Jonas então se aproximou, forçando um sorriso falso e esticando o braço com galanteria teatral.
— Venha, minha esposa... - Disse, como um perfeito cavalheiro, olhando de soslaio para o avô. — Deixe-me levá-la.
Cléia ergueu uma sobrancelha desconfiada, mas Nathaniel assentiu.
Então ela caminhou atrás de Jonas sem dizer uma palavra.
Jonas abriu a porta do passageiro com um gesto exagerado e teatral.
— Entre, minha esposa. - Repetiu, o veneno por trás do tom doce era tão sutil quanto evidente.
Cléia entrou, ajeitando-se no banco de couro fino como se aquele tipo de luxo fosse apenas mais um detalhe sem importância. Antes de fechar a porta, ela sorriu para Nathaniel.
— Tchau, vovô!
O idoso acenou com orgulho, observando como se estivesse assistindo a uma semente brotar no concreto.
Margareth, furiosa, deu um passo em direção ao carro do filho.
— Jonas, eu vou com...
Mas Anton, com um simples levantar da mão, interrompeu:
— Comigo, Margareth. - Sua voz não admitia negação: — Eu te levo. Deixe os dois se conhecerem.
O olhar que o idoso lançou à filha foi uma ordem velada, e ela a compreendeu perfeitamente.
Dentro do carro, Cléia afivelava o cinto com tranquilidade. Jonas entrou logo em seguida, o silêncio entre eles carregado e denso. Ele a olhou de lado com desprezo, mas ela não disse nada.
Apenas encarou pela janela, os olhos focados em nada, mas com a mente em tudo.
Estava casada.
Com um homem que a odiava.
Mas agora...
Comida garantida.
O motorista de Jonas levantou a divisória do carro com um zumbido discreto, revelando a figura de Jonas, que se virou devagar para encarar Cleia.
Seus olhos a fitaram como se observasse algo indesejado que, por obrigação, fora obrigado a carregar.
— Já que você entrou pra família.. - Disse ele com uma voz baixa e amarga: — Tenho algumas exigências.
Cleia, ainda admirada com o conforto do banco de couro sob seu corpo, olhou para ele com os olhos brilhando com uma mistura de cansaço e Ousadia.
— Quais? - Perguntou, como quem pergunta se vai chover amanhã.
Jonas soltou uma risada seca e debochada, cruzando os braços com a altivez de um rei falando com uma plebeia.
— Vou te levar para a mansão C. Você ficará lá. Não vou morar com você. E, acima de tudo, você não tem o direito de expor o nosso casamento, nem me chamar de marido. Nada de entrevistas, redes sociais ou aparições públicas. Nosso nome é maior que sua existência, entendeu?
Por um segundo, Cleia ficou em silêncio. Depois, seus olhos brilharam.
Um sorriso espontâneo, quase infantil, surgiu em seu rosto.
— Então eu vou morar sozinha? - Perguntou, a voz repleta de esperança: — Você não vai morar comigo?
A felicidade era tão escancarada que beirava a afronta.
Jonas arqueou uma sobrancelha.
Cleia então deu um pequeno pulo no banco e disse, quase aos gritos:
— Graças a Deus! - Disse com entusiasmo: — Mal nos casamos e já é o melhor presente que recebo!
O tom foi tão sincero que o motorista na frente engasgou tentando esconder a gargalhada.
Jonas, com um olhar de puro desprezo, estreitou os olhos.
— Eu não vou consumar esse casamento. Nem com a morte.
Cleia deu de ombros, girando os pulsos despreocupadamente.
— Eu não ia permitir mesmo. - Rebateu com naturalidade: — O que me interessa é a comida! Vou comer bem todos os dias! - Disse, rindo e esfregando a barriga como se estivesse diante de um banquete.
O gesto dela foi tão espontâneo, tão genuíno, que causou um arrepio de repulsa em Jonas.
O nojo em seu rosto era inconfundível. Ele a observava como se ela fosse uma bactéria infectando o banco do carro.
