KRISTEN BELL
Meu celular desperta alto, e eu fico sem acreditar que é hora de acordar, já que praticamente acabei de começar a dormir. Jason passou a noite inteira fazendo barulho e me mantendo acordada, eu quero muito soca-lo por isso. Tyler dorme feito uma pedra, já eu tenho o sono leve e qualquer coisa me incomoda. Geralmente Jason não é tão barulhento assim, mas depois da aposta de ontem, ele parece que soltou um parafuso da cama pra ficar rangendo, e tenho absoluta certeza que contou para as duas garotas que tinha uma certa tara em hienas. Porque elas estavam gemendo e gritando feito o animal.
- Bom dia amor.. – Tyler fala ainda sonolento. Fico com raiva e inveja do tanto que ele dormiu sem se importar com o barulho. Conversamos um pouco ainda deitados\, e para não me atrasar\, levanto indo tomar um banho. Em seguida visto uma calça jeans\, suéter e tênis. Enquanto Tyler toma banho eu desço para preparar um café. O cheiro e o sabor melhoram um pouco meu humor.. Antes de sairmos de casa\, decido abrir o meu cofre\, estou juntando dinheiro para comprar uma motocicleta usada. Sempre tive vontade de ter uma\, mas meus pais não gostam da ideia\, nem Tyler.
Como nenhum deles me ajudaria com a grana para isso, decidi juntar a algum tempo. Vivo dependendo de carona, do Ty ou dos meus amigos, e simplesmente odeio isso. Meu ex namorado, Liam, tinha uma moto na escola. Ele me ensinou a andar e eu simplesmente adorei, dai veio minha vontade de ter a minha própria.
- Ty? – Chamo ele\, descendo as escadas com todo dinheiro do meu cofre em um envelope. – Você pode me levar em um lugar hoje depois da aula? – Pergunto pegando minha bolsa. Ele olha para o envelope e balança a cabeça negando.
- Ainda essa ideia? – Pergunta levantando da cadeira com uma xícara na mão.
- Vou comprar com ou sem sua ajuda\, mas realmente gostaria de uma carona. – Falo decidida e ele pega sua mochila.
- Não vou ficar contra seus pais amor\, e também não concordo com isso. – Tyler fala abrindo a porta da frente. – Desculpe! – Ele encolhe os ombros e eu reviro os olhos. Eu já estava contando com isso\, Tyler tem o seu jeito.
Quando chego ao prédio da minha primeira aula, ando distraída até entrar na sala e ver meu amigo Harry de longe, ele acena sentado no fundo e eu subo para encontra-lo.
- Olá Panda! – Ele me olha sorrindo e analisando meu rosto. Estou com olheiras fundas\, é claro.
- Não dormi nada essa noite. – Explico procurando uma caneta na bolsa.
- Deu pra perceber\, mas me conta\, o motivo envolve sexo?- Harry me pergunta baixo com um olhar malicioso.
- Sim\, daqueles cheios de tapas e gritos. – Falo irritada e ele me olha surpreso. Apesar de Harry ser meu melhor amigo\, eu não sou muito de falar da minha vida sexual\, então por isso ele estranha o meu comentário. – Não comigo né Harry! Óbvio. – Empurro seu ombro e ele sorri.
- Levinsky? – Pergunta mordendo uma caneta. Balanço a cabeça que sim quando o professor entra na sala. – Me fala detalhes né Kristen! – Pede se aproximando. Harry não é gay assumido para todos ainda\, poucas pessoas sabem\, outras desconfiam. Quem conversa ou vê Harry não imagina porque ele não mostra seu lado feminino para qualquer pessoa. Shantal e eu ficamos sem acreditar quando ele nos contou\, porque realmente não parece. Apesar de ser uma droga ele viver no armário\, ele prefere assim por enquanto. Seus pais não aceitam\, e ele tem muito medo do preconceito e das próprias pessoas.
- Depois! – Sussurro de volta e ele revira os olhos. O professor da inicio a aula e começo a fazer minhas anotações.
Assim que termina, conto ao Harry sobre os cem dólares que ganhei ontem e sobre a noite barulhenta do Jason.
- Hey! – Saindo do campus para o estacionamento escutamos a Shantal nos gritando. A gente para e espera ela nos encontrar.
- Pode me dar uma carona? – Peço ao Harry e ele concorda. – Mas não pra casa. Na verdade.. pode me ajudar a escolher minha moto? – Pergunto.
- E por que você acha que eu entendo algo sobre isso? – Ele questiona me olhando confuso.
