Winston pensava que comida resolvia qualquer problema. Gente morrendo de tédio? Frango assado.
Silêncio constrangedor? Purê de batata.
Visita indesejada no jantar?
Claro, legumes com arroz e Josh Wayne na cabeceira.
"Por que ele está aqui mesmo?"
Eu sussurrei, enquanto lavava as mãos e sentia o cheiro do alho invadir a cozinha como um aviso divino.
Winston (gritando da sala): "Porque ele é da família, oras. E família janta junto!"
“Família!”
Que ótimo. Eu devia ter regado as plantas venenosas hoje.
Mesa posta. Toalha xadrez. Rádio baixinho tocando Ella Fitzgerald.
Josh (sentado, sorrindo com o garfo na mão):
Josh
— Parece que alguém aqui sabe cozinhar melhor do que cultiva cactos, hein?
Taylor
— Engraçado. Pensei que você só alimentasse o seu ego.
Josh
(rindo):
— E ele tá bem alimentado, obrigado.
Winston
— Vocês dois são fogo. Só quero terminar o meu jantar em paz, antes que um dos dois joguem purê no outro.
Taylor
— Não seria a primeira vez.
Josh
— Nem a última.
Ele estava confortável demais.
Sentado como se sempre tivesse pertencido ali.
Como se o lugar dele tivesse ficado vago esse tempo todo, esperando ele voltar.
Odiava isso.
𝐃𝐞𝐩𝐨𝐢𝐬 𝐝𝐨 𝐉𝐚𝐧𝐭𝐚𝐫...
Winston
(levantando com um suspiro):
— Vou tirar uma soneca no sofá. Se ouvirem um ronco, é só me cobrir com uma toalha.
Rindo sozinho, desaparece na sala.
Taylor
(pegando os pratos):
— Ótimo. Sobrou pra mim.
Josh
(pegando um pano de prato e encostando-se no balcão):
— Eu ajudo.
Taylor
(olhando com desconfiança):
— Sabe o que é um pano de prato, poeta?
Josh
— Claro. É a coisa que você me joga quando quer que eu cale a boca.
Ele estava ali. Perto demais.
Meio encostado, meio invadindo.
E tinha aquela mania horrível de olhar-me como se estivesse a ler um livro que eu ainda não escrevi.
Josh
(baixinho, enquanto seca um prato):
— Eu senti falta disso.
Taylor
(seca):
— De lavar louça?
Josh
— De você.
(Pausa.)
— Dessa sua forma encantadora de esconder carinho atrás de sarcasmo.
Os meus dedos pararam na água quente.
Ele tinha esse poder. De deixar tudo em silêncio, mesmo com o rádio ligado.
Maldito charme empoeirado.
Taylor
(virando-se lentamente):
— Eu não sou a mesma de antes, Josh.
Josh
(com olhar firme):
— Nem eu. Mas talvez o que restou da gente... ainda encaixe.
Taylor
— Você bebeu?
Josh
(sorrindo):
— Só do seu veneno, ruiva.
E ali, na cozinha da casa do meu pai, com o cheiro de alho no ar e pratos pingando água,
eu soube que a paz estava oficialmente ameaçada.
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