não recuou. Avançou, colocando o cano da Beretta contra seu próprio peito.

— *Segunda lição* — desafiou, os olhos negros queimando. — *Se for atirar em alguém, tenha certeza que vai até o fim.*

O pulso de Daniel tremia. A arma parecia pesar uma tonelada.

— *Você é um maldito psicopata* — respondeu, baixando a arma.

Luca riu, rouco, e pegou a Beretta de suas mãos.

— *E você gosta disso* — afirmou, recarregando a arma com movimentos fluidos. — *Amanhã treinamos de novo.*

o eco dos tiros ainda reverberando em seus ossos. Luca, ao volante, mantinha um silêncio incomum, os dedos tamborilando no couro do steering wheel em ritmo irregular.

— *Você fez bem hoje* — Luca finalmente quebrou o silêncio, estacionando próximo à entrada.

Daniel soltou um riso seco. — *Era só atirar em um pedaço de papel, Bianchi. Não é como se eu tivesse matado alguém.*

Luca desligou o motor e virou-se para ele, os olhos escuros refletindo a última luz do dia. — *Todo mundo começa em algum lugar.*

O ar entre eles ficou pesado, carregado de algo que Daniel não queria nomear. Ele desviou o olhar primeiro, abrindo a porta do carro com mais força que o necessário.

— *Vou terminar aquela análise dos fundos* — anunciou, dirigindo-se para a casa sem olhar para trás.

O escritório estava como ele deixara – livros contábeis abertos, notas espalhadas, uma xícara de café frio esquecida sobre a mesa. Daniel afundou na cadeira, tentando focar nos números, mas as mãos ainda tremiam levemente da adrenalina do treinamento.

Horas depois, quando a lua já dominava o céu, um cheiro estranho invadiu o escritório. Doce, picante, familiar. Daniel levantou os olhos para encontrar Luca encostado na porta, um cigarro diferente entre os dedos.

— *O que é isso?* — perguntou, franzindo a testa.

Luca sorriu, entrando e fechando a porta atrás de si. — *Batizado.*

— *Batizado?* Daniel repetiu, observando enquanto Luca tragava profundamente, segurando a fumaça antes de soltá-la lentamente.

— *É o que chamamos quando fico muito tempo sem sexo... ou muito puto da vida.* — Seus olhos percorreram o corpo de Daniel como um toque físico. — *Hoje são os dois.*

Daniel sentiu o ar escapar de seus pulmões. Ele deveria ter medo. Deveria sentir nojo. Em vez disso, seu corpo reagiu antes que seu cérebro pudesse processar, um calor familiar se espalhando por suas veias.

— *Você é insuportável* — murmurou, mas não se afastou quando Luca se aproximou.

O mafioso colocou o cigarro entre os lábios de Daniel. — *Experimenta.*

O sabor foi mais suave do que esperava, doce com um toque de terra. Daniel tossiu levemente ao soltar a fumaça, sentindo-a queimar suavemente em seus pulmões. Luca observava cada microexpressão em seu rosto com intensidade quase dolorosa.

— *Gostou?*

Daniel devolveu o cigarro, seus dedos roçando os de Luca. — *Não é pior que seu papo furado.*

Luca riu, baixo, e num movimento fluido, puxou Daniel para cima, encostando-o contra a mesa. Seus corpos se alinharam perfeitamente, cada curva se encaixando como se tivessem sido feitos para isso.

— *Você tá tremendo* — observou Luca, sua voz um rugido suave.

— *Raiva* — mentiu Daniel, sentindo o coração acelerar.

Luca sorriu, inclinando-se até que seus lábios estivessem a um sopro de distância. — *Eu conheço raiva, lindo. Isso não é raiva.*

O mundo parecia ter parado. O cigarro esquecido, queimando lentamente entre os dedos de Luca. O cheiro do tabaco misturado ao suor e ao desejo não confessado. Daniel podia quase sentir o sabor dos lábios de Luca antes mesmo que eles se tocassem.

Então, bruscamente, Luca se afastou, apagando o cigarro na mesa sem cerimônia.

— *Termina seu trabalho, Daniel* — disse, ajustando o anel no dedo com um movimento nervoso que Daniel nunca vira antes. — *Antes que eu esqueça porque te trouxe pra cá.*

Quando a porta se fechou atrás de Luca, Daniel percebeu que estava segurando a respiração. Ele a soltou em um suspiro trêmulo, as mãos firmes no tampo da mesa para evitar que seus joelhos cedessem.

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