Capítulo 5 – Entre Máscaras e Verdades Veladas

Ariela sorriu. Um sorriso ensaiado, controlado.

— Rebeca, que bom te ver.

A outra mulher se aproximou com a leveza de uma gata bem alimentada. Os cabelos ondulados caíam impecáveis sobre os ombros e o batom vermelho destacava o sorriso que, para qualquer um, pareceria caloroso. Para Ariela, era uma lâmina envolta em veludo.

— Você está maravilhosa, Ari — Rebeca disse, com um abraço que durou meio segundo além do necessário. — Sério, você está com um brilho novo.

Brilho novo, repetiu Ariela em pensamento, controlando a vontade de rir.

Sim, havia um novo brilho nela. O brilho de quem voltou do inferno com a alma intacta — e agora usava a própria memória como arma.

Sabia exatamente quem Rebeca era: amante de Leonardo, mentirosa profissional, traidora.

Na vida passada, confiara nela. Abrira seus segredos, suas dores. Rebeca ouvira tudo, enquanto se deitava com o homem que a enganava pelas costas.

Dessa vez, seria diferente.

— Você também está linda, Rebe — respondeu, fingindo admiração. — Aliás, vamos sentar? O café aqui é o melhor da cidade.

Na cafeteria próxima à Fundação Castellani, as duas sentaram lado a lado, rindo e trocando comentários sobre o trabalho. Ariela deixava a conversa correr como um rio calmo — mas cada palavra, cada gesto de Rebeca era observado e registrado em silêncio.

Ela não estava ali para criar laços.

Estava ali para entender os planos de seus inimigos antes que eles os executassem.

— E como está sendo trabalhar com o famoso Liam Castellani? — perguntou Rebeca, com naturalidade falsa demais.

— Intenso — Ariela respondeu, fingindo desviar o olhar com um suspiro. — Mas acredito que ele se importa com o que faz. Por trás daquela fachada gelada, tem alguém real.

Rebeca soltou uma risadinha contida.

— Só cuidado pra não congelar tentando alcançar o coração dele.

Ariela sorriu. Ah, como conhecia essa estratégia. Jogar dúvidas. Plantar medo. Envenenar lentamente.

— Eu gosto de desafios — respondeu, bebendo o café com calma. — E sei exatamente onde estou me metendo.

Rebeca pareceu perder por um instante o brilho no olhar. Mas logo retomou a compostura.

— Bom saber.

Horas depois, Rebeca jogava sua bolsa no sofá do apartamento de Leonardo e tirava os saltos com um suspiro impaciente.

— Ela sabe, Leo.

Leonardo a observava do bar, onde servia uísque em dois copos.

— Como assim?

— Não sei explicar. Mas ela não é mais a mesma. Não caiu no meu teatrinho. Sabe o que está fazendo. Está me vigiando.

Ele entregou o copo a ela, com o cenho franzido.

— Então jogue melhor.

Rebeca o olhou de lado.

— Você acha que ela vai mesmo se apaixonar por Liam?

— Espero que sim — respondeu, secamente. — Quanto mais envolvida ela estiver com ele, mais frágil vai estar quando ele, inevitavelmente, fizer o que sempre faz: manter a distância.

E aí, ela vai lembrar de quem sempre esteve ali.

De mim.

Rebeca riu com desdém.

— Você se superestima.

— Eu a conheço. E agora eu tenho você, por dentro da vida dela.

Ela estreitou os olhos.

— Não me subestime, Leonardo. Eu também tenho meus próprios planos.

Enquanto isso, no quarto amplo da mansão Vidal, Ariela lia os antigos registros contábeis da fundação dos Castellani. Começava a ver padrões, fluxos e nomes que reapareciam com frequência demais. Anotava em silêncio, conectando os fios.

Ela sabia que Liam era parte de algo muito maior.

E que Leonardo não queria apenas o dinheiro dos Vidal — ele queria destruir tudo que Ariela representava.

Mas dessa vez, ela estava preparada.

Se Rebeca pensava que usaria uma máscara para enganá-la, ela usaria uma melhor ainda.

E venceria esse jogo… sem precisar sangrar novamente.

