Local: Casa de Victor – Varanda
Martin acordou cedo naquela manhã, reflexo de mais uma noite mal dormida e com pesadelos. Saiu do quarto e começou a andar pela grande varanda da casa de Victor. O sol ainda não tinha nascido completamente, e a varanda estava mergulhada na penumbra.
Victor apareceu com uma xícara de café fumegante nas mãos.
— Por que sempre que eu acho que sou o primeiro a acordar, você já está de pé?
Victor sorriu.
— Não consigo mais dormir como antigamente. Que bom que já está de pé, temos uma visita especial aqui hoje, e quero que você a conheça.
Martin franziu o cenho.
— Essa hora da manhã e já tem visita?
— Digamos que ela estava ansiosa para te conhecer e acabou chegando antes do combinado.
— Ela?
— Sem mais perguntas. Me acompanhe e você entenderá tudo.
Victor levou Martin até o quarto de hóspedes. Dentro do quarto, sentada na poltrona, estava uma mulher de aparência jovem. Tinha os cabelos longos e ruivos, uma expressão serena no rosto.
— Olá, Martin Sokolov. É um prazer finalmente conhecê-lo. Ou devo chamá-lo de Fantasma?
— Vou deixar vocês conversarem à vontade — disse Victor, batendo a porta atrás dele.
— Quem é você?
— Sente-se, por favor. Não tenha pressa.
— Sim? E agora? Pode me dizer quem você é?
A mulher estampou um sorriso.
— Sou Emma, filha de Leandro.
Martin arregalou os olhos.
— Emma... sinto muito pelo que aconteceu com o seu pai.
Emma abaixou os olhos.
— Tenho certeza de que ele se sentiu culpado por ver os dois amigos morrerem. Então, tentou resolver tudo isso com as próprias mãos, mesmo sabendo que não tinha capacidade para isso. Ele era muito teimoso.
— Eu tentei ajudá-lo, mas quando cheguei já era tarde demais.
— Não precisa se explicar. E eu tenho que te agradecer. Você matou o Liam e vingou a morte do meu pai. E, além do mais, apertou aquele botão sem mesmo saber o que aconteceria. Você confiou nele, assim como ele confiava em você.
— O Leandro era um grande homem. Mesmo trabalhando com ele por pouco tempo, foi um dos melhores mentores que já tive.
— Eu sei disso.
— Por que está aqui, Emma?
— Porque, assim como meu pai confiou em você, eu também confio. E vou te ajudar a derrubar a Parallax.
Martin olhou para Emma, surpreso.
— Você vai me ajudar?
— Não deixe minha aparência te enganar, Martin. Posso ser mais letal do que você imagina.
— Bom, se a filha de Leandro está falando isso, então eu acredito.
— Primeiro precisamos de aliados. Não vamos conseguir sozinhos. Mas antes disso, precisamos treinar mais. A Parallax está se fortalecendo de uma maneira assustadora. Eles têm grandes planos, então também precisamos nos aprimorar. Vamos treinar por um ano ou mais, se for necessário. Mas temos que começar a agir em, no máximo, dois anos.
— Não é muito tempo, não?
— Acredite, Martin. A Parallax está pior do que antes. Se formos despreparados, vamos morrer.
— Bom… mas também precisaremos de recursos, né? Não vamos enfrentar a Parallax só com o desejo de vingança.
— Quanto a isso, não se preocupe. Meu pai deixou uma quantia considerável para isso mesmo. Temos recursos suficientes para montar um exército, se for necessário. Dinheiro não será um problema para nós.
— Fico mais aliviado então.
— Então, o que acha de começarmos a treinar? Quero ver com meus próprios olhos o que você pode fazer, Fantasma.
Martin deu um sorriso diabólico.
— Eu também estou curioso pra ver se você é tão letal quanto diz ser. Mas antes… preciso tomar um café.
Local: Cidade de Norwich
Mesmo tendo se passado meses, a cidade ainda estava assustada com uma figura... o Fantasma. Muros pichados com imagens de um homem mascarado, pessoas se vestindo da mesma forma como o Fantasma se vestia. Em qualquer canto de Norwich se ouvia falar dessa figura que aterrorizou os bandidos da cidade por um bom tempo.
Mesmo o governo tentando ao máximo fazer essa história sumir, o Fantasma ainda assombrava as mentes que habitavam aquela cidade...
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Local: Departamento de Polícia de Norwich – Sala do novo Delegado
Cristina entrou com passos firmes, vestida com o uniforme impecável. O distintivo preso ao peito parecia mais pesado do que nunca. Clark Zeint, o novo delegado, estava atrás da mesa, digitando algo no computador. Ao vê-la, ergueu os olhos com um sorriso forçado.
— Cristina... que surpresa. Em que posso ajudar?
Ela não respondeu de imediato. Tirou o distintivo do peito e o colocou sobre a mesa, ao lado de um envelope pardo.
— Estou me demitindo. O relatório está aí dentro.
O sorriso de Clark sumiu.
— Isso é sério?
— Muito. — Cristina o encarou nos olhos. — Eu entrei pra polícia pra defender inocentes, não pra compactuar com assassinos usando terno. Esse lugar... já não é mais o que era.
— Vai jogar tudo fora por um drama político? — retrucou ele, tentando soar calmo. — A cidade precisa de policiais comprometidos...
— A cidade precisa de justiça. E isso vocês enterraram junto com o nome de Lawrence. Boa sorte com seu circo, delegado.
Cristina virou as costas e saiu sem esperar resposta.
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Local: Casa de Lawrence – Final da tarde
Lawrence estava no quintal, cuidando das plantas. A terra entre os dedos parecia a única coisa sólida que ainda o ligava à realidade. Quando ouviu passos se aproximando, virou-se e viu Cristina se aproximando com expressão decidida.
— Você saiu cedo do trabalho hoje — comentou ele.
— Não voltei mais. — Ela ergueu o olhar. — Me demiti.
Lawrence franziu a testa.
— Você… tem certeza?
— Tenho. Aquilo não é mais uma delegacia. É uma extensão da Parallax com farda e crachá. E eu… não vou ser cúmplice disso.
Ele soltou um longo suspiro e limpou as mãos em um pano sujo.
— Então… o que vai fazer agora?
— O que for necessário. — Cristina se aproximou. — Lawrence, nós não podemos ficar parados. Você viu o que está acontecendo. A cidade está nas mãos deles. E não tem mais ninguém lutando por ela.
Lawrence olhou para o horizonte, pensativo.
— Tem sim. Ainda tem algumas pessoas. Poucas… mas tem.
Cristina assentiu.
— Então vamos encontrá-las. Juntar o que restou. Porque se a gente não fizer nada… aí sim a guerra vai estar perdida.
Ele sorriu, de leve. Pela primeira vez em dias, algo dentro dele reacendeu.
— Você me lembra muito a Breeana agora. E também… a mim mesmo, muitos anos atrás.
Cristina cruzou os braços e deu um leve sorriso.
— Talvez seja hora da gente se redescobrir. Porque, se a cidade ainda tiver alguma chance… ela vai nascer daqui.
Lawrence olhou para ela com respeito renovado e estendeu a mão.
— Então vamos começar.
Ela apertou.
— Vamos.
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Atualizado até capítulo 22
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