Capítulo 4

Melinda

Eu cheguei na cidade de madrugada e eu paguei um hotel, mas de manhã eu iria para o apartamento.

Eu não consegui dormir direito, eu tenho pesadelos com a morte do meu bebê e acordo com falta de ar, eu sei que vou ter que procurar um psicólogo para lidar com isso e conseguir dormir.

No dia seguinte, eu já aluguei o apartamento e comprei toda a mobília, eu paguei um valor a mais para poder chegar mais rápido.

Eu passei semanas sem sair do apartamento, eu comia só por comer, a comida não tinha gosto, a minha vida parecia não fazer mais sentido, eu estava completamente sozinha e destruída e os pesadelos sempre me acompanhavam para me lembrar todos os dias de tudo que aconteceu e eu sempre acabava mal e já até desmaiei.

Com um mês eu tentei sair para conhecer a cidade, mas quando saí na rua, eu vi uma família feliz e com um bebê e eu comecei a passar mal, ver essa família fez a minha mente pensar no dia que eu fui abandonada, traída e perdi o meu filho, tudo de uma vez só para que eu possa lidar.

Depois desse dia, eu fiquei mais meio mês sem sair de dentro do apartamento, tudo que eu precisava, eu pedia online.

Quando fez dois meses que eu estava na cidade, eu decidi ir procurar ajuda médica, ficar apenas presa dentro do apartamento me deixava mais deprimida, eu só queria chorar e as crises de falta de ar e desmaios já faziam parte da minha rotina, era difícil eu passar um dia inteiro sem que acontecesse um dos dois.

Três meses se passaram e eu tenho me tratado com a psicóloga, eu já consigo sair na rua, mas ainda me sinto mal quando eu vejo principalmente uma mãe com um bebê ou uma mulher grávida, a dor do que eu passei ainda está enraizada no meu coração, mas tenho que tentar seguir em frente de alguma forma e achei que estava na hora de procurar emprego, eu ainda tenho uma certa quantia na conta que dar para me sustentar por um bom tempo, mas eu não posso mais viver presa dentro do meu apartamento, eu preciso ocupar a mente e nada melhor do que arrumar um emprego para isso.

Hoje eu fui em um salão para mudar a cor do meu cabelo, eu sempre usei castanho que é a cor natural e o Luther dizia para eu não pintar porque eu já era bonita do jeito que eu estava, mas eu sempre quis ser loira e foi dessa cor que pedi para pintarem o meu cabelo, quando terminaram, eu adorei o resultado, combinou bastante comigo.

Eu comecei a enviar currículo hoje mesmo para alguns consultórios e para o hospital da família Lombardi que estava precisando de uma secretária.

O hospital dessa família é um dos melhores do país, todos os médicos sonham em trabalhar nos hospitais dessa família, eu nunca me imaginei trabalhando em outro lugar que não fosse o hospital da minha família, mas as coisas mudaram.

Eu passei a frequentar academia e também correr pelas manhãs, a minha psicóloga disse para que eu fizesse alguma atividade para não ficar o dia todo dentro do apartamento porque isso só me deixaria mais deprimida porque a minha mente ficaria retornando para o que eu passei.

Na metade do mês, eu fui chamada para uma entrevista no hospital da família Lombardi para o cargo de secretária, eu saí para comprar uma roupa nova para a entrevista e outras roupas comprei apenas para comprar mesmo, já tinha um tempo que eu não saía só para comprar roupas e sapatos.

No dia seguinte, eu acordei cedo para me arrumar para a entrevista, coloquei uma blusa preta de manga longa sem decote, uma saia não muito curta preta e florida com meia calça preta, um cardigã preto e um salto alto preto e optei por uma maquiagem discreta.

Quando cheguei no local e vi as outras candidatas, elas me olharam e riram de mim, isso era porque eu vestida como se quisesse seduzir um homem com um decote com os peitos quase pulando para fora e com a roupa curta e eu parecia ser uma intrusa por estar vestida diferente.

Alguns homens passavam por perto da gente direto só para olhar para elas e eles olhavam para elas de forma maliciosa e alguns até faziam comentários obscenos e enquanto eu estava muito desconfortável e morrendo de vergonha, elas pareciam estar gostando de ter essa atenção.

_ Olha só, temos uma puritana aqui no meio, ela fica uma gracinha com esse rostinho vermelho, eu adoraria saber se esse rostinho fica assim também depois de gozar _ disse o homem rindo

Eu odeio esses tipos de homens que só vêem as mulheres como um objeto sexual.

_ Não fala assim comigo, eu não te dei confiança para isso, eu não sou igual a elas que gosta de ser tratada assim _ eu disse

_ Que linda, eu adoro as que se fazem de difíceis, essas são as melhores _ disse o homem rindo tentando pegar no meu rosto, mas eu segurei a sua mão e empurrei antes que ele fizesse isso

_ Se você continuar, eu digo na entrevista que você estava me assediando _ eu disse

De repente a porta da sala abriu e saiu dela o Charles Lombardi e as mulheres ficaram olhando para ele encantadas, tenho que admitir que ele é muito bonito, mas diferentes dela, eu não quero seduzir ele, homens é a última coisa que se passa pela minha cabeça e eu vim aqui pelo emprego e não na intenção de arrumar um marido rico.

O Charles olhou para o homem que estava falando safadeza para mim e disse:

_ Pega as suas coisas e vai embora, você está demitido _ disse Charles

Eu fiquei surpresa e me perguntei se ele sabia o que tinha acontecido aqui quando ele não estava presente, o homem tentou mudar a opinião do Charles, mas não conseguiu.

O Charles chamou as três primeiras candidatas e antes de entrar na sala, ele olhou para mim e eu fiquei um pouco sem jeito e abaixei a cabeça e ele sorriu.

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