Na manhã seguinte, Ariela chegou mais cedo à Fundação Castellani. O salto de seus sapatos ecoava pelos corredores como um aviso: ela não estava ali para agradar, e sim para conquistar terreno.

Rebeca já estava em sua sala quando ela passou, cercada por planilhas e assistentes. Quando viu Ariela, levantou o olhar com o mesmo sorriso de sempre — aquele que tantos acreditavam ser genuíno.

— Ari! Precisamos conversar sobre o projeto do Instituto Helena. Você pode me dar uns minutos?

Ariela assentiu com elegância.

— Claro. Sala de reuniões em dez?

— Perfeito.

Na privacidade do ambiente envidraçado, Ariela se sentou à cabeceira da mesa, assumindo uma postura impecável. Rebeca jogou sobre a mesa alguns relatórios, tentando demonstrar competência, mas seus olhos estavam atentos demais, como quem busca uma falha.

— Estamos tendo problemas com alguns contratos de repasse. Há empresas que não estão cumprindo os prazos de entrega.

— Você já falou com Marcelo? — Ariela perguntou, seca.

Rebeca hesitou.

— Ainda não. Achei melhor falar com você primeiro.

Mentira, Ariela pensou.

Ela inclinou-se levemente à frente.

— Fale com Marcelo. Se ainda assim o problema continuar, eu levo diretamente ao Liam.

Só o nome dele, dito com naturalidade por Ariela, fez os olhos de Rebeca estreitarem. Ela tentou disfarçar com um sorriso.

— Você está mesmo conquistando espaço por aqui, hein?

— É o que esperam de mim. E o que eu espero de mim mesma.

Rebeca forçou uma risada.

— E com o Liam… tudo bem?

Ariela sustentou o olhar dela, sem piscar.

— Ele ainda não confia em mim. Mas vai confiar.

E, dizendo isso, encerrou a conversa com um movimento elegante ao recolher seus documentos. Rebeca permaneceu imóvel por alguns segundos, encarando a porta fechada.

Ela não apenas estava perdendo o controle… estava sendo ultrapassada.

No fim do expediente, Leonardo a esperava em seu carro importado, estacionado estrategicamente próximo à saída da fundação. Quando Ariela apareceu, ele desceu e se aproximou.

— Podemos conversar?

Ela manteve a postura serena, mesmo com o estômago revirando de nojo.

— Não sei se temos algo novo a dizer um ao outro, Leonardo.

— Eu cometi erros. Mas também te conheço como ninguém.

Ariela o fitou por um longo momento.

— Conhecia a versão antiga de mim. Essa aqui… você ainda vai ter que descobrir. E talvez não goste do que encontrar.

Ele tentou tocar seu braço, mas ela recuou sutilmente.

— Eu ainda te amo — disse, baixo. — Não posso fingir que não.

— E eu não vou mais fingir que isso importa — respondeu, firme. — Boa noite, Leonardo.

Ariela se virou, deixando-o para trás com a mesma frieza com que ele a descartara na vida anterior. Havia uma paz cruel em vê-lo perder o controle.

Na calada da noite, Rebeca ligou para Leonardo.

— Ela está me controlando, Leo. Está jogando melhor do que nós.

— Então jogue melhor — repetiu ele, irritado.

— Você está perdendo ela.

— Ainda não.

Mas ele sabia, no fundo, que estava. Porque Ariela não era mais o alvo fácil de antes.

Ela era outra.

E se ele não tomasse cuidado… seria ele o destruído dessa vez.

