O QUARTO QUE NINGUÉM ABRE
A noite caiu pesada sobre a mansão De Luca.
O silêncio tomava conta dos corredores, como se até as paredes soubessem que era melhor não fazer barulho. Vicente havia saído. Um encontro de negócios, segundo a funcionária. E Pietro, como sempre, se trancou no quarto. Helena dormia abraçada com um ursinho velho.
Sozinha, Emília andava pela casa com passos leves. Tentava se acostumar com aquele mundo que não escolheu, mas que agora era seu — mesmo que forçado.
Foi quando ela viu a porta.
No fim do corredor. Trancada com uma chave grossa e empoeirada.
Mas naquela noite... estava entreaberta.
Se aproximou com o coração acelerado. Não sabia explicar o motivo, mas sentia que ali havia algo proibido. Algo que ninguém comentava. Algo que morava no silêncio de Vicente.
Empurrou devagar. O ar era frio. O quarto estava intacto, como se o tempo tivesse parado.
Era o quarto da esposa dele.
Os móveis delicados, uma penteadeira coberta de perfumes antigos, fotos emolduradas — uma mulher linda, de olhos intensos, abraçada às crianças quando ainda eram bebês... e, em algumas, com Vicente. Mas ele sorria de um jeito que Emília jamais tinha visto.
Sobre a cama havia um lenço.
E, ao lado, um diário. Emília hesitou. Mas a curiosidade foi mais forte que o medo.
Abriu uma das páginas. A letra era delicada, feminina.
> "Vicente mudou depois da última viagem. Ele voltou com aquele olhar sombrio... como se estivesse sendo perseguido por algo invisível. Tento falar, mas ele se cala. Tenho medo do que ele se tornou. Medo pelo Pietro. Pela pequena Helena. E por mim."
O sangue de Emília gelou.
Virou mais páginas, as mãos trêmulas.
> "Hoje encontrei um bilhete escondido no bolso da jaqueta dele. Era uma ameaça. Alguém sabe. Alguém está nos observando. Vicente diz que vai proteger a família... mas como, se ele mesmo é o perigo que bate à nossa porta?"
Um estalo no corredor fez Emília largar o diário num impulso.
Alguém estava vindo.
Ela correu de volta, fechou a porta, tentando não fazer barulho. O coração parecia bater nos ouvidos.
Mas antes que pudesse se afastar, uma voz grave soou atrás dela:
Vicente:O que fazia aí ?
Ela virou lentamente.
Vicente estava parado ali. O rosto sombrio. Os olhos escuros como a noite.
Emília não respondeu. Não conseguia.
Porque naquele momento, ela soube de uma coisa com certeza:
A esposa dele não morreu por acaso.
E ela acabava de abrir a porta de um passado que talvez devesse continuar trancado.
Vicente:Responda, caramba agora— a voz de Vicente cortou o corredor como um trovão.
Ela virou-se devagar, sentindo o corpo congelar. A luz fraca do corredor iluminava o rosto dele — tenso, feroz, sombrio. Um homem que escondia dores e segredos... e que agora estava prestes a explodir.
Vicente :O que fazia no quarto dela? — ele rosnou, avançando um passo. — Você invadiu o único lugar desta casa que eu deixei intocado. Você não tinha esse direito!
Emília tentou falar, mas as palavras não saíam.
Emilly:Eu... eu só… — sua voz falhou. As mãos tremiam, o coração batendo forte demais.
— Não minta pra mim porra! — ele gritou, e pela primeira vez, seus olhos transbordavam mais do que raiva. Era dor. Um grito preso que agora saía do jeito mais cruel.
Vicente:Você não entende o que esse lugar significa!
Emilly:Vicente... eu não queria... eu só...
Vicente:Você não queria?! — ele se aproximou, o rosto a centímetros do dela. — Você não tem ideia do que custou manter essa porta fechada... manter essa dor enterrada mais que porra Emilly!!
Emília deu um passo para trás, assustada. O peito apertado. A respiração falha.
O diário. As palavras escritas nele. O medo da esposa. As ameaças.
Tudo girava em sua mente como um furacão. Era demais. Era tudo demais.
Emilly:Eu... — ela balbuciou, tentando respirar. O corpo fraco, a visão começando a embaçar.
Vicente :Emíly? — a voz dele mudou num segundo, percebendo que algo estava errado. — Ei...
Mas foi tarde.
Emília cambaleou para trás. Os joelhos falharam. E tudo ficou escuro.
Ela desmaiou e caiu escada a baixo
Vicente desceu a segurou nos braços no último segundo, assustado, ajoelhando-se no chão com ela desacordada contra o peito. A respiração dela era curta, ansiosa, como se fugisse de um pesadelo.
Vicente:Merda... — ele sussurrou, apertando os olhos fechados. — O que eu fiz?
Por um instante, o homem frio e poderoso desapareceu.
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Atualizado até capítulo 36
Comments
Fatima Maria
EITA QUE É UM OGRO. E QUE SEGREDO 🤐 É ESTE QUE ELE ESCONDE DA ESPOSA. MISERICÓRDIA
2025-08-28
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