Sob aquele teto conhecia descanso naquela noite.
Arianwen estava sentada na beira da janela, enrolada em uma manta fina. A brisa da floresta soprava entre as árvores, carregando cheiros de musgo e saudade. O luar derramava-se pelo chão como leite derramado dos céus — silencioso, bonito, e cruel.
— Você não dorme nunca? — Eira sussurrou atrás dela.
Arianwen sorriu de leve, mas não respondeu. Sabia que a irmã viria. Sempre vinha quando a dor era maior do que as palavras.
Eira se sentou ao lado dela, com os pés descalços tocando o frio da madeira.
— Eu sinto quatndo seu peito aperta. Mesmo sem te ver. — disse, num tom baixo. — É como se o meu também apertasse junto.
— Não sei se posso fazer isso, Eira. Não sei se sou forte o suficiente.
— Você é mais forte do que todos nós juntos. Só ainda não descobriu.
Silêncio. O tipo de silêncio que só existe entre irmãs: cheio de coisa dita sem ser falada.
— Se você fugir, eu fujo com você.
Arianwen a olhou, surpresa.
— Você tem Dorian. Ele é seu companheiro. Você sente o vínculo. Não posso tirar isso de você.
Eira riu sem graça e olhou para o chão.
— Ele é meu. Mas ainda não sabe. Ou talvez finja não saber, por medo do Alpha. Eu não quero ficar em um clã que força a natureza. Que decide por cima do instinto. Isso não é uma matilha. É uma cela.
Arianwen respirou fundo. O ar entrou gelado.
— Então vamos fugir. Antes da lua cheia. Eu não vou me unir a um lobo que me veja como é um erro. Nem se isso me custar o nome, o clã ou o sangue.
Nesse momento, a porta da sala rangeu levemente.
As duas se viraram, e Maebh estava ali, em pé, com um chale velho nos ombros e olhos marejados que escondiam sabedoria.
— Eu ouvi.
Nenhuma das duas falou. Arianwen abaixou os olhos, como se estivesse sendo pega em um pecado.
— E eu vou ajudar. — completou Maebh.
Arianwen ergueu os olhos de novo.
— Mamãe…
— O que o clã esqueceu, o sangue feminino da floresta lembra. Lobas não nascem para serem presas em jaulas feitas por medo. A lua não manda em nós. A lua caminha conosco.
Ela caminhou até uma pequena prateleira e pegou um saquinho de couro com sementes secas e flores resguardadas.
— Isso é para quando forem. Proteção, acalanto, instinto. Eu preparei para você quando teve sua primeira lua. Sabia que um dia talvez precisasse.
Eira segurou o saquinho como quem recebe uma relíquia.
— Vocês terão pouco tempo. A lua cheia virá em duas semanas, e os preparativos do acasalamento começam três dias antes. É nesse espaço que vocês devem desaparecer.
Arianwen levantou-se lentamente.
— Você vai se despedir de mim, mamãe?
Maebh a puxou para um abraço. Forte. Quente. E doído.
— Eu nunca me despeço de quem carrego no peito. Você é minha filha. Onde quer que esteja, será lobo do meu sangue. Mesmo que seu nome seja arrancado pelo Conselho. O seu espírito não se cala. Nem o seu dom.
Arianwen sentiu que não chorava de tristeza, mas de alívio.
Naquela noite, três gerações de lobas se abraçaram em silêncio.
Não como despedida.
Mas como pacto.
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Atualizado até capítulo 37
Comments
Silvia Aparecida
Estou gostando da história
2025-07-02
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