O sorriso dela não se abalou, mas o clima dentro do Rolls Royce caiu como uma tempestade repentina.
O ar ficou pesado. Frio. Quase cortante.
— Eu jamais ia dormir com uma mendiga. - Cuspiu ele com desdém. — Não estou tão desesperado. Você se agarrou na gratidão do meu avô como uma parasita tentando entrar pra família... Parabéns por isso.
Cleia cruzou os braços, as pernas e o olhar.
— Tô nem aí com sua opinião! - Respondeu sem sequer hesitar: — O que importa é que vou ter uma vida boa, vou comer todos os dias, pelo menos não vou ter que te ver... e vou encher meu bucho! - Completou, com a voz alegre.
O motorista, ao ouvir isso, mordeu os lábios com força para não rir. O ambiente estava cada vez mais tenso, mas a sinceridade da jovem era quase cômica.
Jonas chutou a poltrona da frente com força. O estrondo seco fez Cleia arregalar os olhos, assustada.
— Você é louco?! - Exclamou, instintivamente recuando no banco.
Ele se inclinou até ela, os olhos faiscando com uma raiva fria. O rosto dele estava a poucos centímetros do dela.
— Lembre do seu lugar, sua mendiga. - Sussurrou com veneno.
Cleia, sem se abalar, ergueu o queixo.
— Lembre do avô.. - Disse em tom baixo, mas firme: — Se eu falar pra ele que está me maltratando...
Ela nem terminou a frase.
O silêncio que seguiu foi tão cortante quanto navalha.
Jonas virou o rosto com um bufar de raiva, socando o encosto de couro ao lado.
As veias do pescoço saltavam.
Ele estava preso numa armadilha feita pelo próprio avô - e ela estava ali, rindo por dentro.
O carro então desacelerou suavemente.
Pela janela, Cleia viu os portões se abrirem como se estivessem diante de realeza. Um condomínio fechado, com uma imponente letra dourada “C” no arco de entrada, se revelava à frente.
Cleia sentiu o cheiro de grama molhada, perfume caro e opulência. Um lugar onde até o ar parecia filtrado.
Ela não disse nada. Apenas olhou, admirada.
— Chegamos. - Disse Jonas, frio.
Assim que o carro parou diante da mansão C, Cleia tirou o tênis velho e saltou com os pés descalços tocando o chão liso e polido da entrada.
Seu olhar correu pelos muros altos de pedras nobres, pela fachada em mármore bege, as janelas altas adornadas por cortinas de linho e os vasos ornamentais com flores tão simétricas que pareciam feitas à mão. Ela acompanhou Jonas até a imponente porta da frente, onde dois degraus largos de granito branco reluziam sob a luz da tarde.
Quando a porta se abriu, uma empregada de meia-idade, vestida com uniforme azul-escuro impecável, se aproximou com as mãos entrelaçadas na frente do avental e um sorriso profissional no rosto.
— Jovem senhor, quanto tem... - Começou ela, mas parou bruscamente ao avistar Cleia.
Seus olhos desceram e subiram, passando pelas roupas surradas da garota, os cabelos desalinhados, o cheiro de rua ainda perceptível.
Com o semblante se torcendo em repulsa, a mulher apontou para Cleia com o dedo tremendo e uma voz carregada de desdém:
— Ela é minha ajudante?
A forma rude com que falou fez um sorriso surgir no rosto de Jonas.
Ver Cleia sendo tratada como lixo o satisfazia.
Mas Cleia deu um passo à frente, com os olhos semicerrados, encarando a mulher como se avaliasse uma barata que ousara se levantar contra ela.
— Ajudante? - Repetiu, com um riso breve. — Eu sou a esposa desse asno aqui.
Jonas explodiu:
— Você...!
Mas nem teve tempo de completar a frase.
— Está demitida. - Disse Cleia à empregada, com a calma de quem decretava a mudança do tempo.
A mulher recuou um passo, piscando com incredulidade. Olhou de Jonas para Cleia e, não vendo nenhuma reação do rapaz, resolveu reagir:
— Não é a senhorita que me paga. Quem deve sair é você. Esposa do mestre? - Ela deu uma risada forçada e amarga: — Vai sonhando, fedelha.