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Comments

bete 💗

bete 💗

seria uma queda bem grande adorando ❤️❤️❤️❤️❤️

2025-06-14

1

Ver todos
Capítulos
1 Capítulo 1 – Ao Fim da Última Lágrima
2 Capítulo 2 – A Escolha Que Não Fiz
3 Capítulo 3 – O Peso do Nome, a Força da Escolha
4 Capítulo 4 – Ecos de Uma Alma Incompleta
5 Capítulo 5 – Entre Máscaras e Verdades Veladas
6 Capítulo 6 – Onde Antes Havia Fuga, Agora Haverá Presença
7 Capítulo 7 – As Sombras do Mesmo Recomeço
8 Capítulo 8 – Onde a Razão Grita, Mas o Coração Silencia
9 Capítulo 9 – Onde as Máscaras Caem, e as Cicatrizes Falam
10 Capítulo 10 – Jogando com o Destino
11 Capítulo 11 – Jogada de Mestre
12 Capítulo 12 – Entre Armadilhas e Alianças Improváveis
13 Capítulo 13 – O Jogo Começa a Virar
14 Capítulo 14 – Quando a Máscara Cai
15 Capítulo 15 – A Teia de Rebeca
16 Capítulo 16 – Um Jogo Sem Retorno
17 Capítulo 17 – O Preço da Arrogância
18 Capítulo 18 – Entre Jogadas e Fraturas
19 Capítulo 19 – Promessas Sussurradas e Jogadas Perigosas
20 Capítulo 20 – A Queda de Rebeca
21 Capítulo 21 – Laços de Ouro e Correntes Invisíveis
22 Capítulo 22 – Entre o Desejo e a Traição
23 Capítulo 23 – Primeiros Golpes
24 Capítulo 24 – A Rainha Contra-Ataca
25 Capítulo 25 – O Início da Queda
26 Capítulo 26 – Armadilhas Silenciosas
27 Capítulo 27 – A Primeira Peça Cai
28 Capítulo 28 – Linhas de Ruptura
29 Capítulo 29 – Quando a Guerra Dá Lugar ao Desejo
30 Capítulo 30 – O Último Lance de Rebeca
31 Capítulo 31 – O Jogo Mais Perigoso: Conquistar um Coração Ferido
32 Capítulo 32 – Quebrando as Defesas de um Coração Blindado
33 Capítulo 33 – Entre as Cinzas e o Recomeço
Capítulos

Atualizado até capítulo 33

1
Capítulo 1 – Ao Fim da Última Lágrima
2
Capítulo 2 – A Escolha Que Não Fiz
3
Capítulo 3 – O Peso do Nome, a Força da Escolha
4
Capítulo 4 – Ecos de Uma Alma Incompleta
5
Capítulo 5 – Entre Máscaras e Verdades Veladas
6
Capítulo 6 – Onde Antes Havia Fuga, Agora Haverá Presença
7
Capítulo 7 – As Sombras do Mesmo Recomeço
8
Capítulo 8 – Onde a Razão Grita, Mas o Coração Silencia
9
Capítulo 9 – Onde as Máscaras Caem, e as Cicatrizes Falam
10
Capítulo 10 – Jogando com o Destino
11
Capítulo 11 – Jogada de Mestre
12
Capítulo 12 – Entre Armadilhas e Alianças Improváveis
13
Capítulo 13 – O Jogo Começa a Virar
14
Capítulo 14 – Quando a Máscara Cai
15
Capítulo 15 – A Teia de Rebeca
16
Capítulo 16 – Um Jogo Sem Retorno
17
Capítulo 17 – O Preço da Arrogância
18
Capítulo 18 – Entre Jogadas e Fraturas
19
Capítulo 19 – Promessas Sussurradas e Jogadas Perigosas
20
Capítulo 20 – A Queda de Rebeca
21
Capítulo 21 – Laços de Ouro e Correntes Invisíveis
22
Capítulo 22 – Entre o Desejo e a Traição
23
Capítulo 23 – Primeiros Golpes
24
Capítulo 24 – A Rainha Contra-Ataca
25
Capítulo 25 – O Início da Queda
26
Capítulo 26 – Armadilhas Silenciosas
27
Capítulo 27 – A Primeira Peça Cai
28
Capítulo 28 – Linhas de Ruptura
29
Capítulo 29 – Quando a Guerra Dá Lugar ao Desejo
30
Capítulo 30 – O Último Lance de Rebeca
31
Capítulo 31 – O Jogo Mais Perigoso: Conquistar um Coração Ferido
32
Capítulo 32 – Quebrando as Defesas de um Coração Blindado
33
Capítulo 33 – Entre as Cinzas e o Recomeço

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