Ecos do passado (1)
Erika chorava estridente, assustada.
Nathan, abraçava as duas pequenas crianças de dez ano, abaixados no chão do quarto.
O tiroteio começou à exatos vinte minutos.
De início, Nathan julgou que era só mais uma das trocações rápidas, mas quanto mais tempo passava, mais tiro se ouvia.
Como se todo canto daquela favela tivesse ganhado uma metralhadora.
Ainda agachados, Nathan somente rezava, e cantava os pontos que aprendera com a mãe.
Tentava acalmar a sua mente, e transmitir aquela energia para o irmão e a irmã.
Estava apavorado, com medo.
Principalmente com o Luan lá fora.
Nathan não sabia mais quantos minutos duraram, até que os tiros parassem por completo, Gustavo já estava calmo e quando Erika e já mostrava sinais de calmaria.
Foram assustados por batidas estridentes na porta da frente.
Ouviu a voz sussurrar, levantou-se, os dois mais novos também fizeram o mesmo.
Descalços, os dois foram até a porta da frente.
As batidas continuaram persistentes e constantes, o rapaz caminhou pela pequena sala até a porta.
Nathan ( 10 anos)
Quem é? - pergunta com a voz falha.
???
Lipe? Está aí menor? Abre aí rápidão! - Diz rápido.
Guinho
É o Guinho, abre aí, Lacoste levou bala, tá com 2l!
Aquelas palavras fizeram todo o central nervoso de Nathan entrar em hiperfuncionalidade.
Abriu a porta as pressas.
Nathan ( 10 anos)
Me leva até meu irmão!
Guinho
Ele está no postinh*
Antes do rapaz terminar, Lucas saiu correndo, Guinho, sem saída, pegou a criança no colo e o. outro na mão.
Guinho
- Olha para o cara que o acompanha. - Faz a contenção¹ da casa aí. - Sai atrás do rapaz.
Nathan, descalço, e usando apenas o calçado e a camisa de dormir, corria pelas ruas do morro em direção ao postinho.
Que nunca pareceu tão longe quanto aquele dia.
Quando chegou, era a mesma confusão que tinha sempre que havia invasão.
Cheio de pessoas desesperadas correndo de um lado para o outro, ao entrar,
Ao entrar correu para o balcão, mas antes que pudesse fazer qualquer pergunta.
Nathan ( 10 anos)
- Vira o olhar.
Numa maca, num canto da sala, tinha dois médicos, um tentando reanimar o paciente deitado, enquanto o outro tentava afastar os dois homens armados próximos.
Nathan ( 10 anos)
Luan? - Se aproxima.
Era realmente seu irmão, mas com a camisa de Flamengo que Nathan lhe deu de aniversário cheio de sangue, e cinco furos no peito.
Ele ainda respirava, e pareceu sentir quando o irmão se aproximou.
Nathan ( 10 anos)
- Corre para perto.
Nathan estava em transe, lágrimas desciam nos seus olhos, e ele não sabia o que falar ou o que fazer.
"𝑪𝒖𝒊𝒅𝒂 𝒅𝒂 𝑬𝒓𝒊𝒌𝒂 𝒆 𝒅𝒐 𝑮𝒖𝒔𝒕𝒂𝒗𝒐."
Foi tudo o que conseguiu dizer, antes de esfriar ali.
Nathan ( 10 anos)
- Cai de joelhos no chão.
Com as mãos apoiadas no peito do irmão, sentiu seu coração parando aos poucos, até esfriar completamente.
Nathan não sabia o que fazer, estava sem chão, sem própriosito, sem nada.
Apenas perguntas passavam na sua cabeça.
Porque tudo era tirado de si?
Ouviu a voz, virou-se, e viu a irmã sendo colocado no chão e o irmão mais novo que vinha até si, a pequena crianças correu até ele, Nathan virou-se, a abraçando e colocando as suas mãos nos seus olhos.