Cleia cruzou os braços, o queixo levemente erguido, e girou lentamente para Jonas.
— Estou errada? Essa casa não seria minha moradia?
Jonas a encarou, seus olhos escuros como petróleo fervendo de fúria.
— Um favor momentâneo. - Disse entre os dentes.
— Ok. - Respondeu ela sem pestanejar. — Então vou falar com o vovô!
Foi como jogar gasolina no fogo.
Jonas avançou um passo em sua direção, sua presença se tornando uma sombra ameaçadora.
— Poupe-me dessa chantagem barata ou eu... - Sussurrou, com a mandíbula cerrada.
Cleia deu um meio sorriso, os olhos fixos nos dele e o interrompeu.
— Ou o quê? Você exigiu e eu aceitei. Acha que não vou falar pro vovô se você não expulsar essa mulher da minha casa? Sim, porque somos casados... e essa é MINHA casa!
A última frase, dita com firmeza, caiu como um trovão.
A empregada, que antes estava firme, sentiu os joelhos cederem um pouco. A bravata da menina tinha peso.
Jonas cerrou os punhos. Por dentro, ele queria esganá-la. Mas por fora... ele sabia que não podia.
Ele virou-se para a empregada e disse com frieza:
— Arrume suas coisas.
A mulher arregalou os olhos de raiva, bufou alto e lançou um último olhar mortal a Cleia antes de dizer:
— Sim, senhor.
Virou-se nos calcanhares e saiu batendo os pés no mármore como uma criança contrariada.
Cleia nem olhou para ela, apenas abriu a porta, entrou e gritou por sobre o ombro:
— Certo. Agora você pode ir. Vou ver se consigo algo pra usar.
Jonas, ainda parado na entrada, pegou seu cartão preto de crédito, reluzente, e o atirou no rosto dela como se estivesse jogando lixo.
— Use isso e compre roupas que prestem. E não se esqueça: nenhuma palavra sobre esse maldito casamento.
Cleia pegou o cartão com uma expressão debochada.
— Tá, tá. Você parece um papagaio, cara! Agora pode ir. Estou com fome.
Ele a olhou com desprezo, quase curioso por ela ainda estar viva diante de tanta ousadia.
— Não comeu no restaurante? - Perguntou com indiferença.
Ela revirou os olhos como se a pergunta fosse a coisa mais ridícula do mundo.
— Aquela miséria?
Virou as costas com naturalidade e atravessou o saguão luxuoso da mansão. O som de seus passos descalços ecoou no piso de mármore.
Antes de desaparecer, ainda disse com desdém:
— Não esquece de bater a porta da minha casa.
Jonas ficou parado, imóvel. Os olhos dele a seguiram até ela sumir no corredor.
Seu maxilar latejava.
E em silêncio, com o coração envenenado por orgulho ferido, ele jurou:
“Vou fazer você se arrepender desse casamento, sua mendiga.”
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 68
Comments
Marilena Yuriko Nishiyama
espero que a Cléia coloque o Jonas no lugar dele...........,esse Jonas é muito arrogante,que homem chato,só porque é rico tem que tratá-la mal...........pelo visto esses dois anos de casamento serão mais longos para a Cléia,apesar que aparenta não ligar
será que a Cléia irá conseguir um emprego ou ela só irá viver na mansão sem fazer nada🤔,ela poderia provar que ela é uma garota bem mais inteligente que parente ser
2025-06-18
1
Daisy
Estou ansiosa pra ver Jonas arriado os 4 pneus por Cléia. Jonas vai notar que sua mãe esta lhe manipulado e cai colocar a velha no seu lugar. E o vovô vai fazer de Cléia a mulher mais bem sucedida e deixa Jonas morto de ciúmes kkkk
Acho que eles vão se apaixonar.
2025-06-18
2
marlene morais
Ela é muito ousada, estou amando.
2025-06-18
1