A estrada de terra ficou para trás, mas o medo continuava colado nos ossos de Luna.
O carro seguia por um caminho estreito entre árvores altas. A luz dos faróis mal iluminava a escuridão à frente. Miguel dirigia em silêncio, os olhos atentos, o maxilar tenso.
Luna se encolheu no banco do carona, os joelhos abraçados contra o peito.
— Onde estamos agora? — perguntou baixinho.
— Quase saindo da zona urbana. Mais quinze minutos e passamos da divisa da cidade. Depois disso, vai ser mais difícil nos rastrearem — respondeu ele, sem tirar os olhos da estrada.
Ela assentiu.
O celular de Luna estava desligado, mas o de Miguel vibrou outra vez.
Ele o pegou.
Número desconhecido. De novo.
— Deve ser seu irmão — murmurou. — Eles estão tentando rastrear a gente.
— Ou ameaçar você — disse ela, encarando o retrovisor. — Meu pai não mede consequências quando se trata de manter o controle.
— Eu sei — respondeu ele, com a voz carregada. — Mas agora é diferente. Agora você está comigo.
Chegaram à pensão às 2h da madrugada.
Era um lugar simples, de madeira antiga, no meio de um vale pouco iluminado. O tipo de lugar em que ninguém faz perguntas.
Miguel estacionou o carro na lateral e desligou o motor.
— Vamos ficar aqui até o amanhecer. Amanhã a gente decide pra onde ir.
Luna desceu com os músculos do corpo todos tensos. Sentia como se estivesse correndo há horas — e, de certa forma, estava mesmo.
Entraram na pensão sem serem notados. Um senhor idoso, sonolento, entregou a chave sem nem pedir documento.
Quarto 7.
Cama de casal. Uma cômoda. Banheiro com azulejos rachados.
Mas, para eles, era o único pedaço de mundo onde estavam seguros.
Pelo menos por enquanto.
— Você tá bem? — Miguel perguntou, sentando-se na beirada da cama.
Luna se aproximou e sentou ao lado dele.
— Não sei. Tô com medo... Mas não me arrependo.
Ele virou o rosto e a encarou.
— Se quiser voltar, Luna... Se achar que é demais...
— Eu não vou voltar. Mesmo com medo, eu tô onde sempre quis estar. Com você.
Miguel respirou fundo.
Pegou a mão dela.
— Eu prometi que protegeria você. Mas preciso que entenda… Pode chegar um momento em que a gente não vai conseguir correr mais.
Ela o olhou, os olhos marejados.
— Eu só quero a verdade. Toda ela.
Miguel hesitou por alguns segundos.
Então, finalmente, falou.
— Eu recebi uma ligação, dois dias antes da nossa fuga. Uma voz anônima. Disse que seu pai não só sabia de nós… como tinha colocado alguém me seguindo. Disse que, se eu não desaparecesse, ia fazer minha vida parecer um crime.
Luna ficou pálida.
— Meu pai faria isso?
— Ele tem poder. Dinheiro. Contatos. Não é difícil inventar uma história, plantar uma prova… destruir alguém como eu.
— Por que não me contou?
— Porque eu sabia que, se você soubesse, ia querer protegê-lo. Ou hesitar.
Ela ficou em silêncio. O coração acelerado.
Então o abraçou, forte.
— Você não vai passar por isso sozinho.
Horas depois, Luna despertou com um som estranho.
Um carro. A freada. Portas batendo.
Olhou pela janela, o coração disparando.
Dois homens estavam do lado de fora da pensão.
Um deles… era Henrique.
— Miguel… — sussurrou, sacudindo-o. — Eles nos encontraram!
Ele se levantou num salto.
— Não era pra acharem a gente tão rápido. A gente tem que sair pela saída dos fundos. Agora!
Pegaram as mochilas.
Miguel puxou Luna pela mão, e os dois saíram pela porta lateral do quarto.
Atravessaram o pátio pelos fundos, sem fazer barulho.
Mas estavam a poucos metros da cerca quando…
— Luna! Para! — gritou Henrique.
Ela virou.
Ele estava ali.
Sozinho.
Sem arma.
Com os olhos cheios de desespero.
— Por favor… só me escuta.
Miguel parou. Luna também.
Ela não sabia se corria… ou se ouvia.
— Se você cruzar essa linha com ele… — disse Henrique, apontando para a estrada — não tem volta.
Silêncio.
Luna respirou fundo.
Olhou para Miguel.
Depois para o irmão.
E então…
Deu mais um passo.
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Atualizado até capítulo 46
Comments
Marta Monteiro
eita 😲 que a coisa tá feia 😕
2025-06-30
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