Protegida Pelo Meu Inimigo
Cap 3
Damom girava a chave entre os dedos, encostado na parede da cozinha enquanto esperava o micro-ondas apitar. O som da casa era o de sempre — silencioso, espaçoso demais, frio demais. Uma mansão bonita o suficiente pra sair em revista, mas vazia onde importava.
Aurora apareceu na porta da cozinha minutos depois. Usava um robe branco e ainda estava maquiada da sessão de fotos que tinha feito mais cedo. O salto fazia barulho no mármore, mas ela andava com a graça de quem já fizera isso mil vezes.
Aurora Miler
Chegou tarde — ela disse, se apoiando na bancada de mármore.
Damom Miler Vellaro
— A senhora também — ele rebateu, sem tirar os olhos do micro-ondas.
Ela riu baixo, o tipo de riso que carregava cansaço.
Aurora Miler
Toquei o mundo inteiro hoje *ela disse*. E você?
Damom Miler Vellaro
Toquei a campainha da agência de segurança *ele respondeu*. Me chamaram pra uma vaga.
Aurora arqueou uma sobrancelha. Aproximou-se devagar, como se processasse a informação.
Damom Miler Vellaro
Guarda-costas.
Aurora Miler
Guarda... quê?! Damom, você tem noção do perigo que isso pode ser?
Damom Miler Vellaro
Você mesma disse que eu precisava aprender como o mundo funciona. Não só de festas, dinheiro e sobrenome.
Aurora Miler
Você sabia que seu pai queria te mandar pra Suíça?
Damom Miler Vellaro
Deixa ele tentar
Aurora Miler
Você vive num mundo onde tudo sempre foi fácil. Dinheiro, status, sobrenome... Mas isso pode sumir, Damom
Damom Miler Vellaro
E você aprendeu isso quando? Entre um ensaio fotográfico e outro?
Aurora Miler
Eu aprendi quando tive que sorrir pra câmera depois de discutir com seu pai por sua causa. Quando engoli o orgulho e voltei pra ele porque não tinha como te sustentar sozinha.
Damom Miler Vellaro
Então por que agora cê vem querer me ensinar alguma coisa?
Aurora Miler
Porque você cresceu, e ainda não entende.
Damom Miler Vellaro
Entender o quê, mãe?
Aurora Miler
Que o mundo não vai te tratar como especial. Lá fora, ninguém liga se você é um Vellaro. Eu quero que você saiba como é se virar. Trabalhar. Lidar com gente real. Sentir o peso de uma escolha errada.
Damom Miler Vellaro
O que você quer de mim, mãe?
Aurora Miler
Que vá trabalhar. Que encare o mundo de frente. Nem que seja pra quebrar a cara.
Damom Miler Vellaro
E se eu topar?
Aurora Miler
Aí você vai, finalmente, entender quem é você... sem o sobrenome.
Ela suspirou. Era raro ver Damom tão firme, e isso a deixava desconcertada.
Aurora Miler
Pra quem é essa vaga? *ela perguntou*.
Damom Miler Vellaro
Não sei ainda. É confidencial.
Aurora se aproximou um pouco mais, agora com os braços cruzados.
Aurora Miler
Olha, eu sei que o seu pai não é exatamente... presente. Mas eu tô tentando. Eu realmente tô tentando estar aqui.
Damom encarou a mãe. Os olhos claros dela eram os mesmos dele. Belos, cansados, e tão cheios de desculpas quanto promessas.
Damom Miler Vellaro
Eu sei, mãe. Mas às vezes “tentar” não é o bastante.
A campainha do micro-ondas tocou. Ele pegou o prato, soltou um “boa noite” seco e saiu da cozinha antes que ela pudesse dizer qualquer coisa.
Ficou apenas o eco das palavras não ditas. E uma mãe que ainda não sabia como segurar o filho que estava começando a escapar por entre os dedos.
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