- Vamos lá Harry\, apenas um apoio moral! – Falo abrindo a porta da sua camionete e ele revira os olhos.
- Chegou agora no campus? – Harry pergunta quando Shantal nos alcança\, ela sorri explicando que dormiu demais e perdeu a hora.
- Nós vamos atrás de uma moto para Kristen\, quer ir junto? – Harry pergunta dando a volta no carro.
- Nem fodendo! – Ela da de ombros. – Vão até o outro lado da cidade pra isso? – Shantal pergunta como se fosse dar uma volta ao mundo. Minha melhor amiga é um pouco diferente\, pra não dizer louca. Mas é uma das melhores pessoas que conheci em Seattle.
No fim convenço ela a ir com a gente, vou animada o caminho todo ouvindo musica e cantando com eles.
- Soube que ganhou cem dólares do Levinsky ontem?! – Shantal pergunta quando já estamos chegando a loja de motos.
- Como você soube? Nem estava no Jack's ontem! – Pergunto sem entender como as coisas se espalham rápido por aqui.
- Dean comentou com alguém da fraternidade que o grande pau de mel Jason Levinsk levou um fora e todos estavam falando sobre isso hoje. Ele vai querer sua cabeça quando descobrir que Lauren é gay. – Shantal fala sorrindo e eu dou de ombros\, ele não pode ser pior do que já é.
- Mas e você e o Peter? - Pergunto fazendo Harry sorrir. Shantal suspira e começa a falar do quanto o garoto é tímido e devagar.
- Ele não vai te chamar pra sair! - Harry fala e eu concordo. A algumas semanas Shantal começou a se interessar pelo Peter e vem se esforçando por sua atenção.
- Vocês dois não tem absolutamente nada a ver. E não adianta falar que é divertido falar safadezas e vê-lo corar! - Falo e ela sorri concordando.
- Eu não sei\, só tenho que riscar da minha lista. - Ela fala olhando pela janela pensativa.
- O que? - Pergunto confusa.
- Sentar em um pau virgem. - Ela fala com naturalidade. Todos caímos na gargalhada.
- Peter não parece virgem\, ele só não curte piranhas. - Harry fala e Shantal da de ombros sem se importar com o adjetivo.
Quando chegamos á primeira loja de motos, minha animação vai por água a baixo. Eu não tinha nem metade do valor que estavam pedindo em uma lambreta, quanto mais em uma moto melhor. Minhas pesquisas na internet me levaram a crer que eu realmente conseguiria comprar com minhas economias, mas estão querendo cobrar o dobro do valor.
Passamos em duas outras lojas e eu já estava com vontade de chorar de frustração. Precisava voltar para dar inicio meu turno no Jack's e não tinha encontrado nada ainda.
- Por que não fica com essa Lambreta\, boneca? É ideal para garotas como você! – O ultimo cara teve a audácia de me oferecer por 4 mil dólares uma lambreta caindo os pedaços na cor rosa neon. Shantal com toda a sua educação\, mandou o homem enfiar a motocicleta em seu.. nariz.
Eu não queria uma moto espetacular. Apenas uma cor neutra para o caso de precisar revendê-la. Mas de todo caso vou ter que juntar mais dinheiro e voltar aqui depois.
- Carter disse que pagou uma mixaria em seu carro! – Harry fala quando voltamos para a estrada. – Ele comprou em uma oficina chamada Ballys\, precisou de alguns reparos\, mas saiu pela metade do preço! – Quando ele fala o nome da oficina procuro no google e vamos até la\, como a ultima esperança.
A oficina fica em lugar afastado e vazio, nós descemos do carro sem saber se o gps tinha dado no lugar certo, pois não tinha placa. Mas alguns pneus empilhados na lateral da loja nos indicavam uma borracharia, e chegando mais perto tinha um carro no alto de um elevador de carros. Um homem grande e cabeludo foi quem nos atendeu, ele usava roupas largas e cheias de graxa. Não gostei do jeito que ele olhou pra Shantal, então agradeci mentalmente por Harry estar conosco, e pelo menos parecer um homem forte e ameaçador.
- O que querem? – O homem pergunta limpando as mãos em um pano preto.
- Carter nos indicou. – Começo sem ter certeza se era uma boa ideia mencionar o garoto. – Ele disse que talvez o senhor tenha uma moto a venda\, num bom preço. – Fiz a minha melhor voz confiante.
