Capítulo 3

Bianca Montenegro

Chego ao complexo do Alemão no início da noite, meu carro é parado nas barricadas de segurança e é necessário que Roberto desça para liberar meu acesso.

— Ela está comigo.

Faz sinal a um dos rapazes tatuados que segura uma arma grande, um choque de realidade para quem nunca esteve em uma favela antes.

— Bianca.

Ele me abraça gentilmente me tirando do transe.

— Ainda não acredito que veio.

Sorrio ainda olhando assustada para os lados, Roberto agarra minha mão.

— Venha, o Fera está esperando, ele não gosta de atrasos.

Praticamente me arrasta pela rua, nesse momento me repreendo por estar usando saltos, essa realidade definitivamente não é mais minha, passamos pelos becos e um grupo de rapazes armados assobiam, gritam palavras sujas, meu rosto cora.

— Não dê ouvidos querida, esse tipo de gente já teve o cérebro frito por drogas.

— Calma aí mermão.

Um homem tatuado parado na porta do que parece um barranco toca o peito de Roberto com a mão.

— Acha que isso aqui é bagunça? não pode ir entrando assim não.

— Vim falar com o Fera, ele está me esperando.

Tenta entrar, é empurrado.

— Escuta aqui pau no c*ú, não tô gostando desse seu jeito tá ligado?

Aponta a arma em nossa direção, me encolho.

— Posso voltar outro dia.

Sussurro baixinho, visivelmente nervosa, Roberto aperta meu braço.

— Não.

Quase grita em resposta.

— Quer dizer, já está aqui, foi difícil marcar essa reunião com o fera.

Me olha de um jeito estranho, parece agitado.

— Pode checar se quiser.

Encara o rapaz.

— Diga a ele que Roberto Fiúza está aqui, que trouxe o combinado.

Sorri, o olho confusa, o rapaz a nossa frente leva a mão a cintura, tira dele o que parece ser um rádio.

— Aí chefia, um tal de Roberto está aqui fora, tá na companhia de uma patricinha, disse que o senhor liberou a entrada.

A pessoa do outro lado responde algo que não entendo, ele sorri.

— Tô ligado.

Desliga olhando firmemente para Roberto.

— Sem gracinhas coroa, se tentar alguma coisa vai comer bala.

Roberto me olha, sorri, segura minha mão enquanto andamos pelos corredores do que parece um pequeno casebre, os olhos dos homens dentro dele me devoram e o medo me consome.

— Boa noite fera.

Roberto cumprimenta um homem jovem sentado em uma cadeira, o sorriso que ele abre para mim me arrepia dos pés à cabeça.

— É ela?

Se levanta.

— Sim.

Roberto me empurra sutilmente em direção a sua mesa.

— Se apresenta querida, seja educada.

Ando até o homem que se levanta, me olha.

— É um...um prazer senhor Fera...

Ele gargalha.

— Definitivamente essa gracinha...

Olha para Roberto.

— Vale cada centavo porra.

Olho desesperada para Roberto, tento correr até a porta e Fera me agarra.

— Não, não docinho.

Me prende com força em seus braços.

— O Roberto ali está me devendo uma grana e você é pagamento da dívida.

— O quê? O que está acontecendo?

Tento me libertar.

— Desculpa Bianca.

Roberto me olha.

— Me afundei em dívidas, o Fera quer o dinheiro e eu não tenho agora, quando me ligou pedindo por ajuda, por emprego eu vi uma oportunidade, me perdoa.

Choro, tento a todo custo me mover mais não consigo, o homem que me prende é mil vezes mais forte.

— Calma boneca, vamos nos divertir pra caramba.

Ele me arrasta para fora do lugar, abre a porta de um Civic preto me jogando no carona, todos vêem, alguns riem mas ninguém faz nada.

— Por favor, por favor me deixa ir embora.

Imploro e ele me olha nervoso, bate em meu rosto e eu choro.

— Cale a boca,cacete, estou perdendo a paciência.

Fera dirige até uma enorme casa, abre a porta me arrastando para fora do veículo, perco minhas sandálias.

— Socorro.

Grito alto, vários homens armados assistem a cena parecendo não ver problema, quando abre a porta da casa me joga sobre o sofá trancando-a novamente em seguida.

— Deus, Deus não me machuca.

Ele se aproxima, no momento em que toca meu braço ouço barulhos altos como se fossem estampidos.

— Porra.

Ele corre para janela.

— Que diabos está acontecendo? São fogos?

Corre novamente em direção a cômoda, tira de dentro dela um rádio.

— PG, o que está acontecendo?

Do outro lado ninguém responde nada, me levanto em pânico, estou com tanto medo que minhas pernas tremem.

— Fique aqui piranha, se der um passo eu estouro sua cara.

Ele sobe as escadas e volta de lá com uma arma.

— Onde estão os vapores? Estão invadindo o morro porra.

Repete andando de um lado para o outro, está falando sozinho o que só me deixa ainda mais apavorada.

— PG, responde.

Ele grita e ao não receber resposta joga no chão o rádio que se quebra em vários pedaços.

— Vem, a gente tem que sair daqui.

Ele me agarra pelo braço.

— Por favor me deixa ir, eu não vou contar nada, juro que apagarei da mente que lhe conheci.

Choro e ele me bate mais uma vez, sinto minha boca se encher de sangue, fera me arrasta em direção ao carro, quando passamos pela guarita antes cheia de seus capangas o desespero me toma, vários corpos no chão, sangue para todos os lados.

— Porr@, porr@...

Ouço ele gritar um segundo antes de ouvir o disparo, sinto o corpo pesado do meu algoz cair sobre mim, não consigo me mexer, coberta por seu sangue e massa cefálica gemo de dor, completamente tonta e desnorteada, olha para o lado ao ouvir mais um tiro e nesse momento avisto um homem andar dentre os mortos, ele tira o capuz de sua cabeça e enquanto caminha pelo jardim atira em mais dois ou três dos alvejados que ainda respiravam, seu olhar é frio, seu sorriso macabro.

— O morro é nosso, o Alemão é nosso.

Um grupo de homens adentra os portões, o que está à frente do grupo coberto por tatuagens gargalha.

— Você é mesmo um demônio, o coração de gelo da máfia Victor Fiorelly.

O homem a sua frente não diz nada, está em silêncio quando de repente me olha, fecho meus olhos fingindo estar morta, pedindo a Deus para que não tenha me visto mais choro baixinho ao ouvir os passos em minha direção, um após outro, fazendo um barulho agoniante de botas pesadas sobre a grama, abro os olhos e o vejo diante de mim, se abaixa segurando uma arma, o cano frio toca minha testa e um sorriso doentio enfeita seu rosto.

— Um dia de merda para as burguesinhas visitarem a favela, não pertence a esse lugar o que é uma pena, vai ser enterrada nele.

Se levanta.

— Tragam ela.

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Comments

Graça Barbosa

Graça Barbosa

Bianca confiou em quem não deveria, agora vai pagar caro por ser ingênua, a tua sorte é que esse monstro vai morrer e você estará salva, digamos assim

2025-08-06

1

Deise

Deise

“Trouxe o combinado”? Não vai dizer que vendeu ela ou que quer usar ela para conseguir dinheiro do pai?

2025-06-19

3

Deise

Deise

Que tivesses dado até o cú mas que não vendesses outra pessoa, que direito tu tens de fazer isso?

2025-06-19

2

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Atualizado até capítulo 75

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