Ariela sorriu. Um sorriso ensaiado, controlado.
— Rebeca, que bom te ver.
A outra mulher se aproximou com a leveza de uma gata bem alimentada. Os cabelos ondulados caíam impecáveis sobre os ombros e o batom vermelho destacava o sorriso que, para qualquer um, pareceria caloroso. Para Ariela, era uma lâmina envolta em veludo.
— Você está maravilhosa, Ari — Rebeca disse, com um abraço que durou meio segundo além do necessário. — Sério, você está com um brilho novo.
Brilho novo, repetiu Ariela em pensamento, controlando a vontade de rir.
Sim, havia um novo brilho nela. O brilho de quem voltou do inferno com a alma intacta — e agora usava a própria memória como arma.
Sabia exatamente quem Rebeca era: amante de Leonardo, mentirosa profissional, traidora.
Na vida passada, confiara nela. Abrira seus segredos, suas dores. Rebeca ouvira tudo, enquanto se deitava com o homem que a enganava pelas costas.
Dessa vez, seria diferente.
— Você também está linda, Rebe — respondeu, fingindo admiração. — Aliás, vamos sentar? O café aqui é o melhor da cidade.
Na cafeteria próxima à Fundação Castellani, as duas sentaram lado a lado, rindo e trocando comentários sobre o trabalho. Ariela deixava a conversa correr como um rio calmo — mas cada palavra, cada gesto de Rebeca era observado e registrado em silêncio.
Ela não estava ali para criar laços.
Estava ali para entender os planos de seus inimigos antes que eles os executassem.
— E como está sendo trabalhar com o famoso Liam Castellani? — perguntou Rebeca, com naturalidade falsa demais.
— Intenso — Ariela respondeu, fingindo desviar o olhar com um suspiro. — Mas acredito que ele se importa com o que faz. Por trás daquela fachada gelada, tem alguém real.
Rebeca soltou uma risadinha contida.
— Só cuidado pra não congelar tentando alcançar o coração dele.
Ariela sorriu. Ah, como conhecia essa estratégia. Jogar dúvidas. Plantar medo. Envenenar lentamente.
— Eu gosto de desafios — respondeu, bebendo o café com calma. — E sei exatamente onde estou me metendo.
Rebeca pareceu perder por um instante o brilho no olhar. Mas logo retomou a compostura.
— Bom saber.
Horas depois, Rebeca jogava sua bolsa no sofá do apartamento de Leonardo e tirava os saltos com um suspiro impaciente.
— Ela sabe, Leo.
Leonardo a observava do bar, onde servia uísque em dois copos.
— Como assim?
— Não sei explicar. Mas ela não é mais a mesma. Não caiu no meu teatrinho. Sabe o que está fazendo. Está me vigiando.
Ele entregou o copo a ela, com o cenho franzido.
— Então jogue melhor.
Rebeca o olhou de lado.
— Você acha que ela vai mesmo se apaixonar por Liam?
— Espero que sim — respondeu, secamente. — Quanto mais envolvida ela estiver com ele, mais frágil vai estar quando ele, inevitavelmente, fizer o que sempre faz: manter a distância.
E aí, ela vai lembrar de quem sempre esteve ali.
De mim.
Rebeca riu com desdém.
— Você se superestima.
— Eu a conheço. E agora eu tenho você, por dentro da vida dela.
Ela estreitou os olhos.
— Não me subestime, Leonardo. Eu também tenho meus próprios planos.
Enquanto isso, no quarto amplo da mansão Vidal, Ariela lia os antigos registros contábeis da fundação dos Castellani. Começava a ver padrões, fluxos e nomes que reapareciam com frequência demais. Anotava em silêncio, conectando os fios.
Ela sabia que Liam era parte de algo muito maior.
E que Leonardo não queria apenas o dinheiro dos Vidal — ele queria destruir tudo que Ariela representava.
Mas dessa vez, ela estava preparada.
Se Rebeca pensava que usaria uma máscara para enganá-la, ela usaria uma melhor ainda.
E venceria esse jogo… sem precisar sangrar novamente.
Na manhã seguinte, Ariela chegou mais cedo à Fundação Castellani. O salto de seus sapatos ecoava pelos corredores como um aviso: ela não estava ali para agradar, e sim para conquistar terreno.
Rebeca já estava em sua sala quando ela passou, cercada por planilhas e assistentes. Quando viu Ariela, levantou o olhar com o mesmo sorriso de sempre — aquele que tantos acreditavam ser genuíno.
— Ari! Precisamos conversar sobre o projeto do Instituto Helena. Você pode me dar uns minutos?
Ariela assentiu com elegância.
— Claro. Sala de reuniões em dez?
— Perfeito.
Na privacidade do ambiente envidraçado, Ariela se sentou à cabeceira da mesa, assumindo uma postura impecável. Rebeca jogou sobre a mesa alguns relatórios, tentando demonstrar competência, mas seus olhos estavam atentos demais, como quem busca uma falha.
— Estamos tendo problemas com alguns contratos de repasse. Há empresas que não estão cumprindo os prazos de entrega.
— Você já falou com Marcelo? — Ariela perguntou, seca.
Rebeca hesitou.
— Ainda não. Achei melhor falar com você primeiro.
Mentira, Ariela pensou.
Ela inclinou-se levemente à frente.
— Fale com Marcelo. Se ainda assim o problema continuar, eu levo diretamente ao Liam.
Só o nome dele, dito com naturalidade por Ariela, fez os olhos de Rebeca estreitarem. Ela tentou disfarçar com um sorriso.
— Você está mesmo conquistando espaço por aqui, hein?
— É o que esperam de mim. E o que eu espero de mim mesma.
Rebeca forçou uma risada.
— E com o Liam… tudo bem?
Ariela sustentou o olhar dela, sem piscar.
— Ele ainda não confia em mim. Mas vai confiar.
E, dizendo isso, encerrou a conversa com um movimento elegante ao recolher seus documentos. Rebeca permaneceu imóvel por alguns segundos, encarando a porta fechada.
Ela não apenas estava perdendo o controle… estava sendo ultrapassada.
No fim do expediente, Leonardo a esperava em seu carro importado, estacionado estrategicamente próximo à saída da fundação. Quando Ariela apareceu, ele desceu e se aproximou.
— Podemos conversar?
Ela manteve a postura serena, mesmo com o estômago revirando de nojo.
— Não sei se temos algo novo a dizer um ao outro, Leonardo.
— Eu cometi erros. Mas também te conheço como ninguém.
Ariela o fitou por um longo momento.
— Conhecia a versão antiga de mim. Essa aqui… você ainda vai ter que descobrir. E talvez não goste do que encontrar.
Ele tentou tocar seu braço, mas ela recuou sutilmente.
— Eu ainda te amo — disse, baixo. — Não posso fingir que não.
— E eu não vou mais fingir que isso importa — respondeu, firme. — Boa noite, Leonardo.
Ariela se virou, deixando-o para trás com a mesma frieza com que ele a descartara na vida anterior. Havia uma paz cruel em vê-lo perder o controle.
Na calada da noite, Rebeca ligou para Leonardo.
— Ela está me controlando, Leo. Está jogando melhor do que nós.
— Então jogue melhor — repetiu ele, irritado.
— Você está perdendo ela.
— Ainda não.
Mas ele sabia, no fundo, que estava. Porque Ariela não era mais o alvo fácil de antes.
Ela era outra.
E se ele não tomasse cuidado… seria ele o destruído dessa vez.
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Atualizado até capítulo 33
Comments
bete 💗
seria uma queda bem grande adorando ❤️❤️❤️❤️❤️
2025-06-14
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