- Ah tenho sim\, com certeza! – Ele fala nos conduzindo para o galpão na lateral da loja. – Essa belezinha aqui está a preço de bananas. É uma ótima moto\, mas está a um tempo parada. – O cara faz toda a propaganda da moto enquanto tira uma capa cheia de poeira de cima dela. Me surpreendendo completamente\, é uma Yamaha Mt\, na cor preta. Fico interessada \,porém com medo de perguntar quanto vale suas bananas.
- Quanto está pedindo nela? – Harry pergunta com sua pose de hétero top.
- Precisa de uma manutenção\, por isso estou passando por 2 mil dólares. – O cara fala olhando para Harry.
- Manutenção em que? – Pergunto animada demais. Ele fala algumas coisas sobre os pneus e o motor\, mas não me importo. O valor corresponde as minhas economias e ainda vai me sobrar dinheiro pra lidar com os reparos.
Fechamos negocio e saio da oficina com minha nova moto na carroceria de Harry. Quero dar pulos de alegria por ter dado certo, ainda não acredito.
- Obrigada Harry\, fez muito por mim hoje! – Falo quando conseguimos guardar a bendita moto na garagem.
- Só espero não ter contribuído para sua morte\, toma cuidado Kristen! – Ele fala e eu sorrio. Me despeço dos dois e subo correndo para tomar banho\, vou chegar atrasada no Jack's hoje\, mas foi por um ótimo motivo.
Visto uma calça escura, botas e o uniforme preto. Prendo o cabelo em um rabo de cavalo e desço as escadas. Não vou ter tempo de comer alguma coisa antes de sair, então só pego uma maçã na cozinha, quando estou juntando minhas coisas, Tyler chega.
- Estou atrasada\, posso usar seu carro essa noite? - Pergunto passando por ele e mordendo minha maçã.
- Eu tenho reunião com o time agora\, na casa do Max\, sobre a viagem. - Ele explica e meus ombros caem. No começo do semestre combinamos uma viagem para Califórnia com todo o time do Tyler e suas namoradas\, assim que acabar as aulas e os jogos da temporada. Vai ser incrível\, mas nesse momento não me importo com a viagem\, só quero chegar até meu trabalho.
- Não consegue me deixar no Jack's antes? - Pergunto fazendo uma careta e ele pensa por um momento.
- Vamos lá! - Fala desanimado e eu sorrio. No caminho conto a ele sobre a grande compra da minha moto e explico que não vou mais precisar ficar pedindo carona toda hora. Ele não fica animado e começa a me dar sermão sobre motocicletas e seus perigos.
Quando ele para na calçada, pulo do carro e saio correndo para a entrada do bar. Lizzy está arrumando as mesas e eu ando depressa pra guardar minha bolsa e ajudá-la. Mas ao passar pelo escritório do Jack, vejo o Jason saindo da sala e pela primeira vez em anos, com uma cara super preocupada.
- O que houve? - Pergunto olhando pra ele.
- Nada.. - Ele da um sorriso fraco mas não me convence.
- Jason me fala! - Peço aflita\, olho pra dentro da sala mas não vejo meu chefe.
- Depois. - Ele também olha pra dentro da sala\, mas em seguida sai andando sem me deixar perguntar nada.
- Jack? - Bato na porta e entro\, ele está sentado em sua cadeira olhando para o teto\, quando me vê da um sorriso que não alcança seus olhos.
- Está tudo bem? - Pergunto baixo e ele levanta da cadeira de uma vez\, passa a mão na calça como se estivesse tirando alguma poeira e volta a ser o habitual Jack.
- Estaria melhor se você não tivesse chegado atrasada não é mesmo mocinha? - Fala dando a volta em sua mesa de madeira. - Mas não tem problema\, Hope sempre me disse que até os melhores funcionários tem defeitos. - Ele começa a falar da sua falecida mulher\, com um brilho no olhar\, assim como todas as vezes que toca no nome dela. Depois de ouvir mais uma história linda dos dois\, vou correndo guardar minha bolsa e finalmente ajudar Lizzy a abrir o salão. Hoje não tem muito movimento\, e por isso organizamos o estoque\, reabastecemos os potes de ketchup e tiramos a poeira das garrafas. Coisas que não da pra fazer quando estamos lotados.
O que me da tempo de pensar sobre o Jack e o vinco de preocupação entre as sobrancelhas de Jason. Algo sério está acontecendo e isso aperta meu coração. Mil possibilidades passam em minha mente, mas algo se concretiza. Já faz algum tempo que percebo Jack diminuindo a lista de empregados, ele também está deixando faltar mercadoria e atrasando nosso salário. Eu posso estar enganada, mas talvez ele não esteja mais dando conta do bar. Todos nós amamos esse lugar, não só por servir o melhor queijo quente, ter as maiores sinucas e diversidade de estilos musicais. Mas principalmente por ser Jack o dono de tudo isso! Ele é como um pai para todos, sempre atencioso e cuidadoso. Sorrindo e nos abraçando com um braço, enquanto segura a peruca com o outro. Faz três anos que o conheço, ele é o nosso paizão, não posso imaginar o que esteja de errado com ele, mas sinto no coração que preciso ajudar, seja lá o que for.