𝑰𝒓𝒎𝒂̃𝒐, 𝒐𝒏𝒅𝒆 𝒆𝒔𝒕𝒂́ 𝒐 𝒍𝒖? 𝑸𝒖𝒆𝒓𝒐 𝒐 𝒍𝒖!
A menina pergunta a chorar.
Nathan ( 10 anos)
- A abraça fortemente os dois. - O lu foi pra longe.
Nathan F. Braga
- Abre os olhos.
Nathan F. Braga
- Vira e desliga o alarme no celular.
Nathan via o teto do seu quarto, suspirou, e levou a mão para o rosto.
Nathan F. Braga
( Isso de novo.)
Nathan virou-se na cama, se sentou, com os pés descalços no chão.
Nathan F. Braga
- Saravá os meus guias e protetores. Gratidão por mais este dia. - Fez um sinal de Cruz.
Rezou um pai nosso e levantou-se completamente.
Pegou o celular na mesa de cabeceira e viu as horas.
Ao ligar, apareceu uma foto de Erika bebé, e uma hora que marcava:
30 de fevereiro de 2022
05:30Am
Pegou a toalha pendurado no guarda roupa e saiu do quarto.
passou pela porta do banheiro e foi para a porta a seguir.
Nathan F. Braga
- Bate na porta. - Lícia! Acorda, está na hora.
Erika F. Braga
Já acordei, toma banho e me empresta. - Responde ainda sonolenta.
Nathan F. Braga
- Vai pro quarto ao lado. - Gustavo, levanta aí!
Gustavo F. Braga
Já levantei. - Abre a porta do quarto, coçando o saco.
Nathan F. Braga
- Vira e entra no banheiro.
Nathan toma seu banho, se seca, e sai com a toalha amarrada na cintura.
Os dois estavam sentados no sofá da sala, assistindo um desenho animado.
Nathan F. Braga
Já terminei. - Anunciou indo para o quarto.
Nathan se trocou, pegou sua e a colocou para dentro da blusa.
Saiu do quarto, e ainda ouvia o som do chuveiro.
Nathan F. Braga
-Bate na porta do banheiro. - Pensa no planeta.
Erika F. Braga
Aish! - Reclamou de dentro.
Nathan foi para cozinha, passou um café rápido, quando foi pegar o pão, percebeu o saco vazio.
Nathan F. Braga
- Suspira. - Cês comem a droga do pão e nem avisa! - Reclama.
Nathan F. Braga
- Bebe o café.
Nathan F. Braga
- Olhou para o relógio no pulso, já estava seis e meia da manhã.
Nathan F. Braga
Saiem desses quarto, Lícia vai chegar atrasada! - Grita.
Gustavo estra na cozinha arrumado e abre o frigorífico, tirou um iogurte.
Erika F. Braga
Já vou, já terminei. - Sai e fecha a porta do quarto.
A menina estava toda arrumada, com o cabelo bem apanhado.
Nathan F. Braga
Não tem pão, comeram tudo ontem e não avisaram.
Gustavo F. Braga
- Levanta a mão. - Não fui eu.
Erika F. Braga
Tava com fome. - Faz bico.
Nathan F. Braga
-Coloca o copo vazio na pia e vira para a irmã.- Hm. - Coloca a mão no bolso e tira a carteira, pega uma nota de dez e estende. - compra algo pra tu comer hoje.
Gustavo F. Braga
E Eu? - Olha pro irmão.
Nathan F. Braga
Tu vai comer comigo.
Nathan caminhou até a sala, pegou sua mochila no canto onde sempre deixava, e a Erika fez o mesmo, Gustavo pegou o seu também e os três saíram da casa.
Caminharam até chegar no início do morro.
Erika F. Braga
Tchau, bom trabalho pra vocês! - Acena indo para a escola.
Nathan F. Braga
Bom aula. - Olha para o irmão. - Que foi? Ainda tá com sono?
Gustavo F. Braga
pra caralho, dorme quase nada ontem. - Boceja.
E mais um dia normal começou para a família Braga.
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