Acordei com o barulho de muitos fogos de artifício. O grande Dia das Crianças havia chegado! Mas eu não estava tão animada assim… Minha mãe quase nunca deixava eu ir na festa.
Ela estava ocupada trabalhando, porque tinha recebido uma grande encomenda de sacolé para levar ao hospital onde minha tia trabalha.
A festa já rolava desde as nove da manhã. Eu tinha acabado de almoçar e estava cabisbaixa, sentada no portão com o rosto encostado na grade, ouvindo o alvoroço lá em cima: gritos, risadas, música, brinquedos infláveis e o cheiro de algodão-doce no ar.
Minha mãe chamava-me, mas eu não ouvia. Então, veio até o portão me procurar.
SOLANGE: Zoe! Você tá surda, menina? Tô te chamando faz tempo!
ZOE: Desculpa, mãe… eu não ouvi.
SOLANGE: Vai lá na Selma entregar esses sacolés pra mim.
ZOE: Tá!
SOLANGE: E se arruma!
ZOE: Se arrumar?
SOLANGE: Vou deixar você ficar um pouco na festa.
ZOE: Jura, mãe?!
SOLANGE: Sim. Mas ó... sobre os olhos dela! Fica perto da Selma e não vá desobedecer!
ZOE: Tá, mãe! Vou tomar banho!
SOLANGE: E se a Bia e aquela menina, a Grazi, ficarem zanzando pelo morro, não quero que vá atrás delas!
Corri toda empolgada pra me arrumar. Tomei banho rapidinho, vesti minha melhor roupa e peguei a sacola com os sacolés. Subi a viela com o coração batendo forte de tanta felicidade.
Quando cheguei ao salão da tia Selma, entreguei os sacolés com um sorriso no rosto e os olhos brilhando para a festa que acontecia logo ali, bem diante de mim.
Tinha muitos brinquedos e muitos doces sendo distribuídos. Estava bem cheio e animado. A Rebeca estava com o rosto pintado com uma linda borboleta, e o Kauã comia pipoca sentado na calçada.
ZOE: Que linda essa pintura!
SELMA: Zoe, quero você e as meninas aqui por perto, onde eu possa ver. Nada de subir lá pra cima!
ZOE: Tá, tia!
REBECA: Vamos pra fila fazer a sua! A Natália está lá. O que você vai querer?
ZOE: Humm... não sei!
Enquanto eu esperava na fila pra pintura de rosto, conversávamos animadas sobre tudo da festa. Participei da dança das cadeiras e ganhei uma Barbie — não era original, mas era linda! O Kauã estava com umas cinco bolas, e até precisei ajudá-lo a carregar.
Ganhávamos tantas coisas que, a todo momento, íamos guardar os brinquedos e doces no salão da tia Selma e voltávamos correndo para brincar mais. A festa estava maravilhosa, e mesmo sem circular por todo o morro, era divertido estar ali, só naquele pedaço.
Por volta das cinco da tarde, a festa ainda estava bem animada, com várias atrações no palco e nas tendas. Rebeca, Natália e eu nos sentamos numa calçada, a uns dois metros do salão, e comíamos algodão-doce quando vimos a Graça e a Bia passando perto do palanque — aquele que a tia Selma tinha dito pra gente não ir.
Fiquei observando os passos delas, curiosa, quando começou um alvoroço perto do palanque: era a chegada de Petruchio.
Ele se sentou numa cadeira, numa mesa de bar improvisada, e começou a tomar cerveja junto com uns seis caras do movimento. Todos tinham armas — discretas, mas dava pra ver.
Eu o via sorrindo, cercado por muitas pessoas que o bajulavam — especialmente mulheres lindas de todos os tipos: negras, loiras, morenas, todas vestindo micro-shortinhos, vestidinhos e croppeds. Elas o rodeavam, conversando animadas.
Ele era um homem de presença marcante, não apenas por ser o dono do morro, mas também por sua beleza e carisma — tanto com os moradores quanto com a criançada da comunidade.
REBECA: Natália, vai tirar o Kauã do pula-pula e leva ele pra mamãe. Fala que ele não tá obedecendo!
Assim que Natália levou o irmão, Rebeca ficou esticando o pescoço, procurando por algo — ou alguém.
REBECA: Não estou mais vendo a Bia.
ZOE: Elas desceram a viela do Gil e estavam com dois garotos.
REBECA: Nada passa despercebido por você! [rindo] Vou agora mesmo contar pra mamãe. Me espera aqui!
Assim que Rebeca foi embora, me deixando sozinha, continuei observando as pessoas na festa. Mas algo chamou minha atenção de forma especial: havia um garoto bonito, de olhos azuis, um pouco mais velho que eu, parado perto do bar onde estava o Petruchio. Ele também olhava fixamente para o chefão.
De repente, fogos de artifício começaram a estourar, causando alvoroço entre os rapazes. A correria tomou conta do lugar, e o menino que antes observava o Petruchio ficou parado, perdido, sem saber o que fazer.
Por impulso, corri até ele, peguei sua mão e puxei-o para tirá-lo dali.
ZOE: Não fica aí parado! Vem comigo, corre!
Sem conseguir voltar para o salão por causa do tumulto, acabamos correndo em direção à subida principal do morro — bem na hora em que começou uma troca de tiros com a polícia, que invadia a comunidade.
Sem outra opção, empurrei o menino para debaixo de um carro. Vi também uma criança, da idade do Kauã, chorando. Puxei-a para perto, e ela mesma rolou para debaixo do carro. O menino dos olhos azuis ainda estava agachado, paralisado de medo.
ZOE: Vai! Se esconde! Faz como ele!
E ele obedeceu. Mas, no momento em que eu ia me abaixar para me proteger também, senti um forte impacto. Caí diante de um par de olhos azuis aterrorizados e cheios de lágrimas. O garoto esticou a mão para mim, mas antes que eu pudesse reagir, senti outro baque — e então, a escuridão me envolveu.
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📌 Olá, leitores... Irei liberar dois capítulos toda segunda e sexta. Deixe sua curtida e comentários!
LisAndrade ❣️
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Atualizado até capítulo 47
Comments
Antic Duke
ah meu Deus! Ela sobreviveu né??
2025-07-15
1
Pato Manso
Ela morreu?
2025-07-23
0