CAPÍTULO 3.

📖 Capítulo 3 – Língua Afiada, Alma Firme

Três meses haviam se passado desde que o avião pousou em solo italiano. Noventa dias em que a mansão de Alessandro Moretti parecia mais um castelo gelado do que um lar. O silêncio era meu maior companheiro. O pai, sempre ocupado com reuniões e viagens misteriosas, mal aparecia em casa. Jade, quando surgia, estava sempre apressada, saindo para festas, jantares ou encontros que eu preferia nem saber.

Na maior parte do tempo, eu tinha a mansão para mim — uma prisão dourada onde o eco dos meus passos era a única resposta que recebia.

Foi então que decidi ocupar minha mente com algo que minha mãe sempre defendeu: estudo. Matriculei-me em um curso intensivo de italiano, e em pouco tempo, as palavras deixaram de parecer códigos indecifráveis para se tornarem parte de mim.

Naquela tarde, a professora Lucia me entregou a prova corrigida com um sorriso orgulhoso.

— Jasmim, você é uma mente brilhante — disse ela, com o sotaque italiano carregado de doçura. — Em três meses, fluente! Você vai longe com esse foco. Meus parabéns!

Seu elogio aqueceu meu coração. Era a primeira vez, desde a morte da minha mãe, que eu sentia orgulho de mim mesma.

Mas o mundo ao meu redor continuava indiferente. Naquela noite, durante o jantar — uma mesa enorme ocupada apenas por mim, Jade e Alessandro — decidi tocar num assunto que me corroía por dentro.

— Pai, eu queria saber se posso retomar meu curso técnico em enfermagem. Faltava pouco para eu me formar no Brasil. É o que eu amo fazer.

Ele ergueu os olhos do prato, a expressão tão fria quanto a porcelana branca sobre a mesa.

— Enfermeira? — repetiu, como se a palavra fosse veneno. — Isso seria vergonhoso para um conselheiro da máfia italiana. Você deve aprender a ser digna do sobrenome que carrega, não se rebaixar a cuidar de doentes como uma criada.

Senti meu estômago revirar, mas me mantive ereta. Ele não se importava com o que eu queria. Ele queria moldar quem eu era.

Jade soltou uma risada debochada, aproveitando para me cutucar:

— É claro, a pobrezinha quer cuidar de feridos e limpar merda de velhos, né? É o máximo que você pode ser, sua bastardinha.

As palavras dela, ditas em português para que o pai não entendesse, foram como um tapa. Jade sorriu com superioridade, certa de que eu me calaria como sempre. Mas eu respirei fundo e, em um tom calmo — porém firme — devolvi em italiano perfeito:

— Meglio pulire la merda che vivere una vita vuota come la tua, sorella. (*É melhor limpar merda do que viver uma vida vazia como a sua, irmã.*)

O sorriso dela se desfez no mesmo instante. Eu me levantei, empurrei a cadeira com elegância e caminhei para fora da sala de jantar, deixando Jade atônita, sozinha com seu veneno e a própria insignificância.

Subi as escadas, sentindo meu coração bater com força — não de medo, mas de satisfação. Cada lição da minha mãe pulsava em minhas veias: eu não precisava me encolher diante de ninguém.

No quarto, coloquei o uniforme do curso de italiano sobre a cama e me deitei, pensando em como minha mãe ficaria orgulhosa ao saber que, mesmo longe, eu continuava sendo quem ela me criou para ser: alguém que jamais abaixa a cabeça para injustiça.

Lá fora, a noite caía sobre Milão, e eu sabia que o destino continuava incerto. Mas uma coisa era certa: eu não seria mais apenas a sombra ignorada de uma família poderosa. Eu era Jasmim da Silva Moretti — e não deixaria que ninguém apagasse a minha luz.

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Comments

Nicole Rossales

Nicole Rossales

tô amando

2025-07-03

0

Ana Cristina Vicente galvao Cris

Ana Cristina Vicente galvao Cris

tinha q ter Silva

2025-07-01

1

Ver todos

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