Ao estacionar o carro em frente ao hotel, nem olho para trás. Apenas abro a porta para que ele desça e permaneço ali, firme, com a chave nas mãos e o coração aliviado.
Ele desce em silêncio. Não me agradece, como sempre. Apenas caminha com aquele ar de quem carrega o mundo nas costas, ignorando quem está ao lado.
Mas antes de entrar no saguão, ele para. Me observa por um segundo longo demais. Os olhos percorrem meu rosto, meus cabelos soltos pelo vento, meu uniforme de piloto. Pela primeira vez, há algo diferente em seu olhar.
— Descanse, pequena. Segunda-feira a gente se vê. — diz ele, com um tom menos ríspido.
Assinto com a cabeça, sem sorrir, sem dizer nada. Ligo o motor e dou meia-volta, deixando para trás o hotel, o chefe insuportável, e as farpas engolidas por meses.
Enquanto dirijo de volta para minha vila, com o cheiro de sal no ar e a brisa bagunçando ainda mais meu cabelo, penso em tudo que já vivi ali.
E pela primeira vez, uma dúvida sussurra em mim como o mar que nunca dorme:
Mal sabia ele... que a ilha onde achou que viria mandar... era o lugar onde ele finalmente perderia o controle.
O caminho até minha casa é curto, mas meu pensamento vai longe.
Estaciono o carro velho em frente à casa simples de madeira pintada de branco e azul. Ela não tem luxo, mas tem história. Foi aqui que cresci. Onde fui cuidada pelas freiras que me salvaram de um destino incerto. Onde aprendi a ser forte, mesmo pequena. Onde ninguém nunca me chamou de “pequena grande mulher” como se fosse um deboche.
Abro a porta, largo as chaves no gancho, respiro fundo.
O silêncio da casa é meu abrigo. Tiro o uniforme e deixo os pés livres, descalços no assoalho. Na cozinha, coloco água para ferver e me sirvo de um chá de ervas que a irmã Maria me ensinou a preparar. O cheiro me acolhe.
Sento no batente da varanda com a xícara entre as mãos e encaro o mar que começa a se avermelhar no fim da tarde. Pássaros cruzam o céu em bando. As ondas quebram na areia, ritmadas, constantes. Aqui, eu sou só Mel. Não sou funcionária, piloto, mulher provocada ou ignorada.
Sou só eu. E isso deveria bastar.
Mas hoje… não sei explicar. Teve algo naquele olhar dele, antes de entrar no hotel. Como se, por um instante, ele tivesse me enxergado. Não como piloto. Não como mulher pequena que o irrita. Mas como alguém. Um ser humano. Real.
Sacudo a cabeça. Loucura. Ele não muda. Homens como Levi Montenegro não mudam.
Termino o chá, coloco a caneca na pia, prendo o cabelo em um coque bagunçado e sigo para o quarto.
Mas antes de dormir, deixo a janela aberta. Quero ouvir o mar durante a noite. Ele é o único que me entende sem precisar dizer uma palavra.
Fecho os olhos e murmuro para mim mesma, como quem lança um aviso ao destino:
"Não importa o tamanho da maré — eu sempre soube nadar contra ela."
Mal sabia eu… que essa maré estava só começando.
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Atualizado até capítulo 79
Comments
Luzia Ribeiro
como diz meu pai avô e bisa os homens de hoje estão como as mulheres de antigamente tem que tomar muito cuidado na escolha da mulher para casar senão pode levar uma vadia pra casa e ser destruído
2025-07-15
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♥️Luciana♥️
eu estou amando ler esse livro muito bom /Drool//Drool//Drool//Drool//Drool//Rose//Rose//Rose//Rose//Rose//Rose//Rose//Rose//Heart//Heart//Heart//Heart//Heart//Heart//Heart/
2025-07-18
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Dulci Oliveira
pois é
2025-06-13
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