Quando meu turno acaba, começo a ligar para o Tyler, ele demora a me atender e eu decido pedir carona para Lizzy. Ela está trocando de roupa lá dentro, e como já estou pronta prefiro esperar ela no estacionamento. Quando abro a porta de saída vejo o carro do Jason em sua vaga habitual. Ele está sentado no capô conversando com Peter, que está em pé segurando uma garrafa de vodca.
- Hey. - Falo me aproximando. Jason se vira e vejo seus olhos baixos\, ele está bêbado\, percebo pela sua expressão. -Está me devendo uma carona! Tive uma noite de merda graças a você e suas hienas! -Falo e ele sorri. Tenho medo dele dirigindo quando bebe\, mas preciso ficar a sós com ele e descobrir o que está acontecendo com Jack.
- Entra aí chaveirinho. - Jason fala e se despede de Peter.
- Na verdade\, é melhor eu dirigir. - Falo quando ele pula para o chão e se desequilibra.
- Nem se minha vida dependesse disso Bell! - Ele sorri de canto e abre a porta do carro.
Ainda estou brava por todo o barulho que ele fez. Mas Jason não é de beber tanto em plena segunda feira e está parecendo abatido e preocupado.
Entramos no carro e ele liga o rádio, coloca uma música da banda Red Hot chilli peppers e da partida no motor.
- Jack está falindo? - Pergunto dando início ao assunto de uma forma direta. Jason me olha semicerrando os olhos.
- Como sabe disso? - Ele pergunta e eu encosto a cabeça no banco. Então é verdade.. Uma tristeza me atinge\, não por talvez perder meu trabalho\, isso é o que menos me preocupa\, posso ser garçonete em qualquer bar de Seattle. Mas não imagino o quão difícil isso é para Jack\, ele e sua esposa Hope construíram juntos aquele bar\, tudo o que ele mais ama depois da sua falecida esposa\, é aquele bar\, eles não tiveram filhos. Hope morreu a dois anos e foi a coisa mais triste que aconteceu para todos\, ela era doce\, tinha um sorriso capaz de iluminar o ambiente e era o porto seguro de Jack.
- Eu só sei.. - Explico dando de ombros e ele suspira. - Isso não pode estar acontecendo\, tem que ter um jeito! - Falo frustrada.
- Ele já hipotecou a casa\, e as contas não param de chegar. Mas isso não é nem de longe o pior! - Jason fala e eu olho pra ele confusa\, tem pior?
- Kristen você precisa me jurar que vai manter segredo! Até mesmo de Tyler. - Ele fala alternando o olhar entre mim e a estrada. Percebo que o assunto é totalmente sério porque ele geralmente não me chama de Kristen. E também sempre dirige rápido e cheio de manobras\, mas hoje está devagar e atento. - Se Jack sonhar que você sabe\, ou que está olhando pra ele com pena\, eu te mato! - Ele ameaça a eu reviro os olhos mandando ele contar logo.
- Eu só estou te falando porque não sei mesmo o que fazer para ajudá-lo\, e talvez você pense em alguma coisa. Mas posso perder a confiança do Jack se ele souber que quebrei minha palavra de que não ia contar a ninguém. - Jason fala sério e meu coração acelera.
- Por Deus Jason\, o que está acontecendo? - Pergunto aflita.
- Jack está com câncer. Ele precisa retirar o tumor o quanto antes. Mas deixou de pagar seu plano de saúde\, e não tem dinheiro para se cuidar. - Jason fala e eu sinto um bolo se formar em minha garganta. - Ele quer que eu compre o bar\, vai colocar algumas contas em dia e reaver o seu plano para o tratamento. Mas não vejo isso como solução para longo prazo.
- Ah Deus! - Falo chorando. É realmente muito pior do que um problema financeiro. Jack não merecia isso! Fomos o restante do caminho conversando sobre formas de ajudá-lo \, não podemos deixar que ele se vire sozinho! Ainda mais em um momento como esse. Não vai ser fácil e nem barato lidar com isso.
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Comments
Tsumugi Kotobuki
Esse livro me ganhou.
2025-06-17
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