O escritório de Luca era tão opulento quanto o resto da mansão – móveis de ébano, cortinas de veludo e um tapete tão grosso que afundava levemente sob os pés. Daniel observou enquanto o mafioso abria um pesado cofre embutido na parede, tirando pastas e livros contábeis.
— *Aqui estão os últimos cinco anos* — Luca disse, jogando os documentos na mesa com um baque surdo. — *Quero que você encontre onde estão os vazamentos.*
Daniel folheou um dos livros, os números dançando diante de seus olhos. Era muito dinheiro. Muito mais do que imaginara.
— *E se eu descobrir que o vazamento é você?* — provocou, sem levantar os olhos.
Luca riu, sentando na beirada da mesa. — *Aí eu te dou um prêmio.*
O tom de voz fez Daniel finalmente olhar para cima. Havia algo perigoso no jeito que Luca o encarava – como se já estivesse pensando em qual seria esse "prêmio".
— *Onde vou dormir?* — Daniel mudou abruptamente de assunto. — *Não vou voltar praquele quarto-prisão.*
Luca ergueu uma sobrancelha. — *Claro que não. Você vai ficar no quarto ao lado do meu.*
— *Que conveniente.*
— *Não sou idiota, Daniel* — Luca inclinou-se para frente, os dedos tamborilando na madeira. — *Você acha mesmo que eu deixaria você sair da minha vista? Depois de tanto trabalho para te convencer?*
Daniel fechou o livro com força. — *Eu não sou um cachorro pra você colocar numa coleira.*
— *Não?* Luca sorriu, lento. — *Mas você veio quando eu chamei, não veio?*
A raiva subiu como lava pelas veias de Daniel. Ele se levantou tão rápido que a cadeira caiu para trás.
— *Vai se foder, Bianchi. Eu não sou –*
Luca moveu-se como um raio. Em um instante, tinha Daniel pressionado contra a parede, uma mão firme em seu peito.
— *Não é o quê?* — sussurrou, os lábios quase tocando a orelha de Daniel. — *Não é meu? Porque parece que é exatamente o que você é.*
Daniel tentou se soltar, mas Luca apertou mais.
— *Você tem três opções, lindo* — continuou o mafioso, a voz um fio de seda e aço. — *Primeira: tenta escapar, e eu te caço como o animal perdido que você é. Segunda: me obedece, e ganha mais poder do que seu pai jamais sonhou. Terceira...*
Seus dedos subiram até o pescoço de Daniel, não apertando, apenas... esperando.
— *...você me diz o que realmente quer.*
O coração de Daniel batia tão forte que ele tinha certeza que Luca podia senti-lo. O calor do corpo do mafioso, o cheiro de seu perfume caro, a promessa naqueles olhos escuros – tudo era muito, muito perigoso.
— *Eu quero o meu próprio banheiro* — Daniel finalmente cuspiu.
Luca riu, uma risada genuína e surpreendentemente jovial. Soltou Daniel e deu um passo atrás.
— *Feito. Mas a porta não tem tranca.*
— *Filho da puta.*
— *Já sabe* — Luca ajustou as mangas do terno, o sorriso ainda nos lábios. — *Agora, se comporta. Vou te apresentar ao chefão.*
Daniel endireitou a camisa, os olhos arregalados. — *Chefão? Você não é o–*
— *Querido* — Luca interrompeu, abrindo a porta com um gesto dramático. — *Nem de longe.*
Daniel tentando focar nos números que começavam a se embaralhar depois de horas de análise. O uísque ao lado dele – oferecido por Luca com um sorriso irônico – estava quase acabando.
*"Você nunca vai ser nada, Daniel."*
A voz do pai ecoou em sua mente, nítida como se o detetive estivesse ali, naquela sala.
*"Sua irmã pelo menos serve pra casar bem. Mas você? Um fracasso completo."*
Daniel apertou os dedos na caneta até as juntas ficarem brancas. Ele olhou para a foto que havia tirado da carteira – Ana, sua irmã mais nova, sorrindo no seu aniversário de quinze anos. A mesma Ana que, no ano passado, tinha virado as costas quando ele mais precisou.
— *Problema, princesa?*
A voz de Luca o fez erguer a cabeça bruscamente. O mafioso estava encostado na porta, sem o paletó, as mangas da camisa branca arregaçadas até os cotovelos. Os braços musculosos exibiam tatuagens discretas – símbolos em italiano que Daniel não conseguia decifrar.
— *Nenhum problema que mais uísque não resolva* — Daniel respondeu, empurrando o copo vazio em direção a Luca.
Luca entrou, pegando a garrafa na estante e enchendo o copo novamente. Seus dedos deliberadamente roçaram nos de Daniel ao passar o drink.
— *Encontrou algo?*
— *Alguém tá desviando dinheiro do fundo sul* — Daniel apontou para as páginas. — *Pouco a pouco, mas constante. Alguém que sabe o que está fazendo.*
Luca sorriu, orgulhoso. — *Eu sabia que você era bom.*
O elogio queimou mais que o uísque. Daniel desviou o olhar.
— *Não faça isso.*
— *O quê?* Luca inclinou-se sobre a mesa, invadindo seu espaço.
— *Me trata como se eu fosse especial* — Daniel cuspiu. *Eu não sou. Só sei fazer contas porque era a única coisa que meu pai não conseguia reclamar.*
Luca estudou-o por um longo momento. Depois, surpreendentemente, puxou uma cadeira e sentou ao seu lado.
— *Meu pai me batia com um cinto de fivela de prata* — ele disse casualmente, como se estivesse comentando sobre o tempo. — *Dizia que eu era muito mole pra ser Bianchi.*
Daniel olhou para ele, surpreso.
— *Uma noite, peguei esse mesmo cinto e enforquei ele com ele* — Luca continuou, os olhos escuros fixos nos de Daniel. — *Você não é um fracasso, Daniel. Você é só um filho da puta que ainda não percebeu o próprio potencial.*
O coração de Daniel acelerou. Ele queria odiar Luca, queria odiar como aquelas palavras pareciam consertar algo dentro dele que estava quebrado há anos.
— *Eu não vou te agradecer* — Daniel resmungou.
Luca riu, levantando-se. — *Não esperei por isso.* Ele caminhou até a porta, mas parou antes de sair. — *Ah, e Daniel?*
— *O quê?*
— *Seu pai nunca vai te buscar. pode deixa vou cuidar muito bem de você
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