Capítulo 3

O amor, para Cíntia Aurora, tinha o sabor do vinho caro e o toque da pele de Vitoriano Lázaro.

Ela estava em seus braços, na varanda da cobertura dele, um ninho de águia pairando sobre a cidade cintilante. O ar da noite era fresco, mas onde seus corpos se encontravam, havia fogo. Ele a pressionava contra a grade de vidro, o tecido fino de seu vestido uma barreira inútil contra o calor de seu corpo.

"Você está me distraindo do meu trabalho, sabia?" Cíntia sussurrou, a respiração entrecortada, enquanto os lábios de Vitoriano traçavam uma trilha de fogo de seu maxilar até a curva sensível de seu pescoço.

"Bom," ele rosnou, a voz uma vibração profunda em seu peito. Suas mãos subiram por suas costas, os dedos habilidosos encontrando o zíper de seu vestido. "Seu único trabalho esta noite sou eu."

O zíper desceu com um som lento e provocante, e o ar da noite beijou sua pele exposta. Cíntia arquejou, inclinando a cabeça para trás, entregando-se. Vitoriano a virou para encará-lo, seus olhos escuros queimando com uma intensidade que ainda a deixava sem fôlego. Ele era um homem de controle e poder no mundo dos negócios, mas com ela, ele se permitia uma vulnerabilidade crua, uma paixão que beirava a selvageria.

Ele a ergueu, e ela envolveu as pernas em sua cintura, o vestido escorregando para o chão em uma poça de seda. Ali, sob as estrelas, com a cidade como sua testemunha silenciosa, eles se tornaram um. Cada movimento era uma promessa, cada gemido uma declaração. Para Cíntia, era o paraíso. Um santuário construído sobre amor e confiança, totalmente alheia ao fato de que, a quilômetros de distância, no inferno, um demônio com o seu rosto planejava incendiar tudo.

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"Você parece uma viúva indo para o enterro do marido rico," Rômulo observou com seu sorriso torto, observando Alana se ajustar em frente ao espelho quebrado.

Ela usava um vestido preto simples, mas elegante, roubado de uma loja de departamento. Nos olhos, grandes óculos escuros. Nos cabelos, um lenço de seda escondendo a cor vibrante. Ela não estava se disfarçando para se esconder, mas para observar. Para se misturar com as sombras da alta sociedade.

"Estou indo para um batismo, não para um funeral," Alana respondeu friamente, a voz desprovida de qualquer emoção. "O batismo da minha nova vida."

"A galeria dela? Hoje? É arriscado."

"O risco é o preço," ela retrucou, pegando uma pequena bolsa. "E eu estou disposta a pagar. Preciso vê-la. Ouvi-la. Sentir o ar que ela respira. Não posso interpretar um papel que não estudei."

Rômulo balançou a cabeça, um misto de admiração e medo em seus olhos. "Você é a mulher mais perigosa que eu já conheci, Alana Valquíria."

"Ainda não," ela disse, um pequeno sorriso venenoso tocando seus lábios. "Mas eu vou ser."

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A galeria de Cíntia era um templo de bom gosto e luz. Paredes brancas, iluminação perfeita, pessoas bonitas bebendo champanhe e falando em tons suaves. Para Alana, o lugar cheirava a vitória. Cheirava a tudo que lhe fora roubado.

E então, ela a viu.

No centro de tudo, estava Cíntia. O coração de Alana deu um solavanco doloroso, uma mistura profana de ódio e fascinação. Ver seu próprio rosto em outra pessoa, vivendo uma vida de ouro, era como ter uma faca cravada na alma. Cíntia era radiante. Ela se movia com uma graça despretensiosa, seu sorriso genuíno, seus olhos... os mesmos olhos verdes, mas os dela brilhavam com uma inocência que Alana desprezava.

Ela a observou por quase uma hora, memorizando cada gesto. A forma como ela gesticulava com as mãos ao explicar uma pintura. A risada suave que escapava de seus lábios quando um amigo contava uma piada. A maneira como seu rosto se iluminava completamente quando Vitoriano Lázaro entrou na galeria.

Ah, Vitoriano. Vê-lo em carne e osso foi um choque físico. Ele era ainda mais imponente, mais magnético do que nas fotos. Ele foi direto para Cíntia, e o mundo ao redor deles pareceu desaparecer. Ele sussurrou algo em seu ouvido, e ela riu, dando-lhe um beijo rápido e amoroso.

A visão deles juntos, tão perfeitos, tão... certos, acendeu o dragão no peito de Alana. A inveja se transformou em uma necessidade física, uma fome que doía. Ela não queria apenas a vida dela. Ela queria ele. Ela queria ser o objeto daquela adoração, daquele desejo avassalador.

O plano, até então frio e calculado, tornou-se febril e pessoal.

Vitoriano ficou por vinte minutos antes de se despedir com outro beijo, este mais longo e promissor. Alana o observou sair, seu caminho traçado em sua mente. Este era o momento. A primeira jogada.

Com o coração martelando, mas com o rosto uma máscara de calma, ela o seguiu para fora. Ele estava na calçada, esperando seu motorista. Alana respirou fundo e começou a andar, cronometrando seus passos.

Exatamente quando ele se virou, ela "tropeçou".

Seu corpo colidiu com o dele, não com força, mas o suficiente para que ele tivesse que segurá-la pelos braços para firmá-la. Por um segundo, ela esteve em seu espaço, sentindo o cheiro de seu perfume caro, a solidez de seu corpo.

"Me perdoe," ele disse, sua voz um barítono que vibrou através dela.

Alana levantou a cabeça lentamente. Ela inclinou o rosto apenas o suficiente para que seus óculos escuros escorregassem um pouco pelo nariz, revelando a parte superior de suas bochechas e, o mais importante, seus olhos. Os mesmos olhos verdes que ele tinha acabado de beijar.

Ele congelou. Suas mãos ainda nos braços dela. A confusão passou por seu rosto como uma sombra rápida. Um piscar de olhos, uma ligeira contração da mandíbula. Ele viu o impossível por uma fração de segundo.

Ela se afastou, ajeitando os óculos de volta no lugar, quebrando o contato visual. Com uma voz que era um sussurro rouco, intencionalmente diferente da de Cíntia, ela disse:

"Não se preocupe."

Ela deu um passo para trás, oferecendo-lhe um pequeno e enigmático sorriso que não alcançou seus olhos.

"Algumas colisões," ela finalizou, sua voz mal audível sobre o barulho da rua, "são simplesmente o destino."

E com isso, ela se virou e se misturou à multidão, deixando Vitoriano Lázaro parado na calçada, olhando para o local onde ela estivera, com a semente da mais perigosa dúvida plantada em sua mente.

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